Capítulo XXVI ○ Jaebeom

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— Legal, já que todos concordamos em assistir Mulan, vai ser esse. — Bambam comenta, sentado no sofa todo pomposo, quem olha de longe até pensa que ele é normal. Ele ainda não respondeu a pergunta de Youngjae a respeito de agora morar aqui, apenas se sentou no sofa e ficou lá, sorrindo e tomando o resto de coca cola de uma lata. Ele tem um jeito prepotente, mas acho que esse é apenas o jeito dele, ele debocha das coisas, porque ele é debochado. Ele é como Jinyoung, eu acho, que por fora mostra ser uma coisa, mas por dentro é completamente o oposto.

— Você não respondeu a pergunta. — Yugyeom lembra, fazendo o menino o encarar com um semblante de fúria no rosto, talver por estar sendo precionado? Eu não sei, ele apenas fica bravo. Claramente ele está enrolando para adiar mais ainda o assunto, o que deve significar que ele não fez coisa boa, tipo, fez coisa pior do que atear fogo em um internato e chutar um bombeiro que fazia seu trabalho.

— Hum, por que você está tão interessado nisso, amiguinho? vamos sentar e ver um filme, comer umas pipocas e beber refri, depois, quando estivermos mais relaxados e de boa, eu conto tudinho. — Bambam responde, agindo de uma forma inocentemente falsa, e obviamente Youngjae não compra seu papinho, ele pode até não ver a expressão do amigo, mas ele não é burro, sabe o que o menino está tentando fazer.

— Vou deixar minha mão ficar de boa e acertar sua cara. Anda Bambam! explica logo essa porra. — Youngjae tinha assumido um tom bem oposto de sua real natureza, estava sério e frio, agindo de forma dura. É ai que conheço mais uma de suas personalidades, a que sabe ficar sério em assuntos sérios.

— Ai, tá ok! Eu conto. — Bambam desiste de tentar esconder as coisas, devolve a lata para a mesa de centro, cruza as pernas e se prepara para falar. Youngjae sente do meu lado no sofá, do lado esquerdo já que Jinyoung estava no direito, e Yugyeom senta no chão mesmo, ao nossos pés. Era uma cena até engraçado, três caras olhando para um outro cara, todos com semblante sério no rosto, como policiais em um interrogatório. Acho que quem visse de longe até pensaria que estavamos perto de cair na porrada.

— Estamos esperando.

— Certo, ok... Hum, como eu posso contar isso sem soar trágico e triste, só para vocês não terem a chance de ficar com pena de mim? — O menino pergunta a si mesmo, pensativo. Yugyeom revira os olhos, Youngjae bufa e Jinyoung apenas come a pipica que ele tirou não sei de onde, sem nunca parar de sorrir, porque eu já disse, ele está amando tudo isso. — Meus pais me expulsaram de casa.

— O QUÊ?! — Youngjae e Yugyeom gritam ao mesmo tempo, aparentemente não mais chateados, agora apenas preocupados. Bambam força um sorriso, mas dá pra notar que ele estava triste. Encaro Jinyoung, que me olha de volta, ambos sentindo o clima pesar na sala.

— Eles avisaram que se eu causasse mais alguma merda eles me deserdariam, como eu disse antes, fiz merda, então eles me deserdaram. — O menino joga uma pastilha de menta dentro da boca e da de ombros, como se não se importasse muito com o que estava acontecendo.

Bambam está tentando ser forte e fingir que essa história toda não está o afetando, mas eu escuto sua voz falhar na última frase e vejo seus olhos começarem a lacrimejar de dor e tristeza, e mesmo que ele tente esconder isso, e mesmo que eu não conheça ele tão bem assim, dá pra notar que ele está destruido. Acho que até Jinyoung para de achar a história divertida, porque ele para de comer a pipoca e dá atenção total ao menino tailandês, assim como Youngjae, Yugyeom e eu.

— Deserdaram só por um tempo, né? Afinal, você é filho deles, eles não fariam isso com você, não de verdade. — Acho que nem Youngjae estava comprando esse tom otimista com o qual ele proferiu cada palavra nessa frase, acho que porque deu pra entender, pelo tom que Bambam usou para explicar as coisas, que o assunto é serio, ele não estava brincando.

— Eles não podem fazer isso! Quer dizer, isso não é... sei lá, contra a lei? alguém tem que herdar os bens quando eles morrerem. —  Yugyeom também parecia preocupado, menos do que Youngjae, mas ainda assim preocupado.

Penso em meu pai quando escuto a palavra herdar, eu herdei tudo dele, o que não era muita coisa, mas me deixava feliz, porque me fazia lembrar que ele pensou em mim até mesmo nos seus últimos momentos de vida. Porém, acho que é difícil para um filho quando um pai o deserda, e acho que é pior ainda quando os pai em si, não morreram, apenas decidiram que não querem mais ser os pais. Sei como dói ser abandonado, por isso entendo e compartilho da dor dele.  

— Eu tenho irmãos, lembra? Vai ficar tudo pra eles.

— Mas você também é filho deles!

— Não. — Bambam fecha os olhos e limpa uma lágrima intrometida que escorria pelo seu rosto, respirando fundo para se acalmar, e nem assim ele perde a pose, mantendo a imagem elegante e superior que usava desde o momento em que chegou na casa. Youngjae deixa que ele chore, assim como eu e os outros meninos. Era a dor de Bambam ali, apenas ele poderia senti-la. — Eles me emanciparam.

— O QUE? — Yugyeom esquece o lance de deixar ele chorar em paz, mas não o culpo, nem conheço bambam e mesmo assim já me sinto mal por ele, então imagino como Youngjae e Yugyeom devam estar tristes pelo menino, já que são amigos muito próximos.

— Eles entraram com a papelada e só mandaram eu assinar, agora sou legalmente responsável pela minha própria vida.

— Puta merda! Você não tem responsabilidade nem pra acordar cedo, quem dirá pra cuidar da própria vida.

— Obrigada amigo, você é um amigo. — Yugyeom sorri debochado em resposta, mas não fala nada. Youngjae suspira, então força um sorriso.

— Vai ser legal ter você aqui, agora somos 3, mamãe e papai sempre vão perder na escolha de filmes nos sábados de cinema.

— Isso sim é uma coisa boa! — Comento, sorrindo, tetando quebrar o gelo. Sábados de cinema são como chamamos a noite de cinema entre amigos e pais, que acontece todo sábado, começando de manhã bem cedo e terminando só a noite. É bem legal, passar um tempo ali, vendo filmes bons e ruins, com o garoto sol ao meu lado e minha mãe abraçada ao marido no outro sofá. E mesmo que não gostasse e nem confiasse nela ainda, era bom saber que ela estava por perto, pronta para vir quando eu chamar. Bambam não tem mais isso, o que de alguma forma me faz ficar triste.

— Então eu posso ficar?

— É claro que sim, seu boboca, nem precisava perguntar. — Bambam sorri muito e corre para abraçar o primo, me puxando junto para o abraça no processo.

— Que bom, se vocês não concordassem não ia mudar nada mesmo, os tios já deixaram. —Ele diz, suspirando vitorioso, e naquela hora todo mundo começa a voltar a respirar, mesmo que antes nem soubessem que tinham prendido as respirações, e assim, simultaneamente, como se tivéssemos ensaiado, nós voltamos ao normal. — Então, agora que acabou toda a ladainha, a gente pode assistir Mulan, obrigado.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora