"Ding dong". "Ding dooong". Espero uns segundo e a voz dela ecoando pela casa vem em uma torrente energética: "Já estou indo!". Aguardo uns instantes e aperto a campainha novamente: "ding dong", "ding dong". Só para irritá-la. E deu certo. Ela abriu a porta reclamando por eu ter apertado a campainha novamente. Soltei um sorriso maroto e coloquei a culpa nela por ter me feito esperar, o que fez ela ficar mais irritada ainda. No meio dos resmungos dela, roubei um beijo demorado.
- Que tal parar de reclamar e abrir o presente? - logo após me afastar e estendo uma das mãos com o presente.- Chato. - abrindo o presente, ela ficou feliz demais e emocionada - Meu deus.
- Feliz Dia dos Namorados! - dei um novo beijo. - Deixa eu colocar em você.
- Como você conseguiu? - quase chorando.
- Tua mãe me ajudou com a foto.
- Eu amei! Obrigada mor. - ela ficou absorta naquele colar de prata feita a mão por um amigo artesão, o pingente em forma de coração com uma foto da avó dela. Ela tinha falecido no mês passado e Andreia era a neta mais apegada e próxima, mas por algum motivo ela não tinha nenhuma memória delas juntas.
Eu estava nervoso, por alguma razão e não entendia o porquê. Tentando agir de modo mais tranquilo que conseguia, entrei e fui direto para a sala. A sala dela era enorme. Uma televisão de cinquenta polegadas - que acho que os pais dela compraram aquele aparelho só para ostentar pois nem paravam em casa e muito menos assistiam algo nela - um sofá lindo, pequeno e desconfortável, uma estante cheia de livros - os quais também acho que eram apenas para ostentação pois já ouvi eles reclamarem de Andreia por ler demais com uma certa repulsa - um aparelho de som e um bar no canto. Me sentia totalmente deslocado ali, naquela casa imensa. Hoje estava diferente, talvez porque os mais dela não estavam ali para me lançarem olhares de reprovação. Afinal sempre deixaram claro que não faziam gosto desse namoro.
Perguntei para ela se podia arrumar a sala para nós assistirmos filme e claramente se empolgou. Enquanto ela tomava um banho pois havia chegado uns minutos antes de mim. E comecei os preparativos. Liguei para o restaurante favorito dela e pedi tudo que ela mais gostava lá, como ela adorava quase tudo lá, pedi pequenas porções de cada. Ainda bem que economizei, pensei e ri internamente. Após isso, fui ligando as coisas na sala e as conectando, agradecendo por existir internet, do contrário teria que conectar tudo via cabo e seria um inferno. Fui até a porta e chamei o pessoal que contratei para arrumar a sala, bem para tudo aquilo eu precisaria de ajuda. Primeiro afastamos o sofá para o canto mais escuro. Em seguida, uma cama grande, muito grande, e colocamos na frente da TV. Depois, com a mesa de centro da sala arrumamos para quando chegasse a comida ser posta ali. Depois de arrumar tudo, dispensei os caras e fui verificar se ela estava pronta. Como eu havia adivinhado ainda não. Ela como sempre colocou uma música para escutar enquanto se banha e geralmente ela esquece da vida lá, demorando horas. Então verifiquei se tudo estava fechado na casa, embora ela morasse numa mansão com segurança, e fui tomar um banho na casa da piscina, que era o único lugar que me sentia mais confortável, talvez por ser bem menor e que geralmente os pais dela não iam lá.
Tomado o banho, já com uma roupa bem confortável, me encontrava arrumando cabelo e barba, colocando o desodorante e um perfume. Enquanto fazia isso pensava como ela tinha me mudado, não fui de me arrumar, sempre estava todo desleixado, mas depois que Andreia apareceu na minha vida, comecei a me arrumar, me arrumar só para ela. Neste momento Lucas invade meu pensamento. Não, não e não, penso. Hoje é só Andreia e nada mais, amanhã eu penso o resto.
Encontro Andreia descendo as escadas, ela havia se arrumado também quase como se fosse ir para um festa. Naquele momento eu esqueci de tudo. Queria que aquela noite não termina-se. Quando ela chegou ao fim da escada, a beijei. Bem aquele era um momento bom para a surpresa. Pedi para que fechasse os olhos, assim que fez a guiei até a entrada da sala e disse que já podia abrir os olhos. Ela ao ver a surpresa pulou no meu pescoço.
- Nossa, como tu conseguiu fazer tudo isso?!
- Não tem nada que eu não consiga para você. - forçado? talvez, mas a um pingo de verdade.
Ela passou a mão na cama sentindo a maciez do colchão mais edredom. Foi até a mesa de centro e viu toda a comida que adorava, com alguns de seus drinques favoritos. Disse para ela escolher o que íamos assistir enquanto eu ia fazendo pipoca. Mas quando voltei fui surpreso por dois motivos. O primeiro foi o filme que ela escolheu, O Segredo de Brokeback Mountain. E o segundo motivo era que ela estava sentada, séria, apenas me esperando. Eu vi que viria um conversa séria antes de ver o filme.
- Você está tentando compensar algo com tudo isso? - disse ela enquanto eu sento ao seu lado.
- Sim. Eu fui rude com você outro dia por causa da festa. E quis aproveitar que é teu aniversário para mostrar que não sou aquele ogro do outro dia.
- Amor! Eu sei que você é um cara gentil e carinhoso. Foi isso que fez me apaixonar por você. Esse seu jeito calmo, sincero, gentil e meigo. - eu levantei a cabeça e olhei nos olhos dela, ela segurou meu rosto com as duas mão e me deu um beijo - Eu não espero que você seja todo tempo assim, tu é um ser humano, é normal ter dias ruins, que ficamos estressados, com raiva ou com tristeza. Não importa o que esteja te incomodando que fez você reagir assim, mas saiba que eu estarei aqui para te ouvir se quiser conversar sobre com alguém.
- Você é o anjo na minha vida! - e a beijei com uma lágrima escorrendo. - Agora... por que escolheu esse filme? Achei que você iria escolher outro tipo.
- Ah! Fiquei com vontade de assistir esse filme depois de ver tu e o Lucas se beijando. - aquilo mexeu comigo, eu não esperava essa resposta e transpareci isso - O que foi? Não gosta desse filme? Eu posso esc...
- Não não. Está tudo bem. Vamos ver esse. Não há nenhum problema. - disse de imediato mudando o semblante.
Nos ajeitamos na cama e começamos a assistir. O filme de fato foi um problema para mim, por mais que não mostrasse os coitos, só a insinuação deles fez com que eu ficasse excitado. E o pior, fez com que eu pensasse no Lucas a todo instante. Estava completamente desconfortável ali. Mas tive que fingir estar tudo bem. Ao final do filme, nós fizemos uma pausa e comemos. Para acompanhar ela pegou um sake que estava no bar. Conversamos um pouco, sobre coisas sem muita importância, como estavam nossos pais, como tinha sido o dia, como estava o trabalho, esse tipo de coisa.
Quando acabamos ela começou a escolher um novo filme enquanto eu recolhia a sujeiras da mesa, e deixei o que a gente não tinha tocado, o que era basicamente a metade de toda aquela comida. Desta vez ela escolheu um filme bem chato, um sobre autoconhecimento e algo assim. Bem como o filme estava chato mesmo, comecei a provocá-la. Primeiro com umas carícias, depois com uns beijinhos no pescoço e foi esquentando, até que ela se rendeu. Aquela noite foi tão especial, acho que nunca tínhamos feito com tanta vontade, não havia sobrado nenhum centímetro do corpo dela que não tivesse amado naquela noite. E foi assim o resto da madrugada, entre filmes e sexo, eu quis aproveitar cada segundo que tínhamos sozinhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aquele Beijo
RomanceFernando acaba em um dilema ao beijar seu melhor amigo em uma brincadeira. Agora terá que descobrir o que está acontecendo consigo mesmo.