Parte 1 - Ela - O começo de tudo

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Era para ser um pequeno conto, mas a pedido dos leitores, a história terá continuação.

Ela

          Cubro minha cabeça com o casaco jeans e corro enquanto a chuva vai apertando, mas não adianta, acabo perdendo o ônibus. “Droga!” Tento pensar de forma positiva, afinal, a fila para o próximo não está tão grande, só tem seis pessoas na minha frente. Não só irei sentada como ficarei na janela. É claro que ir em pé num ônibus lotado se torna uma opção incrível quando você está tomando um banho de chuva, daqueles em que a sua roupa fica grudada, o tênis faz um barulho estranho e suas meias perecem toalhas encharcadas. Levando em consideração o péssimo dia que tive, não tem como piorar.

- Cuidado!

- Não! Eu não mereço isso!

        Agora sim estou completamente ensopada, só que de água suja. Um carro idiota passou na beirada de uma poça. Supostamente essa água deveria escorrer até um bueiro que não deveria estar entupido. Para piorar, estou de blusa branca, o que seria até charmoso, se não estivesse parecendo vômito com graxa. Tento me limpar, mas acho que só estou piorando. Olho para trás e vejo que a fila triplicou. Tem uma senhora com cinco crianças muito parecidas, que estão berrando pela pipoca prometida.

- O pipoqueiro não está aqui, está chovendo muito, vocês não estão vendo? Eu vou comprar quando ele aparecer!

- Você prometeu!

- Mãe, eu quero, eu quero mãe, você prometeu, eu quero pipoca, eu quero, mãe, mãe, mamãe.

         Sempre que eu acho que a minha vida é um caos encontro uma pessoa com uma vida pior e penso no quão sortuda que eu sou.

- Pode entrar! – Diz a trocadora.

         Foram as palavras mais bonitas que eu ouvi hoje. Enquanto entro no ônibus, pego meu cartão totalmente distraída. Um menino passa correndo e puxa a minha bolsa, arrebentando uma das alças, mas o rapaz que estava atrás de mim consegue segurá-la com força e mantê-la no meu ombro.

- Obrigada.

- Tranquilo.

         Ele me responde, assustado com a minha aparência, e fica me olhando de cima a baixo. Estou parecendo uma mendiga, completamente suja e com o cabelo desgrenhado. O pior de tudo é que ele é bem bonito, olhos castanhos, cabelo castanho bem curto, casaco preto de couro, bem protegido debaixo daqueles guarda-chuvas que mais parecem uma barraca. Puxa vida, quando estou toda bonita e arrumada só aparece gente chata e desinteressante, mas quando estou acabada, me aparece um ser desses. Passo o cartão na máquina e ela simplesmente não lê! Tento de novo, mais uma vez, outra vez, e as pessoas começam a me xingar e pedir para que eu ande logo. Não posso acreditar.

- Pode deixar que eu pago - ele oferece, rindo da minha cara.

- Não chegaram a me roubar, eu tenho dinheiro, mas muito obrigada.

         Pego uma nota de dez reais e entrego à trocadora.

- Não tem menor?

- Não.

- Tem certeza?

- Eu tenho, desculpe.

- Não tenho troco. Vai descer aonde?

- Caramba, você vai demorar muito aí? Tem gente na fila querendo entrar! - Diz um senhor.

- Vou descer no ponto final.

- Então até lá eu te entrego.

         Isso sempre acontece. Eu é que não vou pegar no meio do caminho, quando o ônibus estiver lotado, porque vou perder meu lugar e não quero ir em pé.

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⏰ Última atualização: Jan 03, 2015 ⏰

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