Capítulo XVII - Lugar de Consolo

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Ji Min não pensou. Se tivesse pensado teria se jogado no chão e começado a chorar. Mas não estava pensando e por isso cruzou a curta câmara na velocidade de um raio e saltou atrás do Imperador.

Repetindo: ele não estava pensando.

Yoon Gi havia pulado de costas e despencava de braços abertos e olhos fechados, o que, somado ao mergulho de cabeça do maluco que o seguia, permitiu que fosse alcançado rápido. Ji Min o abraçou, e ele começou a gritar e a se debater de imediato, tentando se desvencilhar de seu toque, mas não o soltou, espremendo-o contra seu corpo. O vento rugia ao redor de ambos, e o fundo do Abismo se agigantava, esbranquiçado. Era a imensidão de ossos que o forrava, tudo que restava dos infelizes que tiveram as almas devoradas por Kud, a refletir fantasmagoricamente à luz do luar. Era a morte chegando, arrasadora e veloz.

Ji Min jamais imaginou que fosse ter de passar por isso de novo, e ali estava: o mesmo pesadelo o esmagando uma vez mais, só que era pior com Yoon Gi se debatendo, entregue às lágrimas e aos berros desesperados. Um Sonho era sempre pior que o anterior.

Tira a gente dessa, Senhor Dameolin! Ji Min desejou com todas as forças, dando impulso para girar o corpo e conseguindo trocar de posição com o Imperador, ficando por baixo dele. Se o Senhor da Corte Celeste não os salvasse, seria o primeiro a ser engolido pelas trevas infernais. Algo injusto, afinal não fizera nada para merecer isso. Por favor, não nos deixe morrer!

Suas costas se chocaram contra o tapete de ossos.

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Yoon Gi não temia a morte, tampouco a Kud. O Deus das Trevas oferecia dor e sofrimento inextinguíveis às almas que desciam ao Seu sombrio reino, perturbação pouco significante para o Sopro da Lua que convivia dia a dia com esses agentes desde o nascimento, a cada vez que respirava, a cada vez que se movia. Passar a eternidade sob o jugo de Kud não seria nada, além de uma continuação da vida que sempre havia tido.

O que o assustava realmente era a ideia de ser tocado. Não em sua pele, mas em seu coração.

Aprendera desde cedo a só esperar o pior das pessoas, seus pais — para quem não passava de um risco e uma vergonha — cuidaram de lhe ensinar bem. Por isso, não confiava em quase ninguém e procurava não se apegar a quem quer que fosse, assim não se decepcionaria quando o traíssem e abandonassem, assim estaria a salvo da única dor que realmente poderia feri-lo.

Era o que desejava, ao menos.

Havia aqueles que tinham feito por merecer sua confiança, e aqueles aos quais não pudera evitar de se apegar. Eram poucos, contudo ainda assim seu coração doía por eles a cada decisão tomada, a cada ato empreendido, pois precisava fazer o seu melhor pelo bem deles. Sempre. Algo penoso, que quase sempre o machucava e que por vezes não era o bastante. O destino trágico de Kim Min Kyu e a loucura cometida por Yoo Ri provavam isso muito bem.

(Por anos, o Sopro da Lua havia suportado as humilhações impostas por seu pai e soberano e se curvado a vontade dele para que Min Kyu tivesse uma vida longa, entretanto, a despeito de seus esforços, ele teve uma morte precoce. Também havia acatado as ordens de sua mãe e se afastado de sua família para que suas irmãs permanecessem a salvo, no entanto Yoo Ri se expôs a um grande risco apenas para vê-lo.)

Seu melhor nunca seria o bastante. Ainda assim, era o máximo que podia fazer por eles. Por isso, e apenas por isso, aceitara levar a ideia de Ho Seok adiante, apesar de tê-la detestado com todas as suas forças, assim como detestava ser nobre, assim como detestava ser um membro da Família Imperial, assim como detestava ser Imperador, assim como detestava ser: porque a sua resposta, a única resposta além da de seu irmão, feriria aqueles que lhe eram preciosos.

Outlander || YoonjikookOnde histórias criam vida. Descubra agora