Mais uma vez não consigo sair da cama. Eu estava em um estado de inércia absurda desde meados de Fevereiro. A minha vida parecia não fazer tanto sentido assim. No início do ano, tentei uma vaga na Stanford University, e na Oxford. Minhas notas foram insuficientes. Acreditei piamente que não era capaz de continuar lutando por uma vaga onde quer que seja. Não estava pronta pra receber outro não.
Meses se passaram e agora, estou aqui debruçada em meu colchão repleto de travesseiros com forros amarrotados e encardidos. Queria levantar tomar um banho pra ver se a água levava de uma vez a minha angústia embora... Algo que no fundo eu tinha certeza de que não funcionaria. Permaneci mais quarenta minutos deitada olhando para quem? Ou melhor... Para o que? O vazio de formas viventes naquele quarto aparentemente esterilizado, mais parecia a minha alma do que qualquer outra coisa com a qual eu pudesse comparar. Morta. É assim que iniciei o mês de Agosto. Morta de espírito, morta para o mundo lá fora. Vegetando para a família. A depressão se instalou e eu nem me toquei. Que idiotice! Quanta asneira! Como eu pude deixar essa coisa ou sentimento, seja lá o que for, invadir o meu corpo, minha vontade de viver?
Enfim, levantei e fui ao banheiro, liguei o meu chuveiro e deixei a a água fria levasse consigo o calor do meu corpo numa reação exotérmica perfeita. - Hêee... nerdices uma hora dessas? Se liga, Ânica! Daqui a pouco vai passar mais de 30 minutos debaixo da ducha só meditando antes de pegar o sabonete. - falei a mim mesma.
Após o banho, peguei a primeira roupa limpa que vi no quarto e me vesti. Não tive paciência e nem vontade de pentear o cabelo e finalizar do jeito que gostaria. As atividades rotineiras tornaram-se um peso intenso desde o início de 2019.
- Oh ânica! Vem tomar café da manhã! Fiz tapioca recheada. - Disse dona Lize, mãe de Ânica.
Fui ao corredor que separa a sala -de-estar do quarto. Peguei a tapioca e pus café com leite numa xícara. Ao sentar, em uma das cadeiras alcochoadas ao redor da mesa, ouvi Anelise (minha irmã mais nova) chamar.
- Ânica!!! Telefone pra vc!
Levantei-me vagarosamente da cadeira e fui em direção ao telefone residencial.
- Alô?
- Gostaria de falar com Ânica Pereira. - Disse uma voz masculina
- Pois não? - respondi
--A sua vaga para o curso de licenciatura em Ciências Biológicas - Licenciatura está disponível. Você ainda tem interesse neste curso aqui na Universidade de Stanford?
- Sim! - Disse sem demora.
- Ótimo. Sua matrícula está feita, venha hoje à noite para pegar a sua grade de horários e já pós e assistir aula. - Finalizou o rapaz e desligou o telefone.
Eu não sabia se ria ou chorava, tremia ou me acalmava, consegui uma vaga na Universidade que tanto queria!! Era um sonho! Contei para a minha mãe e minha irmã que vibraram comigo. Me preparei para então assistir aula à noite, me sentia feliz mesmo sabendo que me sentiria uma deslocada mais tarde e que provavelmente a sala já estaria cheia de panelinhas. Mas enfim
... Depois eu pensaria nisso. Não queria que nada nem ninguém estragasse o meu momento de felicidade após meses de choro.
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Dear teacher // Querido Professor
Non-Fiction"Meados de Agosto de 2019. Maldita data! Por quê? Isso aconteceu por algum motivo. Mas, por ele e só para ele. Mas... Logo por ELE?" No dia 14 de Agosto, Ânica realizou um dos "sonhos" o qual havia se dedicado e planejado por um tempo considerável...