Capítulo VII - Esperanza

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Assim que a nave saiu do chão eu senti uma mistura de medo e de adrenalina, era uma sensação nova, que eu nunca havia experimentado. Mikhail estava do meu lado, sem fazer seus comentários desagradáveis de sempre (ainda bem).
O espaço é muito frio. Mas eu me sentia muito melhor do que se estivesse em Marte. Finalmente não tinha mais ninguém por perto para me encher o saco, isso é claro, tirando o Mikhail, que por mais inacreditável que fosse, estava sem pronunciar uma palavra sequer, assim como eu. Era bem tenso estar viajando na velocidade da luz em direção à um dispositivo que iria abrir uma dobra espacial. Mas minha cabeça ainda estava trabalhando do mesmo jeito. "Se eles testaram e deu certo, a probabilidade de dar certo conosco é bem grande também."

Queria saber o que estava se passando na cabeça de Mikhail naquela hora. O que será que fez esse louco falante calar a boca? Acho que eu consigo entender ele. não é todo dia que a gente sai do próprio planeta para encarar o desconhecido.
daqui a uma hora nós dois iremos atravessar uma dobra espacial. Não vai ser a primeira vez que um humano atravessa uma dobra, mas se voltarmos, seremos os primeiros a realizar tal façanha. Resolvi quebrar o silêncio com algum comentário, afinal ainda tínhamos cerca de 55 minutos de viagem espacial.
- Você lembra qual era o nome daquele prisioneiro que foi mandado pela primeira vez numa dobra espacial? Era algum nome bem difícil com um sobrenome meio latino se não me falha a memória.
- Norabel Esperanza. Eu já fui muito obcecado em estudar a história dessa mulher e o que teria acontecido com ela.
- Então quer dizer que quando você era livre passou tempo estudando ela?
- E quando estava preso ainda estudava como podia. Ela me intrigava demais.
- Ora, então me conte o que você sabe sobre ela! Sempre quis saber também.
- Certo. Sei que ela nasceu na região de Angra Mainyu , cuja capital fica a cerca de 1000 km de distância do Monte Olimpo. Tooting, a sua capital, é conhecida por ser uma cidade rica por seus vastos recursos minerais, já que se trata de uma cratera. Além disso, o Monte Olimpo fica dentro dessa região, atraindo turismo e fornecendo inúmeros recursos minerais.
A família Esperanza era a responsável por administrar os lucros da mineração. Era a mais rica de toda a região, mas também tinha muitos inimigos no comércio. Pessoas que fariam de tudo para tirar a família Esperanza do comércio. Frequentemente eram acusados de escândalos que depois se mostravam ser falsos. Mas ainda assim, apesar de serem alvo do ódio de seus inimigos comerciais, ainda continuavam sendo a família mais rica da região. Norabel sempre foi tratada muito bem pelos pais, mas eles tinham muito pouco tempo para ela. Passava boa parte do seu tempo em casa, assistindo alguma coisa. Ela gostava na maior parte do tempo ficar sozinha. Mas nunca demonstrou dificuldade alguma em se relacionar com as pessoas.
Um dia Norabel insistiu para que seus pais fizessem companhia para ela, e não a deixassem em casa com a empregada. Mas seus pais realmente precisavam tratar de negócios naquele dia. Era o aniversário de Norabel, e ela iria passar sozinha. Mas tinha ganho presentes caros. Por mais que os presentes fossem caros eles ainda não cobriam o prejuízo que era a ausência dos pais dela no dia do seu aniversário. De noite quando eles voltaram, foram até o quarto de Norabel dizer que amanhã eles passariam tempo juntos, mas que estavam cansados demais para qualquer coisa no momento. Então, enquanto dormiam, Norabel cortou suas gargantas. Talvez estivesse com muita raiva. Ou muito magoada. De manhã, quando a empregada voltou, entrou em choque e perguntou repetidamente qual era o motivo de Norabel ter feito aquilo. Ela respondeu que eles tinham magoado ela.
- Credo, que menina problemática...
- Ela nunca demonstrou nenhum arrependimento por isso, e nem pelos seus próximos assassinatos. Depois que descobriram que ela provocou o assassinato dos seus pais ela foi mandada para um reformatório onde ficaria em observação.
durante os 10 anos que passou lá, matou três pessoas.isso porque ela estava num reformatório com a maior qualidade de segurança da região. Depois que atingiu a maioridade foi mandada para uma prisão de segurança máxima, onde mandou alguns funcionários para o hospital. Ela fazia uma mísera pedra se tornar um objeto para cometer um assassinato. Mais tarde descobriu-se que o tempo que ela passava sozinha era para aprender mais sobre diferentes tipos de morte. Ela era muito esperta, absorvia conhecimento com facilidade. E também usava seu conhecimento. Aí ela foi mandada pro buraco negro, sem nem pronunciar uma palavra. Só foi e nunca mais voltou. Foi numa nave chamada Nautilus, em homenagem à vinte mil léguas submarinas. Afinal era uma nave bem inovadora.
- Você acha que vamos voltar? - Perguntei
- Talvez um dia. - Respondeu Mikhail com uma cara poética
- Ei, que cara é essa? - ri - Você fez uma super cara de poeta!
Então rimos juntos, e deixamos o tempo passar com conversas aleatórias. O mapa
sinalizava que faltava dois minutos para chegarmos.
Uma voz cheia de ruídos e chiados apareceu na sala de controle.
- Rapazes! sou eu, Capitão Edward! preparem-se para atravessar o anel. Nós acabamos de ativá-lo. Boa sorte, ou sei lá, boa morte...
- Otário... - resmungou Mikhail
- O quê?
- O Mikhail não disse nada professor! quer dizer, capitão. Aliás, eu tenho uma pergunta
- Humm, que foi?
- O presidente da IPEE disse que nossos ancestrais chamavam o buraco negro de Monocerotis V616, mas como nós o chamamos? - perguntei.
- O nome atual - disse Moore - é Kronos I.

Da tela da sala de controle conseguíamos ver um ponto brilhante (eu sei, o espaço é cheio de pontos brilhantes, mas aquele estava trocando de cor com frequência, e estava crescendo muito rápido, mas muito rápido mesmo. É que estávamos nos aproximando em alta velocidade dele. Piscamos e já estávamos dentro do buraco de minhoca. Foi bem psicodélico, parecia que o espaço tinha perdido a forma. Como aquele buraco de minhoca era artificial, ele não tinha energia suficiente para proporcionar a experiência de uma viagem no tempo, então apenas viajamos no espaço, à uma distância relativamente grande do buraco negro. Ainda ficaríamos dois meses em viagem.

- Essa viagem vai ser uma merda.
Com essa frase pronunciada de um jeito completamente preocupado e angustiado Mikhail conseguiu me transmitir seu enorme desespero.
- É... devo concordar com você...
- E lá vamos nós, viajar na escuridão do espaço e entrar num buraco negro... isso sim exige esperança.

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