Ivy conhecia Gizelly.
Ela conhecia as expressões de tristeza no rosto da capixaba, quando observava Marcela feliz com Daniel.
Ela conhecia a feição brincalhona, que aparecia sempre que Gizelly estava com Rafaella, Thelma, Pyong, Manu, e ela própria.
Ela conhecia a cara de brava que surgia quando perdia uma prova ou era um pouco contrariada.
Ela apreciava o bico que a advogada fazia quando chorava, a abaixada de cabeça quando algo a entristecia, a revirada de olhos que ela usava quando queria passar em um tom brincalhão algo que, na maioria das vezes, era o que ela sentia de verdade.
E ela definitivamente conhecia a expressão que Gizelly fazia quando estava se sentindo atraída por alguém, esse alguém na maioria das vezes sendo Marcela. O olhar sério e compenetrado, que desviava dos olhos para a boca, as mãos inquietas que hora ou outra jogavam o cabelo para o lado e o sorriso que por vezes era sem graça e tímido, e por outras era cafejeste.Então, Ivy já sabia muito bem o que Gizelly estava fazendo ao dizer pra ela que elas deveriam tomar uma Ice no quarto do líder quando a festa acabou. E ela consentiu, segurando Gizelly pelo punho e a carregando em direção ao quarto do líder no momento em que a produção anunciou manutenção externa.
A noite havia sido de várias emoções para Ivy. Ela havia visto a foto do seu filho, chorado como nunca antes, entre várias outras coisas. E quando a festa estava acabando, Gizelly se sentou ao seu lado com uma latinha de cerveja, com os olhos sérios focados nos seus e com o sorriso que naquele ponto da noite, era o cafejeste.
- Seu filho é lindo, Ivy. - Gizelly comentou, e a modelo abriu um grande sorriso.
Era muito difícil pra ela ficar longe do filho, Luiz Miguel era tudo pra ela.
- Ele é, não é?
- Puxou a mãe. - Gizelly comentou, e aquele foi o primeiro comentário da noite que fez Ivy reparar na forma que Gizelly olhava pra ela durante toda a festa.
Não que Ivy nunca tivesse reparado antes. A tensão sexual entre as duas andava forte fazia algumas festas, e havia dois motivos pelos quais Ivy não havia se entregado ainda: primeiro, ela sempre fora hétero. Tudo bem que no momento ela não se sentia muito hétero, mas ela nunca havia sentido atração por mulheres. Não até Gizelly Bicalho, pelo menos. E o segundo e principal, era o fato de que Ivy não queria ser uma substituta da Marcela. Era nítida a forma que Gizelly se sentia pela médica, o choro dela na festa em que Daniel e Marcela ficaram deixou explícito de vez, e com Marcela sempre com Daniel, Gizelly se aproximou de Ivy.
- O Jackinho deve ser lindo também, então. - devolveu, vendo um bico se formar no rosto da advogada ao ouvir o nome do cachorro.
- Estou com saudades dele. - choramingou e Ivy riu. Gizelly era a coisa mais fofa.
- Gi! - a voz de Marcela fez Gizelly virar a cabeça, e Ivy não pode deixar de bufar.
Marcela era a personificação da frase "não fode e nem sai de cima". Ela estava com Daniel, mas sempre que Gizelly estava se divertindo com alguém, ela aparecia para acabar com tudo. Ivy sentia que não tinha um momento sozinha com a capixaba sem que Marcela viesse com aquele "Gi" forçado dela.
- Oi? - Gizelly perguntou, e ela também não parecia que estava gostando muito da interrupção.
- Vem dançar comigo! - pediu, ao som de "vem me satisfazer".
- Não quero, não. Eu tô conversando. - respondeu, e Ivy observou com um sorriso contido quando Marcela fechou a cara.
Se quisessem saber a opinião da modelo, Marcela era apenas o tipo de pessoa que gostava de atenção. Ela sabia que Gizelly tinha sentimentos por ela, e não dava a mínima pra isso, brincando sempre que podia, e fazendo de tudo para que os sentimentos de Gizelly continuassem ali, massageando seu ego. Ivy odiava, por mais que gostasse da loira.