Acordar naquela manhã corpulenta, com o frio congelante, ricocheteando a vegetação ao redor dos ranchos e simples residências, indicava que mais uma manhã o ar penetrante só piorava um dia após o outro.
E Eduard Martozzi sentia o frio atingir em seus braços, descobertos, enquanto atravessava a vazia estrada, logo atrás do sr. Vellian, deixando a trilha entre os pinheiros para trás.
As galinhas dentro do saco já não davam mais tiques nervosos, quando o sr. e sra. Jhonson's cruzou o cercado incompleto do lado esquerdo da frente da casa, e Eduard mais atrás. Seu olhar, outrora fixava em pontos distintos daquela paisagem da estrada e as duas casas que conseguia avistar no entorno. Seria difícil se acostumar com o vazio das pessoas transitando, pensou ele.
Sr. Vellian Jhonson's abriu a porta, deixando todo o ar congelante entrar, observando Norton ao lado da lareira, em sua poltrona, as mãos sobre as pernas, encarando o piso da sala. Do outro lado, desta vez em pé, Elizabeth debruçada sobre as costas da poltrona, encarando cada pessoa que passava naquela porta. Estava mais inquieta. Suas filhas Carol e Ana Lusia mais próximas da janela, assistia tensamente o silêncio mórbido.
Com seu sorriso desajustado, sr. Vellian foi andando a passos cansados, atravessando a sala, mas curiosamente ninguém retribuiu o gesto, fazendo com que o velho desfizesse, assumindo um semblante sério.
- Mas que diabos aconteceu? - perguntou ele, olhando de um lado da sala, para o outro.
- O senhor ainda não sabe? - rebateu instantaneamente, Elizabeth, ajustando o corpo.
- Saber o que?
O Velho encarava Elizabeth, sendo tocado com o braço de Margareth, parando em seu lado, fintando-o.
- Abra a torneira da pia e veja o que sai de lá – indicava Elizabeth, dando a volta pela poltrona, sugerindo que o sr. Vellian fizesse o mesmo.
Cauteloso, o senhor se direcionava a passos lentos, sempre procurando os olhares da sua esposa, que vinha logo atrás. Esta estava com convicção em seu rosto. Sr. Vellian confirmou com ela e voltou a olhar a pia onde já estava a sua frente. Girou a torneira e o sangue desceu.
Rapidamente ele girou a torneira de volta, incrédulo, mas sem falar nada. Encarou novamente os olhares curiosos dos demais da sala e retornou a olhar o sangue que escorria pelo ralo da pia aos poucos. Coloca sua outra mão sobre a pia e abaixa a cabeça, como se pensasse em algo.
- Está acontecendo em outras torneiras? - perguntou ele.
- Sim! - respondeu quase que rispidamente, Norton, lá do fundo da sala, embora não quisesse implantar esse tom de voz.
De costas, após a resposta que o velho recebeu, permaneceu.
- O riacho mais próximo... - sussurrou pra si.
- O que ele falou? - perguntou Elizabeth, mais atrás, ao lado de Margareth.
- Eu... - suspirou Margareth - ... não escutei. Querido, o que você falou?
Eduard surgia na cozinha, querendo entender o que estava acontecendo, afinal, havia saído assim que amanheceu e não presenciou o incidente macabro. Com os braços cruzados, assistindo o sr. Vellian pensando no que falar, repudiava a cena do sangue ao invés de água, descer pelas torneiras.
- Talvez... talvez seja o riacho – respondeu sr. Vellian, desvencilhando da pia, encarando cada um que ali estava.
- Como assim o riacho? - ainda incrédula, Elizabeth jazia por explicações, embora os Jhonson's não tivesse motivos para explicações. Estavam presenciando aquilo do mesmo jeito que ela.
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Entre Nós (Revisando)
Ficção CientíficaO que fazer quando aqueles que nos vigiavam cada passo nosso aqui na Terra, o que fazíamos, o que comemos, nossos atos fúteis, o nosso jeito de "desperdiçar" a vida, descerem em nosso solo? Seria o ápice da desordem humana. Nesta obra trago emoções...