17.

199 22 19
                                    

sete de fevereiro

Acordei com o jato pousando. Jade estava agarrada a mim. Eu não me soltaria nunca, mas tínhamos que descer.

— Jade, Jade. — A chamei, intercalando beijinhos no topo da sua cabeça, e acariciando seu braço. Ela olhou pra mim, sorriu, e se enconstou em mim de novo.

— Ga, temos que levantar. O bicuço já pousou. Vamos descer.

— Bom dia, Luan.

— Bom dia, Jade — Sorri com a simplicidade do bom dia dela, e como aquele gesto já tinha deixado o meu dia o mais bonito.

— Luan, percebeu que a primeira vez que dormimos juntos foi dentro de um jato? — Ela disse rindo.

— Que nojo, vocês dois. Podiam esperar chegar no hotel. Imagina se a gente acorda? — A Bruna nem bom dia deu, e já estava implicando.

— Nã, não, não assim Bruna. Dormir de dormir. — Jade estava tentando se explicar. E ficando cada hora mais vermelha.

— Bruna, para de implicar. Não fizemos nada.

— Com aqueles amassos de ontem a noite, não duvidaria se tivesse acontecido.

Jade ficou ainda mais vermelha.

— Bruna, menos um vestido. — Será que assim ela parava?

— Bruna, para de implicar com seu irmão e com a Jade. Deixa eles. Eles merecem alguma felicidade, não é mesmo? — Meu pai disse. Sempre tentando apaziguar as implicâncias minha e da Bruna.

×

Enquanto íamos para o hotel, durante o caminho todo eu e Bruna discutíamos com que Jade dormiria. Até que ela se enfezou, abriu a conta do banco no celular, viu o quanto tinha de economia, me perguntou o valor da diária, e disse que pagaria por um quarto sozinha.

— Vocês dois, parem. Agora. Eu sou uma pessoa, eu tomo minhas decisões. Não sou objeto de briga entre irmãos.

Soltou da minha mão, e ficou olhando pela janela.

— Viu, Luan, o que você fez. — A Bruna parecia uma criança. Mas confesso que eu também estava parecendo uma criança naquele momento.

— Bruna, chega. Já deu, né? Olha o que os dois, vocês dois, fizeram. — Minha mãe disse.

— Jade. — A chamei.

— O que você quer? — Ela me respondeu. Confesso que a hostilidade dela me afetou.

— Pode deixar que eu pago seu quarto, não precisa gastar suas economias.

— Pode deixar Luan, dona Aline vai me depositar um adiantamento pela coleção infantil. E aí eu consigo pagar.

— Certeza?

— Luan Rafael, — ela disse brava, minha mãe reprimiu um sorriso. — Eu me viro. Não vou deixar você me bancar. Sou mulher pra isso.

— Tudo bem. Eu só acho que como eu meio que ajudei a você tomar essa decisão, de vir pra cá, e ficar em um quarto sozinha, eu poderia te ajudar.

— Pode deixar que eu me viro.

Ela tinha ficado brava de verdade. E eu via toda a razão dela. E ali entendi, que além da pressão da minha família, eu também a pressionava. Tinha que dar um jeito dela ficar de bem comigo.

×

Chegamos ao hotel, a Jade manteve sua palavra, e foi pra um quarto sozinha. Bruna foi pro seu, e logo já estava na piscina. Jade nem aparecia.

— Pensamento na Lua, Luan? Ou em um certo quarto desse hotel? — Minha mãe apareceu no bar do hotel, onde eu tomava um suco. Não queria ingerir álcool quando estava perto da Jade.

— Mãe, eu não sei o que fazer. Ela tá lá, enfiada no quarto. Não fala comigo e nem com a Bruna.

— A primeira coisa é você e a Bruna pararem de tratar ela como propriedade. A Jade é uma pessoa. Ela poderia escolher com quem ficar. A segunda, é pedir desculpas, e não agir mais assim. Você reparou que se ofereceu pra pagar a estadia dela mas não se desculpou?

— Não, mãe. Não reparei.

— Eu reparei. E ela também.

— Como a senhora sabe que ela reparou?

— Sabendo, Luan. Outra coisa que você não reparou. Ela te chamou de Luan Rafael, assim como eu quando estou brava com você.

— Por isso você reprimiu o sorriso?

— Sim, e por outro motivo.

— Qual?

— Eu percebi que ela realmente gosta de você, Luan. Ela podia ter pedido pra voltar embora, ou ter se aproveitado da sua gentileza e fazer você pagar tudo dela, como você se ofereceu pra fazer. Mas ela, mesmo brava com você e com a sua irmã, decidiu ficar, e por conta própria, literalmente. Valoriza meu filho. Não é fácil encontrar alguém assim. Que gosta de você sem interesse nenhum.

— Mãe, vou lá falar com ela.

— Filho espera um pouco. Deixa ela esfriar a cabeça. Dá o tempo que ela precisa. Vou conversar com sua irmã também.

E então ela partiu. Vi que não tinha sentido ficar sentado ali, subi para meu quarto, passando em frente ao da Jade, que era de frente com o meu. Fiquei tentado a bater na porta, mas a voz da minha mãe voltou a minha cabeça. Ela precisava de um tempo. Eu poderia dar. Eu mesmo disse mil vezes que esperaria o tempo dela.

Sentei na minha cama, com o violão, que mesmo nas férias, eu carregava. Fiquei dedilhando, até que algo saiu.

Safira Onde histórias criam vida. Descubra agora