Roupa amassada.
Forte cheiro de álcool.
Os olhos vermelhos e inchados devido ao choro.
Estava acabado. Completamente acabado. E estava em pé (mais ou menos) na minha porta.
Certamente essa não era a imagem que ele apresentava no dia a dia. Muito menos era uma imagem que eu esperava ver algum dia sequer.
Não sei quanto tempo fiquei observando-o, mas, no exato momento em que ele se curvou vomitando no meu tapete de entrada, percebi que deixá-lo ali não era uma opção.
O puxei para dentro - com cuidado para que não pisasse na poça de vômito - e o direcionei para o banheiro. Levei-o - com muito esforço - para debaixo da água gelada, ignorando todas as suas reclamações sobre como estava frio ou de como suas roupas estavam ficando molhadas e pesadas.
Disse-lhe apenas para que terminasse o banho sozinho e tirei uma toalha junto com uma muda de roupa do pequeno armário, deixando-as separadas antes de sair fechando a porta rapidamente ao perceber que ele começava a se despir, sem se importar com a minha presença.
Minha respiração estava pesada. Meu coração batia sem freio algum. Minha cabeça girava mais que um carrossel.
Respirei fundo. Respirei mais um pouco. De novo... aí eu surtei.
Mas que diabos ele tá fazendo aqui? Como é que ele veio parar aqui? E que estado era aquele? Parecia que tinha sido atropelado várias vezes pelo mesmo caminhão.
O fato de já termos sido melhores amigos deveria fazer com que eu não questionasse ou então desse uma grande bronca nele, mas isso já não era uma realidade. Não nos falávamos desde quando? Sei que éramos muito próximos no colegial, mas desde que ingressamos na universidade isso mudou. O vejo constantemente pelos corredores, mas sequer trocamos oi's atualmente.
Então, novamente, mas que diabos ele tá fazendo aqui?
Percebo que passei muito tempo lembrando de coisas desnecessárias quando paro de escutar a água caindo, o que significa que ele logo sairia e eu ainda não tinha pensado no que fazer nesta situação.
Sem saber exatamente como deveria reagir, apenas vou para cozinha e pego um copo com água e um pacote de cookies e o noto saindo do banheiro apenas com a calça moletom que eu tinha deixado e enxugando os fios molhados. Ele vai em direção do sofá e senta no mesmo, antes de olhar para mim.
Por um segundo, não, por um milésimo de segundo eu senti todo o ar presente em meus pulmões indo embora, mas, no exato momento em que a minha consciência entrou em estado de alerta, ele voltou.
-Tenho certeza de que deixei uma blusa lá. - falo enquanto me aproximo dele, entregando o copo com água.
-Ficou muito colada em mim, preferi não usar. - ele fala simplesmente e toma a água, enquanto eu começo a comer os cookies. - E de quem são essas roupas? Mesmo que seu pai as deixasse na sua casa, o que não faz sentido algum, acredito que elas sejam pequenas demais para ele e não são nada como o tipo de roupa que ele costuma usar.
Sento no espaço vago do sofá e me viro para ele, observando as roupas que veste. Certamente essas não são roupas que meu pai usaria. Ele odeia roupas moletom.
-Primeiro: eu não tenho nada haver se ficam coladas, ou não. Você poderia, no mínimo, ter a decência de usá-las para não andar pela minha casa sem roupa. E segundo: elas certamente não são do meu pai. São as roupas que meu ex namorado deixou e nunca fez questão de vir buscar.
-Eu não estou sem roupa, não exagere. Se você não tivesse só me jogado no chuveiro, eu ainda teria as minhas roupas secas. E é sério que você me deu roupas do seu ex pra usar? Por que você as guarda, aliás? - Ele pergunta com um leve tom de deboche.
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Contos E Cores
KurzgeschichtenPequenos contos baseados em cores diversas e assuntos aleatórios. Histórias curtas e simples que me deram muita vontade de escrever. Espero que apreciem.