✥ Parte 3 ✥

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Nenhum de nós foi para a cama de noite. Esperamos atentamente a novela acabar para Papai e Mamãe irem para seus quartos. Assim que a televisão foi desligada me encontrei com os marmanjos e suas Animálias num corredor bem distante dos ouvidos de Papai. Fomos ao porão, que por sorte não precisou ser aberto com uma conjuração. Descemos os milhões de degraus empoeirados nas pontas dos pés, tivemos até que dar uma pausa para tampar o nariz de Biscoito quando percebemos estar prestes a soltar um espirro daqueles.

Pelo visto Vovó tinha uma parte desorganizada que conseguia disfarçar bem. Passamos por um laboratório cheio de tubulações, livros abertos e poções a espera de ser terminadas.  Hopp disse já ter vindo aqui uma vez em uma das férias passadas, provou ser verdade achando o interruptor sem problemas com a escuridão. Como nosso guia, meu irmão nos conduziu para uma sala própria para isso, que segundo ele, ficava bem aos fundos. O caminho nos levou a cruzar uma estante de garrafas de vidro, no qual me chamou atenção. Além do papéis grudados com o nome em latim, a cor do líquido as diferenciava umas das outras. Mas só uma encontrava-se na metade, o resto, parecia nunca ter sido usado. Me concentrei justo naquela, me chamou atenção por ser diferente. Biscoito percebeu que eu tinha parado de segui-los. Reparou o alvo de minha distração quando se preparou para estalar os dedos na lateral de meu rosto. Ele me fez voltar a terra traduzindo o título para mim: "Animalia Humanóide", só podia ser um título dado por Vovó Púrpura. Mesmo não sabendo para o que realmente servia, Biscoito brincou que transformaria sua fuinha em um humano enquanto voltamos atrás de Hopp, que nos mandou ficar quietos.

Chegamos depois de passar por uma passagem de lâmpadas queimadas. Um ambiente grande, mas por tantas bugigangas para rituais, proporcionava um espaço bem pequeno. Enquanto caçava um tabuleiro ouija,  Hopp murmurou que era bom que estivéssemos mesmo cercados das coisas de Vovó, assim atrairíamos seu espírito mais rápido. Meu irmão era despertado quando estava a procura de algo, se não fosse por mim e Biscoito, metade das coisas que empurrou  teriam caído no chão e chamado a atenção de nosso Paí, OU O PIOR, ACORDADO MAMÃE. Por fim tivemos que puxar a grande taboa juntos.  Era maior do que imaginei, chegava a passar da minha cintura.

Uma das coisas lançadas por Hopp chamou atenção de Biscoito, uma garrafa. Ele a abriu e a cheirou. Enunciou então que era água de imunidade, o que fez Hopp arregalar os olhos e  gritar era tudo o que precisávamos! Fomos obrigados a umedecer nossa pele, pelo menos um pouco em cada região do corpo, nem o bumbum de cada um escapou. Segundo ele, Água de imunidade é como água benta, contudo tinha o critério maior em não deixar um corpo ser apossado por um espírito mal feitor, perfeito para nós proteger.

Nos sentamos em círculo com o tabuleiro em nosso colo. Eu e Hopp um frente ao outro enquanto Biscoito ficou na dianteira, em reta a porta.

Biscoito não estava apenas assegurando que o pobre namoradinho não levasse uma coça de um espírito, nos servira de grande suporte. A princípio o plano era que apenas eu e Hopp viéssemos, mas assim como Papai com a audição, Biscoito tinha um estímulo de sensações aguçados com energias, que concentrada, podia nos avisar sobre presenças e até ditar fisionomias.

Hopp ainda estava bravo comigo, era nítido em seu tom de voz.

— Primeiramente, quero deixar claro que estou fazendo isso apenas porque ela também é minha Avó! — Olhou em em meus olhos.

— Hai! — Fingi concordar.

— Bem, trouxe o que eu pedi não é? Vou precisar agora — Ergueu a mão para mim.

— Ha... — Conduzi os olhos para o lado, fazendo o máximo para lembrar o que era. — O que foi que você pediu mesmo?

Hopp respirou fundo.

Hani De MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora