Mensagens de casa

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Desesperadas, as garotas levaram Sylvia da caverna, diretamente para fora da floresta. Com olhos estáticos e vazios, sem pulso e ficando cada vez mais pálida e gelada, a gatinha morreu antes mesmo de sair do ninho dos escorpiões. Porém, suas colegas eram incapazes de aceitar o destino e correram o mais rápido que puderam, derrubando árvores, criando pontes sobre precipícios e ignorando a competição. Entretanto, a caverna estava selada até o fim da competição, acabando com as esperanças do grupo. As cinco alunas permaneceram ao redor de seu corpo, tentando digerir o ocorrido. Sophia chorava sem parar, de joelhos, com os olhos ainda doloridos pelo uso excessivo de sua magia de petrificação. Karolina não tinha reação, apenas olhava o cadáver de sua amiga, tentando se lembrar dos momentos que passaram juntas. Hotaru abraçava Ewa, tentando se manter sólida. A mais nova chorava baixinho, com seu rosto pressionado contra o peito da raposa. Enquanto isso, a humana segurava sua mão com força, pois queria ajudá-la a sustentar o peso de ser uma veterana em tal situação desagradável.

A competição seguiu normal, tendo Verz como a primeira colocada a terminar a prova. Assim que ela colocou seus ingredientes no caldeirão, notou a comoção e se aproximou, confusa. Ficou boquiaberta e perdeu o equilíbrio por um instante. Recuperou a compostura pouco antes de cair de joelhos e levou as mãos à cabeça, se afastando sob o olhar de ódio de Sophia e Karolina. O grupo de Ellie foi o próximo, seguido pelo de Laura e de Nina. A alegria dos primeiros grupos durou pouco, pois logo todas ficaram cientes da morte de Sylvia. Lágrimas e gritos de raiva se espalharam pela caverna. Verz sentou-se apoiada no caldeirão e deixou seu corpo escorregar, abraçando seus joelhos, com o olhar ainda mais distante. Sem tempo suficiente para aceitar o desfecho trágico da prova, Oraculum desceu do teto, pomposo e energético como sempre.

- Muuuuito bem minhas bruxinhas queridas! Estou muito satisfeito com o resultado de hoje!

- Satisfeito?! - vociferou Sophia, furiosa. - A Sylvia está morta, seu desgraçado! Qual é o seu problema?

- Ora, ora, ora, mas não seja tão pessimista! - exclamou o Oraculum. - Temos que ver o copo meio cheio! Várias de vocês poderiam ter morrido, então um é um número baixo para pagar. Em situações fora da escola, é comum bruxinhas morrerem em combate. faz parte da vida!

O silêncio reinou. Mesmo dominadas pela raiva e pela frustração, todas perceberam que era inútil discutir com o artefato. Oraculum parecia se divertir com as reações das alunas e as provocava, mesmo em uma situação tão séria quanto a morte de uma das competidoras. Sem ânimo para continuar com a briga ou sequer olhar para a figura sorridente e flutuante, todos os grupos deixaram a caverna. Oraculum praticamente ficou falando sozinho, mas pouco se importou e gargalhou enquanto a equipe médica de Três Luas corria para recolher o cadáver da gatinha. Charlotte, Hotaru e Ewa foram direto para o quarto, sentando em suas camas em silêncio. A pequena elfa estava em choque, com os olhos arregalados, olhando para um ponto fixo. Hotaru a abraçou e acariciou seus cabelos, beijando o topo de sua cabeça como se tudo fosse ficar bem. Sem lágrimas, Ewa apenas fechou os olhos, respirando profundamente. Charlotte abraçou as duas e se retirou do quarto, indo até o refeitório buscar comida. O trio não se falou muito o restante da noite, não havia muito o que dizer. Comeram ali mesmo e dormiram cedo, torcendo para que tudo não se passasse de um pesadelo.

Infelizmente, o dia seguinte chegou e a ficha caiu. Tudo o que presenciaram no dia anterior era verdade e céu estava coberto por nuvens, barrando a luz solar em luto pela alma da pequena e ingênua caloura. Charlotte foi a primeira a acordar, mal conseguiu dormir e o cansaço dominava seu corpo. Escorregou para fora da cama, sentando-se no chão e avistando os rostos adormecidos de Ewa e Hotaru. Sorriu, aliviada por ambas estarem bem apesar dos pesares e se levantou. Foi até a cama da raposa e acariciou seu rosto, beijando sua bochecha. A veterana acordou, relutante para abrir os olhos e se virou, com o ombro dolorido. Iluminou-se ao se deparar com Charlotte, esquecendo a preguiça e envolvendo-a com seus braços, puxando o rosto da humana para perto do seu, encostando suas testas. Com um beijo, ambas se apertaram, buscando conforto e forças uma na outra. Sabiam que Ewa era nova e inexperiente demais para lidar com o ocorrido e que precisariam de sabedoria e determinação para levar a competição adiante. Prometeram em sussurros que protegeriam a pequena elfa.

Três Luas - Academia de BruxariaOnde histórias criam vida. Descubra agora