Michael P.O.V
Ela segurava em suas mãos um pequeno pedaço de papel, se viu o meu pequeno show, não comentou sobre, mas me estendeu aquilo que segurava e eu peguei.
Observei com atenção minha foto estampada em uma espécie de cartaz de procurado, os dizeres assassino no canto inferior, meu nome no canto superior. Mesmo que quisesse mentir, era eu, a pessoa da foto não poderia ser outro alguém.
- Eu esperava que você fosse me dizer a verdade, mas você me obrigou a fazer isso. - suas palavras continham um tom que me fez recuar um passo para trás. - Quer me explicar agora?
Deixo os ombros caírem, derrotado por meu próprio jogo.
Me sento de frente à janela, fumando mais um pouco enquanto observo o charuto queimar entre meus dedos.
- Acho que não faz mais diferença, não é mesmo?
- Eu quero saber porquê você mentiu pra mim por tanto tempo. Já faz quase um mês desde que tudo aconteceu.
- Lisie, é complicado. - nunca me importei em ser pego por mentir, de fato eu me repreendia por não ter conseguido enganar direito, só que agora era diferente e eu não queria ter que dizer a verdade. - Não sei se há muita coisa para explicar.
Ela caminha até o meu lado, tocando meu ombro com firmeza, nós dois observando as crianças jogando bola na rua.
Algumas corriam e outras brincavam de amarelinha, já era próximo do cair da noite.
- Isso é verdade, você é um assassino? - eu sei que se disser o que sou, ela irá me deixar, mas mesmo assim não evito mais aquilo, era a hora.
- Sim.
Um bom tempo de silêncio se passa, estou quase convencido de que está criando coragem para correr porta à fora, louca para chamar a polícia e colocar esse animal que sou atrás das grades.
- Eles mereceram?
Aquela pergunta me surpreende. Busco na memória todos aqueles que matei, e para alguém rancoroso como eu, todos eles mereceram.
- Sim.
- Isso basta.
Ergo o olhar e a vejo segurar o pendente em seu pescoço enquanto mirava algo distante dali, mergulhada em seus próprios julgamentos e motivos.
- Basta para quê?
- Não preciso saber nada além disso, já é o suficiente, eu confio em suas decisões.
- Liesel, você se ouviu? - travo o maxilar, incrédulo por sua aceitação. - Eu sou perigoso, matei pessoas, nós somos mafiosos. E sinto que tudo que te aconteceu foi por isso, porquê eu quis você e eles viram essa fraqueza como a oportunidade de me atingir.
- Como assim Michael?
Fico de pé ao seu lado, tocando sua cintura fina e delicada, recordando da última vez em que a despi e fiz amor com ela.
- Eu não prezo por nada nesse mundo que não seja você. Pode parecer loucura, mas eu sei que é culpa minha.
- Você não teve nada haver com aquilo Michael, pare de dizer besteiras! - ela toca meu rosto e franze o cenho, furiosa. - Eu não vou admitir isso.
- Eles eram membros de uma gangue rival, fizeram aquilo pra nos mandar um recado. - dando um passo para trás, como se tivesse levado um tapa, sua cabeça nega enquanto os olhos começam a tentar transbordar. - Quiseram nos avisar de que sabem onde vamos e onde estamos, foi para não nos esquecermos de que sabem nos atingir, você foi só um meio de mandar essa mensagem.
- Eu não tive culpa de nada. Você não pode me dizer isso. - finalmente começa a chorar, amedrontada, ela treme de leve. - Eu não merecia aquilo.
- Lisie... - tento tocar seu braço novamente mas ela o puxa com violência.
- Você sabe como foi?! - se virando, ela agarra os cabelos e ri forçado. - Eles me arrastaram para um beco escuro, me bateram tanto até que eu desmaiei, e eu queria ter morrido porquê teria sido melhor do quê senti-los dentro de mim, uma vez e outra, e depois de novo e de novo...
Estou me sentindo tão mal que poderia me desfazer ali e agora, ouvindo-a falar sobre aquilo, sinto como se estivessem arrancando meu coração para fora do peito.
- Ele me deu um soco e depois botou aquela coisa nojenta na minha boca. Quando eu não aguentava mais, eu nem me mexia, já tinha me sujado toda com meu próprio sangue e necessidades, o outro veio e continuou, quer dizer, que tipo de pessoa doente sente prazer com esse tipo de coisa? - um soluço dolorido escapa de sua garganta e ela a arranha, como se buscasse ar. - E não bastou me deixar em um buraco mal cavado, toda quebrada, um deles ainda mijou em mim, como se não bastasse tudo que já foi feito, ele ainda mijou em mim, porra.
- Por favor. - estendo a mão, sentando novamente na poltrona. - Eu não aguento ouvir isso, não consigo mais.
Escondo o rosto entre as mãos e choro também, recordando de seu corpo sujo de terra e repleto de machucados, o olhar morto e distante.
- Eu não consigo acreditar que me apaixonar por você causou isso. - soluço. - É tudo minha culpa, porra.
Liesel se senta ao meus pés e coloca a cabeça em meu colo, entre meus braços. Choramos juntos.
- Desculpe, eu só não aguentava mais guardar isso pra mim. - ela funga, tocando meu rosto e me forçando a olhá-la. - Não foi culpa nossa, foi deles por serem pessoas ruins.
- Vou resolver as coisas Lisie, eu prometo que vou achá-los. Eles vão pagar por tudo que fizeram, isso não vai ficar assim. - juro, não conseguindo encará-la.
Sua cabeça balança em negativo, me deixando aflito.
- Michael, acho que eu quero esquecer isso. - sua expressão parece dolorida, porém surpreendentemente decidida. - Não sei se estou disposta a continuar sofrendo por uma coisa que não pode ser mudada, e cá entre nós tem algo que eu escondi de você.
Meu coração dispara e sinto as mãos ficarem suadas, mil coisas se passam por minha cabeça.
- Acho que vou ter um bebê.
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All For Her ✔️
RomansaVocê acredita em amor de outras vidas? Ela se pergunta isso depois de sofrer a maior das atrocidades, ele tenta fingir ser o que não é. A violência resolve tudo. Era isso que Michael Gray pensava até conhecer Liesel, ele nunca quisera ser o bom moço...