Pai de primeira viagem - I

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Nathalie ainda estava sentada no mesmo lugar, entupindo suas torradas com geleia e saboreando cada pedacinho. Em volta dela, apenas o caos:

— Mãe, não pode deixar meu pai ir viajar sozinho! Vai com ele! — Adrien suplicava de um lado.

— Mãe, mamãezinha linda, te proíbo de sair com esse Agreste para uma viagem! — Félix, enciumado, reclamava do outro.

— Pode me falar o que você tem sentido ultimamente? Acho que eu devo ter pego... ou catapora — Gorila tentava imaginar qual seria a melhor forma de ficar doente em menos de quinze minutos. Infelizmente, não haviam muitos tutoriais sobre isso na internet.

— Fala pra ele me levar! — mais uma vez, o Agreste mais novo suplicou.

— Isso! Ele leva o Adrien e você fica! — Félix empurrou o "irmão" mais novo para ele ir.

— Sarampo? Sarampo parece mais sério? — Gorila murmurou ao fundo.

A mulher terminou de se entupir com as guloseimas, respirou fundo e se levantou. A essa altura, os outros três a encaravam com curiosidade.

— Gorila, quero que você prepare o porta-malas e espere com o carro na entrada. — Com as exigências, o guarda-costas saiu do salão um tanto emburrado — Adrien, vá ajudar seu pai a aprontar as malas dele. Certifique-se de que ele não esqueça nada importante — ela pediu encarando o mais novo.

— Sim, mamãe... — o rapaz murmurou triste. Só de pensar no pai fazendo uma viagem "sozinho" já conseguia imaginar os noticiários alertando sobre o desaparecimento do grande estilista Gabriel Agreste enquanto buscava inspiração próximo à crocodilos ou algo pior...

— Isso! — Félix comemorou, abraçando a mãe. Diferente dos outros dois, ele ficou extremamente feliz com tudo aquilo: sem Gorila e sem Gabriel, ele só precisava se livrar de mais uma pessoa para ter toda a atenção do mundo — Sabia que você não iria me abandonar aqui sozinho, mamãe!

Ela apenas sorriu e segurou as bochechas do filho mais velho, fazendo-o olhar para ela antes de responder:

— Vou acompanhar eles até o aeroporto, esperar até que o senhor Agreste fique incomodado o suficiente com a aglomeração de pessoas para desistir dessa ideia idiota e, depois, voltar.

Félix ficou mudo e pálido, encarando-a quase em pânico. Ele conhecia aquilo de longa data: "vou, mas volto logo..."; só que ela nunca voltava logo!

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Antes de ir aprontar o carro, Gorila foi fazer as próprias malas – lê-se: arrumar uma muda do uniforme e se despedir de todas as miniaturas de veículos que tinha. Ele não sabia ao certo para onde iria, como chegaria até lá e, principalmente, se conseguiria resistir a vontade de se livrar de Gabriel jogando ele para fora do avião.

Com cuidado, o guarda-costas dobrou um de seus uniformes e colocou em uma maleta prata de cantoneiras pretas. Veio de brinde com uma de suas miniaturas da coleção "Luxo sobre Rodas".

Ele notou que vestido com aquele terno cinza, emburrado e com a maleta, parecia um mafioso pronto para fazer um intercâmbio entre joias roubadas e pó de café. Talvez a salvação dele estivesse aí: se passar por um mafioso descaradamente, a fim de ser preso no aeroporto e não precisar viajar.

Caso não desse certo, seria uma boa experiência para anotar no caderninho como um mafioso se sente em um aeroporto internacional.

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Adrien estava parado em frente à porta do quarto do pai.

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