Toda vez que você vai

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Todos os dias penso como seria o mundo se certas pessoas não tivessem nascido. Como alguns filósofos, escritores, alguns criadores da mitologia grega, matemáticos, ou até mesmo os criadores de conteúdos que eu mais gosto, eu não teria ideia, nenhum de nós teria ideia de como tal coisa inventada ou feita por algum deles seria mostrada ao mundo e qual diferença faria em nossas vidas. Como seria se alguém que amamos nunca tivesse nascido? Como seria se minha mãe tivesse casado e tudo filhos com outra pessoa e nunca com meu pai? Seria minha alma ali, dentro do corpo de outra pessoa? Ou eu não existiria? Eu realmente gostaria de entender o que seria se certas coisas não acontecessem, mas tem um limite de coisas que nosso cérebro pode fazer e imaginar. Existem um milhão de coisas que eu gostaria de esquecer e você não é uma delas. Você é alguém que eu de fato não consigo imaginar como eu estaria se não tivesse te conhecido, tantos momentos maravilhosos foram proporcionados, eu nunca mais derrubei lágrimas, as que caíam eram as que representavam a maior das felicidades, seria impossível eu me esquecer de qualquer momento ao seu lado, pode parecer impossível, mas me lembro de cada diálogo, cada piada, cada briga, cada segundo que passei com você, já que eles são os mais preciosos para mim. 

É tão ruim saber que agora eu estou aqui, longe, em uma cidade desconhecida, fazer letras era meu maior sonho e você sabia, sempre me apoiou, dizia a mim que eu seria a melhor nisso e quando me dizia essas coisas eu realmente passava a acreditar mais em mim mesma, eu ainda tinha tempo, nós, tínhamos tempo, achei que teríamos algo perene, mas eu estava enganada. Você decidiu ir, decidiu ir sem me dizer que queria isso há muito tempo. Eu entendo. Entendo que precisava pensar em você, às vezes eu era egoísta em relação a isso, mas era por motivos de eu sempre querer estar perto de você e criar ainda mais afinidade, criar ainda mais amor, algo que eu achava ser impossível. Morávamos longe uma da outra, as férias eram chatas por causa disso, mas enquanto estávamos no colégio era bom, bom demais, um sentimento tão inenarrável, eu sentia calor, me sentia amada por você, já que você sempre demonstrava isso mais do que eu. Toda vez que você ia embora eu me sentia vazia, era ruim, me sentia em um buraco e não tinha como eu subir, me sentia dentro de uma caixa de metal trancada a sete chaves que enchia de água e que eu estava prestes a me afogar, mas você sempre o abria e me dava direção, a direção que eu sempre precisei. Toda a vez que você ia embora, eu continuava pensando dessa forma, mas eu ignorava a dor, me agarrando na ideia que você voltaria pra mim e minha angústia iria acabar, mas em um dia, você se foi e não voltou mais. Eu quero saber a resposta, quero ouvir sair de sua boca, a boca que eu sempre fui apaixonada, que eu costumava encostar a minha quando precisava de você, essa boca que falava coisas que eu queria ouvir, que sempre dizia a coisa certa no momento certo. Eu quero ouvir a razão de ter me deixado para trás, sem levar em conta meus sentimentos, quero saber por que me fez chorar tanto. 

O dia que você se foi se tornou o pior da minha vida, já que eu sabia que não voltaria para mim. Esse maldito dia, iria fazer bem para você, seu futuro e sua liberdade estavam em jogo, mas eu não entendo o motivo de não ter me chamado para ir junto, eu não desistiria de meus sonhos por isso, iria fazer o que eu queria, ao seu lado. Eu precisava e preciso de você em tantas maneiras, eu te amo de tantas maneiras, eu não precisaria de outra coisa de você, apenas você. Eu preciso acreditar que o senso comum é ficarmos separadas e viver nossas vidas assim, eu realmente gostaria de acreditar nisso, dessa forma eu não iria sofrer mais. Eu me lembro de cada detalhe. O jeito que você segurava minha mão e com sua outra acariciava, me lembro de como você me abraçava, seus tipos de abraços que sempre me faziam rir e me fazia ficar ainda mais curiosa em relação a você, seu abraço carinhoso, o de consolo, o de amigo, o de amor, era sempre com o último que você chegava em mim e isso me deixava ainda mais encantada. Como eu poderia esquecer do seu sorriso e da sua risada maluca e fofa, a forma como arrumava seu uniforme, toda vez que aparecia qualquer amassado, sua inteligência me encantava, seu jeito de ser me encantava e tudo o que você fazia era mágico para mim. 

Me lembro como se fosse ontem, quando eu estava na aula de matemática e você me disse que ela não era exata, quando você disse que se juntarmos duas gotas de água não iriam dar duas gotas, aquela teoria que me provou que um mais um nem sempre seria dois e isso aconteceu conosco, nos tornamos uma só depois de um tempo, de fato eu tinha encontrado a minha alma gêmea e tudo estava indo bem, como nos contos de fadas, me lembro quando andávamos na rua e você gastou todo o seu dinheiro que tinha economizado a meses para comprar um brinquedo para uma criança de rua e o seu sorriso depois disso foi algo que eu realmente não sei como descrever em palavras e foi nesse momento que percebi estar apaixonada por você. Sempre tenho que chegar na mesma palavra e no mesmo sentimento. Toda vez você vai embora. Eu poderia ter deixado uma mensagem na sua caixa postal agora, mas por algum motivo eu não sei o seu número de telefone e nem mesmo o celular, muito menos seu endereço, como posso ser tão burra a ponto de escrever uma carta que nunca será enviada? É como uma paranóia, eu sei que não enviarei por agora, mas escrever tudo a você, mesmo sabendo que não lerá, me ajuda a amenizar a dor. Se um dia eu tiver a oportunidade de te encontrar novamente eu te entregarei esta carta. Pode parecer um tanto quanto ultrapassado, mas os tempos da caneta e do papel me remetem a nós, uma história escrita a caneta que não pode ser apagada. Se um dia, acontecer de você receber isso, quero que saiba que nunca irei lhe esquecer e que sempre vou te amar, onde você estiver, para todo o sempre. 

Com amor. 

De sua, Mary.


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