Não há descanso para os fracos

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 Era um beco escuro e fedia a urina. E naquele lugar, ironicamente, seria o meu fim, no auge dos meus 17 anos de idade. Não seria uma boa forma de morrer, nem a morte dos meus sonhos, mas dadas as condições atuais da minha vida, aquele momento era inevitável e já não soava tão terrível.

O homem me arrastava pela gola da camisa para o interior da ruela, meus pés tropeçavam em passos desregulares entre as poças d'água. Uma garoa fina caia em El Paso deixando meu moletom úmido e meus cabelos negros levemente molhados.

Ao fim do beco, fui empurrada ao chão pelo brutamontes de 2 metros de altura. O cheiro de mijo entrou forte pelas minhas narinas e eu bati o rosto no solo. Antes mesmo de ter a oportunidade de me levantar, senti a sola das botas empurrar minhas costas, me forçando a permanecer com o rosto no chão frio e molhado.

- Hija de puta! ?Creías que podrías engañar el patrón?

Era uma pergunta retórica e suas botas pressionavam com mais força as minhas costas. Eu já sabia que seria o meu fim, o filete de sangue voltava a descer pelo meu lábio inferior, era a prova física dos golpes outrora deferidos pelo grandão.

Todo mundo sempre me disse que na hora da morte, a sua vida inteira passava diante dos olhos numa fração de segundos. Mas comigo estava sendo diferente, a única coisa que transitava pela minha mente naquele momento, era tudo que eu nunca tive e jamais teria, então eu me via sorrindo, realizando tudo que eu nunca poderia realizar como: terminar o ensino médio, levantar aquele maldito pergaminho. Ir ao baile mais tosco da cidade. Ir para a Universidade, tomar café com ovos mexidos e bacons todas as manhã enquanto conto os meus problemas de adolescente que nunca existiram para meus pais.

E... Jogar basquete.

Eu respirava basquete desde os 7 anos de idade quando o meu tio Alejandro, mais conhecido por Treinador, me presenteou com uns pares de jordans surrados maiores que meus pés. Foi com eles que eu fiz a minha primeira cesta de 3 pontos, numa pseudo quadra no subúrbio de El Paso, eu percebi que não poderia viver sem o basquete.

O esporte mantinha meus pés no chão no meio daquele caos que era minha vida. Me trazia esperança no mar das desgraças, e eu pude sorrir com sinceridade, sem peso, quando o Treinador me disse que poderíamos tentar uma vaga na Universidade de Connecticut através do basquete. Existia uma pequena possibilidade de fazer parte da equipe profissional feminina de Uconn. Seria preciso terminar o ensino médio em qualquer colégio mediano de El Paso e, com boas notas e muito treino no time local, me destacar seria consequência e o passaporte para minha tão sonhada mudança de vida. E eu voaria para Connecticut.

O estalo da arma sendo destravada me trouxe para o mundo real. Tentei engolir saliva, mas minha boca estava seca. Havia chegado a minha hora. Meu destino estava marcado desde o berço: Lauren, a filha única de um narcotraficante e estelionatário que achava que poderia enganar a mafia de El Paso. Eu não preciso dizer para vocês que ele estava errado, e o seu erro estava custando a minha vida.

Onde Moram As ÁguiasWhere stories live. Discover now