"Eu não vim chamar justos, mas pecadores, ao arrependimento." (Lucas 5:32)
Um texto interpretado fora do contexto pode estar sob o risco de ser explicado até mesmo indo contra todo o conteúdo da verdade na revelação bíblica.
Este é um daqueles que devem ser interpretados à luz de outras passagens das Escrituras, e no seu próprio contexto imediato, para que possamos entender o real significado destas palavras proferidas por Jesus.
Deus jamais estaria contra os justos e não os desencorajaria de vir a Ele, e assim, Jesus, sendo Deus, também jamais teria uma palavra negativa para ser dirigida aos que são verdadeiramente justos.
Por outro lado, não deve ser entendido, pelo que a leitura isolada do texto poderia dar a entender, que há da parte de Deus pelos que são pecadores, e que deliberadamente permanecem na prática do pecado, e a ele escravizados.
Então, a leitura deve ser a seguinte: Jesus não veio a este mundo para aqueles que se consideram justos a seus próprios olhos, confiando na justiça própria deles, porque na verdade, não há quem possua de si mesmo qualquer tipo de justiça que possa satisfazer à justiça de Deus. Este era o caso dos escribas e fariseus a quem estas palavras foram dirigidas na ocasião do seu proferimento, uma vez que recusavam de forma veemente reconhecer e aceitar que necessitavam da justiça de Jesus para serem justificados diante de Deus, pois julgavam-se santos e justos o suficiente para serem participantes do reino de Deus, sem a necessidade de terem a culpa de seus pecados expiada e perdoada por Jesus. Mas, para aqueles que são convencidos pelo Espírito Santo de que são pecadores perdidos e destinados à condenação eterna, e que buscam, pelo arrependimento e pela fé em Cristo, alcançar o perdão de Deus e a reconciliação com Ele, para serem regenerados e viverem em santidade de vida, estes, e somente eles, são o objeto e a razão de Jesus ter vindo a este mundo, para morrer no lugar deles, para serem purificados de seus pecados, por meio da Sua morte e ressurreição. Estes que creem são aqueles que são agora verdadeiramente justos aos olhos de Deus, porque Ele prometeu que o justo viveria por meio da Sua fé em Jesus. É destes que o Senhor se agrada e abençoa com toda sorte de bênçãos espirituais para que cresçam na graça e no conhecimento de Jesus, para que cheguem à maturidade da semelhança com Ele e entraram na posse da herança eterna que lhes está prometida.
Quanto aos pecadores que não se arrependem e que não se voltam para Cristo, estes já estão condenados por causa da incredulidade deles, e se morrerem nesta condição nada mais lhes resta senão um sofrimento eterno para o qual jamais haverá qualquer possibilidade de cura.
Se o pecado não fosse tão ofensivo para Deus, Ele poderia ter passado por alto a transgressão de Adão e não impor qualquer penalização ou maldição como fizera em razão disso, e não somente sobre ele, como sobre toda a sua descendência. Não haveria tantas ameaças em toda a Palavra de Deus dirigida aos pecadores. Não teríamos tantos sacrifícios de animais no período de cerca de 1.500 anos em que vigorou a Lei da Antiga Aliança no Velho Testamento, para que os pecados dos israelitas fossem cobertos, pois sem eles, e sem um caminhar em justiça não poderiam permanecer na Aliança que fora feita com eles, de modo que foram submetidos à expulsão da terra que lhes fora dada por promessa, em 722 a.C, em 586 a.C. e em 70 d.C., sendo que esta última diáspora durou até recentemente, ou seja até meados do século XX. O que aprendemos de tudo isto senão que Deus odeia o pecado, e consequentemente odeia a todos aqueles que permanecerem deliberadamente no pecado, resistindo à Sua vontade, e negando-se a se arrepender e a se sujeitar a Cristo?
Todavia, pela Sua grande longanimidade, misericórdia, bondade, amor, paciência, Ele tem suportado sobretudo nesta dispensação da graça, por longo tempo, a grandes e notórios pecadores, sem que no entanto que isto signifique que aprove ou consinta com o mau procedimento deles. O contrário, até de uma palavra ociosa terão que prestar contas no dia do juízo, e maiores sofrimentos estão reservados para aqueles a quem muito foi fado neste mundo, pois maior é a responsabilidade deles diante do Senhor.
Agora, tudo o que diz respeito a este assunto foi decidido e resolvido no coração de Deus antes dos tempos eternos, no plano que fez de se prover de filhos santos e amados a partir de pecadores, para o conhecimento e testemunho do Seu amor, bondade, perdão, longanimidade, misericórdia, paciência e graça. Todos os que estiverem participando da vida em glória no céu saberão que ali estão pela exclusiva graça de Jesus, e que tudo devem a ele, pois sem ele não teriam santidade e nem vida. Nisto Deus é glorificado na demonstração do seu grande poder para santificar aqueles que nele confiam e o amam.
Portanto, o fato de o próprio crente ter sido livrado da condenação eterna, em razão do sacrifício de Jesus em seu favor, não o isenta de um caminhar em santidade e justiça diante do Senhor, não sendo negligente com a questão da mortificação de todo pecado, seja grande ou pequeno. Aos que choram por causa do pecado, e os confessam, deixam, e se arrependem, voltando-se para buscar comunhão com o Senhor, Deus os considerará como justos e de coração puro em razão de estarem vivendo sob a cobertura do sangue de Jesus. Eles poderão ser corrigidos, repreendidos e disciplinados pelo Senhor, porque ele age como Pai em relação a todos aqueles que ama e que se tornaram seus filhos por meio da fé em Jesus. Mas Ele jamais os lançará fora conforme a promessa que nos fez através da Nova Aliança feita com Jesus, e que entrou em vigor com o derramamento do Seu sangue no Calvário.
Assim, devemos andar com temor e tremor, em santo procedimento durante todo o tempo da nossa peregrinação neste mundo, pois foi para este propósito mesmo que Jesus se ofereceu como sacrifício por nós.
Somente aqueles que reconhecem que de si mesmos, em sua condição natural terrena, encontram-se caídos, são os únicos que podem ser elevados por Deus. É pela humildade neste reconhecimento que se pode chegar à salvação porque Deus resiste aos soberbos e somente concede a sua graça salvadora aos que se humilham diante dele reconhecendo que são pecadores, arrependendo-se desta condição, e indo a Cristo para serem redimidos e convertidos das trevas para a luz, do domínio de Satanás para o de Deus, e para receber herança entre os que são santificados pela fé em Jesus (Atos 26.18).
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A Queda e a Elevação
SpiritualExposição do tema a partir do seguinte texto bíblico: "Eu não vim chamar justos, mas pecadores, ao arrependimento." (Lucas 5:32)