A little young boy

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Liesel P.O.V

Nesse momento eu observo Theodora caminhar no jardim, sentindo que meu rosto não passa de uma grande carranca do mais puro mau humor que pode existir. 

Ela vem cutucando a minha paciência em cada instante possível, jogando-se para Michael em todas as oportunidades. Sinceramente não me lembrava de que Theo fosse assim, que era inconsequente com certeza, mas arrogante dessa forma? Algo nela me dizia que sempre fora desse jeito, mas aos poucos, mesmo que me envergonhe admitir, estou passando a desgostar cada vez mais dela, o que me faz cogitar que o amor nada vê e tudo perdoa, única explicação plausível para tal comportamento ter se proliferado como ervas-daninhas. 

- Como você está? - Guilherme se senta ao meu lado na pequena mesa que ficava na varanda, eu suspiro levemente incomodada com a presença dele ali, por isso afasto a cadeira alguns centímetros que esperava serem discretos. - Soube do que houve.

- Desculpe, mas o que houve? - franzo o cenho, sentindo as borboletas no estômago me deixarem enjoada. 

- Sobre o seu... bem, não sei como dizer isso sem ofendê-la. - ele pigarreia, sentindo-se envergonhado. 

- Diga. 

As palmas das minhas mãos estão pingando de suor, me obrigando a retorcê-las sobre o tecido de meu casaco.

- A violência.

Olho para os lados, me perguntando se mais alguém ouviu o que ele disse. 

Um sorriso desesperado e falso vai parar em meu rosto na tentativa de fazer com que Guilherme pense que soube das coisas de forma errada.

- Não houve violência alguma, acho que está enganado.

- Eu a ouvi conversar com o rapaz, estava indo ao banheiro e parecia chateada demais para falar em voz baixa. - Guilherme se volta para o horizonte, respirando fundo. - Sinto muito, ninguém deveria passar por algo assim.

Respiro fundo algumas vezes, tentando não perder a cabeça.

- Não pode contar pra ninguém, me ouviu? É o meu segredo, eu não quero que as pessoas saibam do que aconteceu, nem agora e nem nunca. - digo, sentindo que iria lacrimejar em breve, precisava dizer aquilo antes de desabar. - Prometa que vai guardar isso somente para si.

O kaiser apenas faz uma menção, concordando em silêncio com meu pedido.

Theodora pula na varanda depois de alguns segundos, vindo até nós com as mãos na cintura.

- Ficando íntimos? - ela joga uma sobrancelha quase em seu couro cabeludo, como se desdenhasse da pouca atenção que qualquer homem dirige a mim.

- Apenas tendo uma conversa agradável.

A resposta de seu noivo a deixou perceptivelmente enciumada, uma vez que tardou a tagarelar sobre ela mesma sem parar, me dando a deixa necessária para sair dali. Eu me tranquei no quarto e chorei um pouco, me sentindo envergonhada por mais gente do que o necessário saber do que aconteceu comigo, queria tanto simplesmente parar de sentir as coisas, seria mais fácil se fosse assim.

Ao me recuperar, peguei a bolsa e desci, avisando que iria sair. Quando coloquei os pés na calçada ouvi meu nome sendo chamado, de dentro da garagem um rapaz saí, acenando alegre e com um sorriso no rosto, imediatamente fiquei paralisada.

- Quem é você? Não se aproxime de mim. - falo mais alto do que deveria, deixando um tom assustado transparecer.

- Sou Finn, primo do Michael. - eles tinham um ou outro traço semelhante, mas não me recordava de tê-lo visto antes. - Ele pediu para levá-la aonde quisesse, caso precise sair.

Quanto mais ele se aproximava, mais familiar ele parecia. 

Um baque chega quando constato que já havia visto Finn antes.

- Você estava lá também.

- Sim, eu estava. - sua boca se retorceu e seu olhar se desviou por algum tempo, como se revivesse aquele momento de forma intensa. - Só estou aqui para sua segurança, nada mais, eu quis ajudar, ainda quero.

- Só quero ir ao centro, na farmácia.

- Pois bem, vamos nessa então. - ele volta a sorrir, pedindo que esperasse com um dedo.

Um carro é retirado de dentro da garagem e para ao meu lado, Finn empurra a porta para que esta se abra, permitindo que eu entrasse no veículo, ainda que de forma relutante. Ele segue tagarelando por quase todo o caminho, dizendo coisas sobre a cidade, sobre os negócios da família, sobre uma garota que gostava.

Ele não era desagradável, até que ocupava os pensamentos, e eu o ouvia com certa atenção.

- Você não é jovem demais para dirigir? - pergunto, surpresa por não ter notado antes.

- Não preciso disso. - uma risada marota desponta de seus lábios.

- Por qual motivo não precisaria da permissão? - insisto, sentindo que falaria qualquer coisa pela empolgação.

- Ora, nós somos os Peaky Blinders, é a gente que manda aqui. 

Procuro absorver cada segundo dessas informações, tentando decifrar o que elas significam, e acima de tudo...

- Peaky Blinders? 

Finn faz uma cara de quem falou mais do que deveria, desandando a conversa em assuntos aleatórios que nem sequer chegam aos meus ouvidos. Quando o carro finalmente para em frente a farmácia, faço as coisas de forma inconsciente enquanto tento juntar algumas peças do quebra-cabeças.

- Liesel? 

Uma voz familiar me faz virar a cabeça, já no caixa e pagando. 

- Ezio? 

Era o rapaz do café, aquele o qual Michael expulsara, no dia em que tudo aconteceu.

- Coincidência ou destino? - seu sorriso branco desponta em contraste com sua pele bronzeada, aquilo quase o tornaria irresistível em outros contextos. 

- Vai saber. - dou de ombros, agradecendo ao farmacêutico.

- É bom saber que existe um rosto amigo aqui em Small Heath. - novamente ele sorri, dando uma olhadela ao redor. - Se quiser podemos sair, tomar aquele café que nunca conseguimos terminar.

Sorrio de lado, desconfortável pelo convite, mas ainda sim concordando com a cabeça. Ele estende a mão e toca meu braço de forma amigável, fazendo um afago com o dedão.

- Lisie? 

Volto a atenção para a porta da loja, lá estavam Finn e Michael, seguidos por John e um homem de bigode. Os passos de Michael foram duros e rápidos até o meu lado, botando-se de forma protetora e com as mãos em meus ombros.

- Está tudo bem aqui? - o homem de bigode cruza os braços de forma excêntrica, adentrando a loja também.

Vejo o farmacêutico se encolher do outro lado do balcão, sem protestar ou questionar um segundo sobre as atitudes daqueles homens todos.

- Não vejo problema algum. - Ezio sorri, abrindo os braços em sinal de paz.

- Então some. - com o rosto mais próximo do que deveria do de Ezio, o homem de bigode parece exalar raiva. - Aqui é nosso território.

- Até outra hora Lisie. - ele se despede, andando para fora com um sorriso torto estampado.

Só quando não era mais possível ver sua silhueta que saímos dali, eu não tive sequer coragem de pedir o que estava acontecendo, eram muitas presenças masculinas em um lugar só, precisava de um tempo para absorver tudo.

- Vou levar ela pra casa, nós conversamos depois Finn. - Michael fala, lançando um olhar repreensivo ao primo. 

Vamos até o outro lado da rua e, como mágica, percebo que estou sendo praticamente arrastada, seu braço em volta de meus ombros me guiam até um carro. Nós iniciamos o trajeto em silêncio, e finalmente crio coragem para perguntar algo quando já não estamos mais no centro da cidade.

- Michael. - um fio de voz ganha força, louco para falar mais.

- Sim?

- O que foi tudo isso e quem são os Peaky Blinders?

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