VIII - Notícia Injuriosa

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- Ares - disse Melanie autoritariamente, enquanto este depositava um beijo em sua mão direita e fazia uma reverência.

- A que devo esta honra? - os olhos do deus desviaram brevemente para Clarisse.

- Sua filha passou dos limites - respondeu Murilo, postando-se ao lado de sua líder. - Ela precisa de disciplina.

- Ora, como ousa dirigir-se a mim desta maneira?! - reagiu Ares. - Eu sou um deus, não tenho tempo para lidar com criancinhas.

- Quem você acha que é? - intrometeu-se outra guardiã de cabelos brancos.

- Eu já disse, sou...

A discussão lembrou Melanie brevemente de como ela era há muito tempo: imprudente e impulsiva. Nesses tempos, já tinha seu coração em processo de endurecimento, mas, neste momento, não havia espaço nele para misericórdia. Ela sabia qual era seu dever e estava exausta de ficar lembrando o dever dos outros, ainda mais quando eles tinham tanto poder nas mãos quanto os deuses. "Idiotas imprudentes..."

- Estou cansada - interrompeu, por fim, Melanie, fuzilando Ares com o olhar. - Pode simplesmente obedecer? Não estou com paciência para corrigir deuses hoje, honestamente... - repousou sua mão suavemente na testa.

- É claro, minha senhora - Ares ficou pálido ao fazer outra reverência. - O que posso fazer para ajudar?

- Além de parar de insultar meus guerreiros? - suspirou ela, avaliando-o com ar de superioridade, fazendo-o recuar alguns passos e assentir, concordando. Este efeito era um de seus preferidos: respeito pelo medo, embora ela soubesse que não seria eficaz durante tanto tempo quanto gostaria. - Quero que me escute com atenção, pois não repetirei. Sua filha, Clarisse La Rue, insultou a honra dos Guardiões e, portanto, insultou a minha honra. Isto não poderá passar impune, tendo ciência da falta de pedido formal de desculpas, que agora não teria validade alguma, caso fosse efetuado.

- Eu verei o que posso fazer... - começou Ares, avaliando a postura da garota que tanto o fascinava e o assustava. Se ele pudesse, teria recrutado-a para sua guarda particular. Como não seria possível, se ela o odiasse, ele decidiu recuar. Pelo menos, foi o que tentou convencer a si mesmo de que era verdade: ele não a temia. Apenas a desejava em sua guarda e em sua cama, como todas as outras.

- Não, eu já decidi a pena dela - ela suspirou. - Clarisse La Rue viverá com você até que eu diga o contrário. Não haverá privilégios nesta vida. Ela precisa aprender humildade e, portanto, não será tratada como sua filha e você está proibido de mimá-la ou qualquer coisa do gênero. Quero que a garota seja uma escudeira e trabalhe pesado, treine duramente, porque não deixa de ser uma semideusa e precisa se manter em forma para se defender, se for necessário. Ela deve ser punida, quando sair da linha ou quando se recusar a fazer qualquer tarefa que lhe for atribuída. Depois, virá servir a mim e ao meu exército até que eu esteja satisfeita - o silêncio pairou crescente em toda a praia. Nem mesmo os insetos ousaram quebrá-lo. Melanie pôde ver claramente uma sombra negra pairando em cima do jovem deus, uma sombra agourenta e perigosa. Sua visão fraquejou e ficou embaçada por breves instantes e, tão logo quanto veio, a sombra se foi.

- Não está sendo severa demais? - perguntou Quíron, fazendo com que os lábios da garota crispassem-se em sinal de irritação.

- Você prefere que eu a açoite? Prefere que eu a coloque numa pilastra para que os corvos biquem seu fígado todos os dias? Sinceramente, Quíron, não temos tempo para rebeldias. Não temos mais nada a falar sobre isso. Isto vale para todos aqui - ela lançou um olhar ameaçador a todos os campistas, desafiando-os. Convidando-os a testar sua autoridade. Zeus sabia como ela poderia ser severa, se quisesse, mas o que ela estava fazendo pela Clarisse era piedoso. Ela salvaria a vida de mais um semideus para tentar compensar as mortes que já causara e as que ainda causaria. Era exatamente como dissera a Tritão: quando escolhem seu fardo, ninguém será misericordioso e você terá que aceitar, porque não escolheu antes, quando tinha tempo. - Leve-a daqui imediatamente, Ares. Não a quero mais aqui - com isto, saiu caminhando em direção ao seu chalé, com seus guardiões em seu encalço.

Filha Do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora