Capítulo dois

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 14 de dezembro de 2014

    O café estava frio, pois o detetive não estava dando atenção. Ele apenas conseguia manter os olhos fixos na tv de sua cozinha, atento à cada palavra que saía da boca da repórter.
    Mesmo se passando dois anos, esse assunto ainda era extremamente sensível e tinha um incrível poder de acabar com seu dia em questão de segundos. 

—Hoje completam dois anos do caso Amy e David, casal morto misteriosamente no Independence Park, ambos vítimas de um assassino meticuloso e cruel. — Ela estava sentada atrás de um balcão, segurando alguns papéis enquanto falava. Uma mulher tão jovem e bonita já em um emprego completamente desgastante, pensou o detetive. — O casal estava em um encontro romântico no parque, que é visto como um ponto turístico da cidade para jovens apaixonados, quando foram mortos à tiros por alguém cuja identidade até os dias atuais é desconhecida.

    Patrick ajeitou-se sobre a cadeira, apoiando novamente os cotovelos sobre o balcão de mármore. A partir dessa parte da história, ele considerava o ponto de vista da mídia completamente equivocado, mesmo que não deixe essa percepção alterar sua investigação. Como detetive há vários anos, deve saber que a intuição jamais deve ser levada em conta.

—Pelas informações publicadas quando o caso saiu na mídia, Amy Collins havia saído de casa escondida do pai para se encontrar com David. — Ajeitou os papéis, lendo algumas palavras rapidamente. — Testemunhas contaram que viram o carro do garoto seguindo pela Maine Street, e confirmam que eles realmente estavam a caminho do parque. Outras ligaram imediatamente para a polícia após ouvir os cinco disparos, que chegou alguns minutos depois de receberem a notícia.

    De repente aquelas memórias vieram á tona. Patrick não recebeu o chamado naquela noite justamente por estar de folga, e viu a reportagem na tv do restaurante cujo estava com sua amiga Jackie.
    Amy havia ligado para seu celular, porém havia sido para o seu pessoal. Justamente por isso ele não deu atenção ao toque, e se arrepende amargamente todos os dias desde o ocorrido. Porém assim que soube do ocorrido, despediu-se de Jackie e seguiu imediatamente em direção ao local.

—Após a chegada da polícia, tentaram socorrer o casal, mas para Amy já era tarde demais. A garota havia tomado um tiro nas costas e perdido muito sangue. Seu celular estava ao lado de seu corpo, com o teclado aberto, justamente com o número de seu pai digitado. Aparentemente ela tentou ligar para pedir ajuda, mas não recebeu nenhuma resposta. Por que um pai que se diz tão cuidadoso não atenderia uma ligação de socorro de sua própria filha?

    Patrick batia com os dedos sobre o balcão em um ritmo aleatório, apenas para tentar se manter calmo. Eles simplesmente não perguntaram qual a razão dele não ter atendido à sua filha, apenas lançaram informações sem fundamentos visando conseguir o máximo de atenção do público. Não que o detetive acreditasse que uma desculpa esfarrapada tiraria o peso da culpa de suas costas, pois ele jamais se perdoaria por tal erro.

—David havia tomado um tiro no rosto e chegou a ser socorrido, mas infelizmente morreu à caminho do hospital. Assim, deixando a todos nós sem uma resposta para esse caso. — Ela tinha um olhar meigo, não parecia que dizia aquelas palavras de forma intencional. E ao mesmo tempo que especulava com as mãos, piscava várias vezes, o que deixava indícios de que aquelas palavras para ela eram mentira. —A única coisa que temos é um símbolo desenhado com o sangue de Amy próximo ao corpo da mesma. Seria algo relacionado à religião? Como uma seita satânica ou alguma oferenda? Provavelmente nunca vamos saber.

 Seria algo relacionado à religião? Como uma seita satânica ou alguma oferenda? Provavelmente nunca vamos saber

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    A tv foi desligada antes que a repórter pudesse se despedir. Aquelas palavras martelavam na cabeça de Patrick todos os dias, desde que acordava até a hora de dormir.
    Ver o corpo de sua filha estirado no chão servindo de manequim para que pessoas não autorizadas simplesmente tirassem fotos e postassem em suas redes sociais também tirou seu sono por um longo período de tempo.
   A incompetência dos policias de não isolarem a cena do crime assim que chegaram simplesmente ferrou com tudo, e consequentemente deixou um pai sem respostas sobre a morte de sua única filha.
    Seu celular começou a vibrar dentro de seu bolso, o que o puxou de volta para a realidade. Assim que o pegou, viu que era uma chamada de seu colega de trabalho Luther.
    Tentava adivinhar mentalmente qual seria a notícia dada por ele. Talvez um novo caso que empurraram em suas costas, mesmo sabendo que ele já estava trabalhando em outros. Patrick só poderia descobrir se atendesse, e assim o fez.

— Oi, Luther. — Aproximou imediatamente o celular de sua orelha, levantando-se da cadeira para organizar o balcão enquanto conversava. Já sabia que teria que sair de casa, e quase que de maneira involuntária, começava a arrumar tudo.

—Bom dia Patrick, deram um novo caso pra você.

—Não podia simplesmente me convidar pra tomar um café e ignorar isso? — Aproximou-se da pia com a xícara na mão, despejando todo o líquido escuro dentro da mesma.

— E perder meu emprego?

    Os dois se tornaram amigos um tempo após a morte de Amy, quando Patrick conseguiu voltar a trabalhar. Luther havia se tornado uma das pessoas mais próximas dele, ajudando demais em seu processo de superação. Era um amigo com quem ele poderia contar sempre, tanto para o trabalho quanto para sua vida pessoal.

— Chego aí em uns 10 minutos. Prepare a papelada pra mim. — Patrick ajeitava seu coldre sobre o peito, logo após se aproximando do imã na parede para pegar suas chaves.

    Parou por um momento, observando o outro chaveiro, cujo tinha um enfeite de unicórnio um pouco desgastado. Perdera a cor após tanto tempo guardado como evidência, mas felizmente ele o conseguira de volta. Estava ali como um lembrete, não que o ele precisasse, já que pensava na garota todos os dias.

—Patrick? — A voz do homem saiu do celular uma última vez.

—Sim, estou indo. — Desligou a chamada, logo virando o corpo na direção da porta e seguindo até a mesma.

    Esse seria mais um dia como todos os outros. Não que fossem tão ruins, pois sua carreira havia melhorado bastante com o tempo. Talvez para distrair a cabeça ele começou a se empenhar com o dobro de esforço em todos os casos, resolvendo-os em um menor período de tempo. Aproximou-se da viatura cuja estava estacionada na frente de sua casa, abrindo a porta da mesma e logo adentrou-a.

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⏰ Última atualização: Feb 22, 2020 ⏰

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