Capítulo Único

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Fumava mais um cigarro perdido em seus pensamentos. Não conseguia encontrar maiores inspirações para continuar a escrever. E o grande vilão de seu bloqueio criativo era o seu editor que havia insistido que Taehyung deveria inovar em seus livros, já que a busca por romances eróticos do gênero yaoi estava crescendo.

Tudo culpa daquelas pervertidas fujoshis, como eram chamadas as mulheres que tinham um penhasco pelo sexo gay.

Taehyung era um renomado escritor de romances eróticos heterossexuais. Por mais que fosse difícil um livro do gênero ganhar prêmios ou virar best-seller, mantinha um nome forte na área, atraindo públicos diversos que gostavam de melecar suas mãos e roupas de cama com uma boa cena sexual bem descrita.

Precisava de um café e um pouco de ar fresco. Respirar um pouco e deixar as ideias fluírem sem rumo sempre era uma boa maneira de pensar seus enredos. E, decidido, apagou o cigarro no cinzeiro transparente que jazia ao lado do teclado do computador de trabalho, por mais que o tivesse acendido há pouco.

Acontece que dividia o apartamento de dois quartos com um jovem fotógrafo de cabelos escuros e tatuagens espalhadas, e que odiava o cheiro de cigarro. O conhecera há um ano após anunciar o quarto vago em um site para tal finalidade, assim que se mudou para Seul. Arcar com as despesas da casa sozinho era oneroso demais, e felizmente Jungkook apareceu em sua vida.

Os dois se davam bem, apesar de não se verem com tamanha frequência. Tinham turmas diferentes e poucos gostos em comum — sendo o amor por vídeo games o mais marcante. O quarto de Taehyung era também seu escritório, sendo o lugar onde passava a maior parte de seu tempo. E, por consequência, o quarto de Jungkook também era seu estúdio de fotografias — e tatuagens, já que ele estava querendo começar a trabalhar com isso.

Outra coisa em comum entre eles, além do time de Overwatch, era o sexo. Taehyung escrevia sexo. Jungkook fotografava pessoas nuas — e os mais ousados, em posições deveras íntimas. O mais velho não costumava reclamar, pois ele ganhava um bom dinheiro com isso e mantinha sempre sua parte dos gastos em dia.

Abriu a porta do quarto e direcionou-se a cozinha, o cômodo que mais encontrava o inquilino, que, no entanto, não estava ali. Preparou o café na máquina expressa, jogando dois torrões de açúcar. Levou o conteúdo quente até a varanda e se sentou na pequena poltrona de palha trançada e olhou o horizonte pela grande janela do local.

Bebia tranquilo quando percebeu o outro chegar e se sentar na poltrona ao lado, segurando uma lata de Coca-Cola gelada. O outro suspirou e se espreguiçou puxando a atenção de Taehyung para si.

— Eu já ia chamar a polícia, achei que estava morto no quarto. — Esticou a latinha a fim de brindar com o café do companheiro de apartamento. — E eu acho que esse cheiro de mofo vem de você — disse com um sorriso largo.

Jungkook estava vestido com as típicas jeans pretas com rasgos nos joelhos e uma regata de igual cor. Estava descalço.

— Acho que o cheiro é dos meus neurônios queimados — brincou. — Hoje é sexta, não vai sair?

— Hoje não... amanhã tenho um ensaio cedo, prometo tentar não fazer barulho. — Deu mais uma golada no refrigerante — Por que está aqui? Tem uns três dias que não vejo sua cara.

— Namjoon me pediu para inovar escrevendo um romance gay — disse simples fazendo uma careta pelo gosto amargo do café.

— E já escreveu quanto? — disse verdadeiramente interessado.

— O título — riu.

— Já é alguma coisa — riu de volta.

Continuaram a contemplar a tarde que ia embora. O apartamento tinha uma vista privilegiada do pôr do sol, que naquele momento pintava o céu de tons de laranja, azul e roxo.

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