It's raining, raining, raining in my soul.

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As nuvens acinzentadas escondem o sol de uma manhã sem graça. É fim de semana e eu estou de mau humor, o caminho do quarto até o banheiro é lento e do banheiro até a cozinha é arrastado. Meus pais estão juntos na mesa, e é engraçado a forma como eles parecem prolongar o inevitável. As malas de Taehyung estão prontas a semanas, por que ele não foi embora? Sei que eles querem apenas ter a conversa sobre tudo isso. Meu estômago dói em imaginar que pode ser hoje.

— Bom dia, — Diz Jungkook. — sua irmã não acordou?

Balanço a cabeça negativamente.

— Certo, eu vou acordá-la.

Ele se levanta passa por mim. Meu pai Taehyung está com a cabeça enfiada entre folhas de um jornal novinho, e não me dá muita atenção. Eu me sento ao seu lado e me sirvo com um pouco de café, olhos curiosos atentos a cada movimento seu.

Heejin desce as escadas enquanto reclama sem parar. Seus cabelos estão uma bagunça e a camisa virada do avesso. Jungkook, ao seu lado, parece duplamente mais calmo e paciente hoje, embora seu gênio forte o transforme em uma pessoa naturalmente irritada quase todos os dias.

— Papai, eu quero dormir.— A caçula murmura enquanto se joga nos braços de Taehyung, que nem ao menos resmunga quando seu jornal é arremessado ao chão e toda a mesa treme pelo pulo que a garota deu.

Sei que toda essa calmaria vem antes da tempestade, e sei que minha desconfiança é muito mais do uma singela paranóia. Meus olhos ardem quando os vejo compartilhando um olhar rápido antes de virarem-se para nós. É como se Jungkook e Taehyung estivessem armando um complô contra Heejin e eu.

— Eu acho que nós precisamos conversar.

Taehyung começa baixo enquanto acaricia os fios longos e negros da minha irmã mais nova. Ela abre os olhos e infla as bochechas, exatamente como faz sempre que está concentrada em algo. Eu desvio o olhar para as fatias de pêssego em meu prato antes de levar uma delas até minha boca. Jungkook pigarreia e a fruta desce amarga em minha garganta, meus dedos estão suando e me sinto como uma bomba relógio, prestes a explodir.

— Às vezes... Às vezes as pessoas se amam mas não conseguem ficar juntos.— Jungkook inicia de forma serena e hesitante.— Quero dizer, depois de muito tempo estando juntos é normal que algumas pessoas mudem e decidam que não querem mais estar juntas, e... Droga, eu não sei como fazer isso.

Taehyung aperta Heejin mais firmemente e eu me pego observando cada mínima expressão em seu rosto totalmente simétrico. Ele observa Jungkook, os olhos estão levemente semicerrados, como se ele estivesse cansado. Debaixo dos seus olhos existem círculos escuros por tantas noites mal dormidas, mas não é isso que me preocupa, e sim a forma como ele não parece nenhum pouco comovido.

— O que ele quer dizer, crianças, é que nós nos moldamos de formas diferentes ao longo dos anos e não funcionamos mais juntos. Jungkook e eu achamos que talvez seja melhor nos separarmos enquanto ainda exista certa cumplicidade entre nós dois.

Heejin faz uma careta. Taehyung é sempre mais didático e claro em seus argumentos, mas é compreensível que não seja muito fácil para uma criança de sete anos entender o que ele quer dizer com isso. Estou contendo o ímpeto de demonstrar alguma reação exagerada, e sinto o olhar dos meus pais sobre mim.

— O que vai acontecer, papai? — Heejin indaga, ela está sentada no colo de Taehyung, suas mãos acariciando as de Jungkook, que suspira baixinho.

— Nós... Nós vamos nos separar, Hee. Agora, o papai Taehyung e o papai Jungkook não vão morar juntos. Entende? Não é uma coisa ruim, filha.

Oásis. [yeonbin]Onde histórias criam vida. Descubra agora