11.

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doze de janeiro.

Os dias passam depressa, e dona Aline está cada dia mais famosa. O que resulta em mais trabalhos. Ela quer lançar uma linha de vestidos infantis comigo. Com a nossa assinatura. Isso é um sonho. O casamento é daqui sete dias, e ela quer anunciar a nossa coleção juntas no mesmo dia. Ela só está esperando eu topar. Não sei porque essa dúvida está me batendo tanto.

Minha mãe disse que eu estou só com medo, Bia disse que queria estar no meu lugar, eu sei que é brincadeira. Bia detesta fazer roupas infantis, ela só quer uma oportunidade dessas. Meus médicos dizem que pode ser bom. O apoio que mais me move, é o do Luan.

Nós conversamos todos os dias. E ele diz que eu sou capaz, que eu posso mudar a minha vida. Que eu devo agarrar essa oportunidade.

— Jade, por favor, vai buscar o tecido com meu motorista...

— É pra já.

Dona Aline estava uma pilha de nervos, mesmo depois das férias. E os fornecedores estavam com problemas, o que a deixava mais nervosa. E sobrava pra quem? Isso mesmo, pra Jadezinha aqui. Como não entregavam mais, eu ia buscar...

Fazia excessivas horas extras. Tinham mais pessoas no ateliê. Mas por tempo de trabalho e confiança, dona Aline, sempre me escolhia. Por sorte, ela disse que eu poderia tirar folga na semana que ela viajasse. E ela viajaria daqui dois dias.

Quando voltei ao ateliê, dei de cara com Bruna Santana. Meu Senhor Jesus Cristinho. Eu ia infartar.

— Jade, preciso de você — Dona Aline já foi me puxando pra um canto, enquanto a Bruna disse que ia ao banheiro. — É o seguinte, a Bruna tá bem complicada. Das outras vezes que ela usou meus vestidos, ela só mandou as medidas e o modelo que ela queria, mas agora ela quer algo exclusivo, e eu não sei o que ela quer, nada tá bom. Acho que você pode me ajudar.

— Tá bom. Eu espero pra surtar a hora que ela for embora.

— Surtar? Jade, você fala com o Luan todos os dias e não surta.

— É diferente. O Luan não é mais um ídolo. Agora ele é meu amigo. Diferente da Bruna.

— Aline, vamos começar de novo. — A Bruna veio do banheiro, já falando, e bufando.

— Vamos lá, Jade.

E foi uma tortura. Nada estava bom pra Bruna. Nada. E ela não parecia aquela pessoa simples e simpática que sempre aparecia na Internet. Ela estava insuportável. Eu estava decepcionada. Ela era uma inspiração. Muitos vestidos durante a faculdade desenhei pensando nela usando. E tudo que eu falava ela discordava. Eu não sabia o que aquela menina queria. Eu já estava tão irritada que estava quase mandando ela sair pelada.

Ela foi no banheiro de novo, e eu fui pra cozinha, chorar. Eu estava irritada e decepcionada. Como eu ia contar pro Luan que conheci a irmã dela e ela foi rude daquele jeito? Eu achava melhor nem comentar com ele. Eu estava tomando água para me acalmar quando ouvi a Bruna me chamando.

— Jade, o que você tá fazendo aí?

Eu respirei fundo, e contei até três. No que virei, o Luan estava de um lado dela. E a Aline do outro. Os três com sorrisos travessos no rosto.

Quando o Luan viu meus olhos vermelhos e pequenos, com algumas lágrimas escorrendo ainda, perdeu o sorriso na hora. E correu em minha direção.

— O que foi? O que aconteceu? — Ele perguntava me abraçando. Eu escutava o desespero na voz dele.

A dona Aline veio perto também, e me olhava preocupada, assim como a Bruna. O Luan não fechava a boca, perguntando o que passava na minha cabeça.

— LUAN — Gritei, pra ver se assim ele fechava a matraca. — Posso falar?

— Desculpa, não estou te dando espaço, né? É que...

— Pelo amor de Deus, Pi. Deixa a menina falar. — A Bruna, pela primeira vez parecia simpática naquele dia.

— É só que eu me decepcionei. Só isso. E estou irritada, e frustrada.

— Porquê? O que aconteceu Jade? — O Luan não parava de questionar.

— Acho que não estou pronta pra falar. — Eu disse, olhando pra Bruna.

— Fui eu, né? Foi o jeito que eu te tratei, Jade? — A Bruna perguntou, me olhando, recebendo silêncio em resposta. — Olha, Jade, pode falar a verdade. Você não vai me chatear.

— É. Foi isso. Eu esperava receber uma Bruna Santana diferente.

— Saiba que a culpa é do Luan. — A Aline finalmente disse.

Olhei pra ele, e ele tinha a sombra de um sorriso.

— Me perdoa, Ja. É que eu pedi pra Bruna fingir ser assim. Pra te pegar uma peça, assim como você fez comigo.

— Perai, então você não é essa patricinha mimada insuportável que estava comigo? — Perguntei, olhando pra Bruna.

— Não, eu não sou. Eu nunca trataria alguém assim, ainda mais a menina que fez meu irmão voltar a sonhar.

O Luan olhou feio pra ela. E eu corri pra abraçar. Eu não podia me enganar tanto assim com ela. E comecei a rir. Fazendo assim, todos caírem na gargalhada.

— Coitada, vocês dois nunca mais me façam fazer isso. Eu já estava entrando em desespero. A Jade não merece uma coisa dessas. — Disse dona Aline.

— Mas eu quero um vestido sim, viu, dona Jade. Pode desenhar. Adorei algumas ideias, talvez leve mais de um. Já que o Luan que vai pagar mesmo...

— Oi? Não estou sabendo disso não.

Foi só então que percebi o quão perto ele estava de mim. Senti sua respiração perto do meu cabelo, e suas mãos estavam na minha cintura. Meu coração deu um looping.

— Você acha que vai sair barato enganar a Jade? Está enganado meu irmão. Sem contar que ela achou coisas horríveis de mim. Então me deve muito.

— Tá tá, eu pago.

— Afinal de contas, o que vocês estão fazendo aqui? Vieram só me enganar?

— Não, senhora. — Luan me respondeu, me virando pra ele. E assim deixando nossos olhares bem próximos. — A gente veio te chamar pra sair com a gente. Sei lá, fazer qualquer coisa. Aqui em Londrina, ou pelo Brasil. Estou de folga por dez dias.

— Luan, eu tenho trabalho.

— Não tem não, pode sair de férias dois dias antes. Pode sair agorinha. Volta no dia vinte e três. E aí a senhora faz os vestidos da Bruna. — Dona Aline parecia querer se livrar de mim, credo.

— Então tá ok.

— Ah, só mais uma coisa. Você não me disse se vamos fazer a coleção infantil juntas.

— Ela vai sim, né, Jade.

— Luan Rafael, acho que essa decisão é minha.

— É mas você me disse ontem a noite que ia aceitar.

— É, eu realmente disse. Sim, vamos fazer a coleção juntas.

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