Se tu amares profundamente, não suportarás a dor da perda.

7 1 0
                                    

Os dedinhos de Hayoung desfilavam pelo fino lençol azul, indo de encontro com os de Minjung, que parecia nem se importar mais com a agulha entrando em seu braço, a mão gelada da Hayoung causou um choque de temperatura com a mãozinha quente da outra, ali seus dedos se entrelaçaram.

A enfermeira logo terminou de ajustar o soro, as gotas que pingavam eram vigiadas pelos olhos de Hayoung, desviaram-se percorrendo um caminho rápido pela destra de Minjung, o braço era repleto de marcas roxas e esverdeadas das agulhas que estiveram ali naquela semana.

As mãos se soltaram, os dedos ainda frios se dirigiram para o cabelo fino e curto da outra, Hayoung notou que eles estavam sem vida e pelo menos um punhado de fios caíram desde a última vez que se viram, ao menos Minjung sempre esteve pálida daquele jeito, ela parecia um ursinho enquanto encarava a outra que tirava sua jaqueta preta e lançava para a poltrona que estava ali perto.

O corpo se esgueirou na maca – elas não se encaixavam perfeitamente de início, mas uma remexida e o braço de Hayoung dava uma volta perfeita nos ombros de Minjung, ali ficam aconchegadas com o som da chuva e o volume baixo da TV que sempre mantiveram ligada.

Aquelas mãos frias sempre estavam repletas de band-aids coloridos, eram azuis, rosas e amarelos porque era Minjung que lhe dava os curativos coloridos, eles sempre fazem contraste com suas roupas escuras e o cabelo preto, estavam lá pra tentar cobrir os calos e machucadas causados pelas horas que passava batendo nas teclas do piano e na carpintaria de seu pai – ocasionalmente sempre entalhando algo novo para a namorada.

Minjung roçava os lábios esbranquiçados na mão e nos curativos da outra, suas mãos se entrelaçaram novamente mesmo numa posição um tanto desconfortável, permaneceram assim.

Havia um vazio no olhar de Hayoung naquele dia, Minjung concluiu que aqueles olhos haviam chorado novamente, as orbes que rotineiramente a encaravam com ternura sua tez opaca, desta vez estavam desviadas desinteressadamente assistindo o programa na TV. Também se manteve mais em silêncio que normalmente, o que fazia as tosses ásperas que fugiam direto dos pulmões fragilizados de Minjung machucarem ainda mais junto da angústia que Hayoung trouxe naquele dia.

Notou as mãos da mais velha cavando o bolso da calça jeans, tirou de lá um pequeno entalhe em madeira, no formato de um urso. O chaveirinho reluzia nos olhos de Minjung, que mesmo com poucas forças, sorriu o mais grande que pôde.

O sorriso virou um biquinho e ao mesmo tempo se encararam, um beijinho tênue estalou nos lábios das duas, Hayoung sorriu de leve e Minjung voltou e admirou a madeira delicadamente com a ponta dos dedos — Ficou lindo, você está ficando cada dia mais detalhista — encarou os dedos e os curativos coloridos — Agora entendo porque de tantos curativos.

— Como você está hoje? — As palavras saíram devagar, a destra que estava em volta do pescoço de Minjung agora acariciava delicadamente seus fios de cabelo despenteados. Era rotineiramente a mesma pergunta que fazia, mesmo sabendo que uma pessoa presa à agulhas e remédios não está nas melhores condições.

— Noite passada eu acho que vomitei azul — Minjung disse tentando aguentar a dor que sentia nos pulmões ao rir da cara de desgosto que a mais velha fez, ela tentava segurar a gargalhada, qualquer respirada brusca e seu pulmão frágil ameaçava explodir dentro de seu tórax.

— Ei, vai com calma mocinha. — Tentou massagear as costas da namorada, pode notar o relevo dos ossos ainda mais expostos.

— Eu to bem, mas infelizmente o mundo terá que viver sem mim nos ramos da comédia, não há muitos humoristas com um pulmão e meio.


Minjung havia adquirido um arsenal de piadas sobre hospitais e pneumonia desde os últimos sete meses, ela deixou de fazer piadas mórbidas sobre a morte quando pegou Hayoung tentado falhamente esconder algumas lágrimas. De certo modo ela ficava triste por não poder fazer sua namorada rir novamente.

Please Don't Take My Sunshine AwayWhere stories live. Discover now