A Dream

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Pov Laura

Quando eu tinha 6 anos, fui ao meu primeiro casamento. Eu não sabia o que aconteceria até ver todos os passos da cerimônia se desenrolando diante dos meus olhos, e simplesmente me apaixonei.
O casamento na vida real era bem diferente do que eu via nos filmes.

Uma música que fez o meu pequeno coração tremer começou a tocar em algum lugar acima da minha cabeça, e uma moça vestida de branco entrou na igreja a passos lentos, de braços dados com um senhor emocionado. Ela segurava um buquê de flores amarelas e, por um momento, a única coisa que desejei foi encostar o meu rosto nas pétalas para sentir o seu perfume; mas algo chamou a minha atenção e olhei para onde ninguém, absolutamente ninguém, olhava, nem mesmo a moça de branco. Eu olhei para o rapaz parado ao lado do padre.

Ele era lindo!

O rapaz esfregava as mãos uma na outra, apreensivo, parecia que travava uma luta consigo mesmo para não sair do lugar.
Mas assim que seus olhos encontraram a moça de branco no final do corredor eles marejaram, e sua postura relaxou. Sem que ninguém notasse, ele usou o dedo indicador para enxugar uma lágrima que teimou em escapar e estava quase escorrendo por seus por seus olhos. Mas ele não precisava ter se dado o trabalho, pois ninguém prestava atenção à sua emoção.

Ninguém exceto eu.

Quando a moça de branco chegou á metade do caminho que os separava e finalmente o olhou, ele sorriu. Eu não sei como, mas tive certeza de que aquele era o maior e mais bonito sorriso que ele abriu em sua vida. Ele, o rapaz, me fez entender tudo. Ele a amava, e eu queria exatamente a mesma coisa para minha vida um dia.

Desde então, criei o hábito de sempre olhar para o noivo no grande dia. Desde muito nova tive certeza de que era aquele sentimento que queria para mim: a felicidade de encontrar alguém que se emocionasse quando me visse, que desejasse estar ao meu lado tanto quanto eu desejava estar ao lado dele, uma promessa de um amor para a vida inteira, uma caminhada pelo tapete vermelho. Mas, por muitos anos de infância, não passou pela minha cabeça que nem todas as moças encontram alguém.

Eu era apenas uma criancinha ingênua.

Já deu para notar que me tornaria o tipo de mulher capaz de cortar a própria perna por uma aliança, certo? Mas minha fixação pelo amor verdadeiro foi muito além disso. Talvez eu até cortasse as duas pernas antes de tudo acontecer, antes.

Antes do meu coração ser partido em mil pedaços, antes de perceber que talvez alguns tipos de desilusões não valiam a pena por amor, antes de pensar que talvez o amor simplesmente nem existisse!

Hoje vejo que é um grande erro criar nossas crianças para acreditarem no amor verdadeiro. A Disney deveria se envergonhar de vender a pobres almas ingênuas sonhos que não se concretizam na vida real. Hoje mataria com as minhas próprias mãos a Cinderela se tivesse a chance de encontrá-la passeando de abóbora; seguraria a cabeça da Ariel fora da água até ela sufocar e riria até me dobrar se a Fera devorasse a Bela. Todos aqueles contos de fadas entorpeceram minha mente e me fizeram crer que um dia, quando eu virasse a esquina, daria de cara com um príncipe montado em um cavalo branco. Se tivesse sorte, o cavalo teria asas e o cara me levaria para morar em seu castelo. Como hoje eu sei que as coisas mais inesperadas acontecem comigo, só posso rezar para não ser sequestrada e ser feita de refém por algum maluco que queira uma empregada doméstica a baixo custo.

Mas a culpa não é toda do senhor Walt Disney, não é mesmo? Eu também mataria aquele cara de smoking no altar se tivesse a chance, o cara que me iludiu no primeiro casamento a que assisti.

Até a minha avó é culpada por minha total desolação. Desde pequena ela sempre repetiu a mesma fala quando eu começava a ladainha sobre o garoto ou garota perfeita: "Querida, o cavalo branco só passa uma vez na vida, se você deixá-lo escapar não terá outra chance". Pois é, vovó, eu levei um coice. MUITO OBRIGADA!

E também tem a garota dos cabelos ruivos... Ela foi a maior culpada por tudo ter dado tão errado na minha vida. E também por ter dado tão certo.

Mas vamos voltar ao início. Aproveite, eu ainda estava feliz nessa época, bem no comecinho, porque depois você vai rolar ladeira abaixo, bem ao meu lado.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora