22 - Somos abençoados

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(Quarto e último capítulo do dia)


Alec não se arrependia de ter sugerido passearem no quintal naquele domingo mesmo, muito menos quando Magnus lhe abraçou com força entre uma gargalhada feliz depois de perguntar repetidas vezes se ele tinha certeza.

Bem... Alec tinha certeza absoluta de que queria ter um encontro com seu namorado perfeito fora daquelas paredes, mas por mais que fosse apenas no quintal de sua própria casa, ele não pôde conter um tremor.

Era ridículo de sua parte estar tão nervoso com algo tão simples como caminhar num lugar que sempre brincou quando era criança, quando ainda conseguia enxergar, mas agora que não tinha mais noção de espaço tudo parecia assustador e infinito demais.

- Talvez seja melhor voltarmos pra cama. - Magnus comentou de repente, soando tranquilo e malicioso ao mesmo tempo, porém Alec o conhecia o suficiente para identificar a preocupação, até mesmo culpa disfarçada em sua voz.

- Ficar na cama com você é realmente maravilhoso, Mags. Mas eu disse que nós vamos sair e por isso nós vamos sair.

- Tudo bem, mas você já está parado aqui nessa porta faz uns 15 minutos e eu estou começando a ficar realmente preocupado. Talvez devêssemos esperar mais algumas semanas, ou talvez alguns meses como eu disse quando sugeri...

- Magnus! - Alec o interrompeu com um suspiro. - Eu não vou mentir. A ideia de atravessar essa porta simplesmente me deixa apavorado, mas eu preciso enfrentar os meus medos. Tanto por mim mesmo quanto pelo nosso relacionamento.

- Eu já falei que não me importo de ficar aqui dentro e que nunca me cansaria. Mas ainda acho que você deve pensar um pouco mais sobre isso. Se preparar para dar esse passo. Poxa! Eu vim com essa história de encontro há literalmente 30 minutos atrás. Não precisamos nos apressar.

- Foi justamente pensando sobre isso que eu me tranquei dentro de casa há mais de 3 anos, Magnus. Não quero fazer isso de novo.

- Pelo menos me diga o que você está sentindo agora. O que te deixa tão apavorado? Você não parece ter problemas aqui dentro.

- Eu tive muito tempo pra estudar essa casa, Mags. - Alec falou com a voz suave, mas doía ter aquelas lembranças invadindo sua mente. - Eu decorei cada móvel, cada parede, cada degrau e cada porta. Ainda sim já caí tantas vezes que nem consigo contar. Minha mãe costumava renovar a casa de vez em quando, mudar alguma coisa de lugar, mas simplesmente parou pra que eu não tivesse que aprender tudo de novo e nem acabar me machucando gravemente. Aí eu penso no quintal e só consigo imaginar um labirinto sem fim. Eu não tenho medo de cair, Magnus. Tenho medo de não conseguir voltar.

Alec só percebeu que tinha derramado uma lágrima quando Magnus a limpou com a ponta dos dedos e em seguida roçou o nariz em sua bochecha.

Aquele simples toque era tão reconfortante que Alec se distraiu mais uma vez com a sensação, e só percebeu que tinha avançado alguns passos quando sentiu a grama sob seus pés.

Mesmo de tênis ele conseguia sentir a diferença do piso duro de sua casa para a grama fofinha que sua mãe cuidava com todo o carinho do mundo, e foi inconscientemente que chegou até ali porque seu corpo, e talvez sua alma seguiam o namorado automática e desesperadamente.

- Eu não vou deixar você cair. - Magnus sussurrou contra seus lábios antes de depositar um selinho neles. - Muito menos deixarei que você perca o caminho do seu lar.

Alec quase disse que ele era seu lar agora, mas provavelmente era muito cedo.

Provavelmente Magnus se assustaria ao pensar que estava assumindo um fardo tão grande, mesmo alegando várias vezes que Alec não era fardo nenhum.

Be My Eyes - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora