Capítulo Único

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"Você está sempre na minha mente

Penso em você o tempo todo

Hum...Não

Eu amo as coisas que você faz

E amo o jeito como você faz tudo que ama

Mas essa não é uma canção de amor."

- Not a Love Song


[...]


Tenho a leve impressão de que as coisas não deveriam acontecer assim.


Você sempre esteve comigo. Desde que éramos moleques catarrentos.

Quando eu precisava você sempre estava lá. Minha melhor amiga.

Eu passei por momentos tristes. Raivosos. Horrorosos. Doloridos. E nunca, absolutamente nunca, você me deixou sozinho.

Lembro-me de quando briguei com meus pais, em um período da minha adolescência conturbada. Eu acabei fugindo de casa, e se não fosse por você, eu teria ficado pelas ruas mesmo.

Lembro também de quando tive minha primeira namorada. Uma menina bonita, fofa e popular. O sonho de grande parte dos garotos. A inveja de grande parte das garotas. Enquanto namorávamos, fui perseguido constantemente por elas.

Mas quando rompi com minha namorada, você foi a única mulher com quem eu pude contar.

Me lembro do nosso primeiro abraço. Das tardes de risos e filmes em sua casa. Quando você sorria eu via uma irmã mais nova. Minha pequena. Era tudo perfeito.

Até que...

Até que...Seu sorriso passou a valer bem mais do que isso.

Ele passou a ser o motivo dos meus sorrisos bobos. O motivo da iluminação do meu dia.

Você, rindo, dizia que eu estava estranho contigo. Mas pra mim aquilo era tão involuntário que se tornara normal.

Por dias considerei a hipótese de...Ah, não tinha sentido.

Fiz questão de colocar na minha mente que nada havia mudado. Eu continuava o mesmo e você também. E prosseguiríamos como sempre. Amigos.

Se eu tomasse aquela decisão, as coisas voltariam a ser como antes.

Erro meu.

A lei de Murphy nunca falha nessas horas. No fundo eu sabia que iria dar errado, e deu.

As coisas só pioraram.

Eu comecei a me sentir esquisito, um sentimento estranho pra quem achava que as coisas melhorariam. Eu comecei a sentir a DROGA do ciúme.

Seus rolos com outros caras, que antes não me incomodavam, agora me faziam ferver de raiva, tristeza e descaramento.

Raiva porque eu simplesmente não suportava te ver ao lado de outro cara. Eles não mereciam você. Uma vez eu quase saio no soco com um deles, eu faria um estrago se você não tivesse me impedido.

Tristeza porque...Mesmo que me doesse, eu precisava aceitar que você poderia ser feliz com outra pessoa. Outra pessoa que não fosse eu.

Descaramento. Descaramento porque eu vivia dizendo a mim mesmo que você era como minha irmãzinha menor, mas quando eu me imaginava no lugar dos garotos que você beijava, eu não tinha a menor vergonha na cara.

É, agora eu estava com medo.

Mas o auge pra mim foi quando, no seu aniversário, eu me peguei fazendo uma música pra você. Uma música de amor.

NÃO.

DEFINITIVAMENTE NÃO.

Eu tive que mudá-la. Deixa-la a menos romântica possível.

Se foi difícil?

Foi sim. Tanto que eu nem consegui.

Ora eu escrevia sobre nossos encontros, suas manias. O modo como eu amava ver você fazendo qualquer coisa.

Quantas vezes eu tive de mentir pra você, afirmando estar bem. E não. Eu não menti por desconfiança. É só que, me dá medo dizer...

Que me apaixonei por você.

Droga, aquilo estava me matando por dentro. Sequer sei em que momento passei a te ver com outros olhos.

Arrepio-me quando fala comigo, quando me toca.

E eu só quero dizer que eu adoraria que você sentisse o mesmo que eu.

Não sei como aconteceu. Não sei em momento você passou de ser minha amiga...A ser o meu amor.

Sabe de algo? Eu deveria estar assustado. Mas eu estou bem. Eu estou contente. Mas logo fico nervoso, só de imaginar no que você pensaria de tudo isso.

Fico aqui pensando, nossa amizade é algo maravilhoso. Mas...

Você seria capaz de me amar como eu te amo?

Quando eu terminei a música, percebi que não poderia esconder por mais tempo. Nem que eu quisesse.

A música era tão óbvia. Eu fiz questão de ressaltar que não era uma canção de amor, mesmo que toda a letra disse-se o contrário. Eu realmente estava bem desesperado.

Você era uma garota inteligente, facilmente perceberia o que eu realmente queria dizer. E talvez...

Só talvez, eu quisesse que percebesse.

Mesmo não querendo admitir, eu precisava.

Aquilo, definitivamente, era sim uma canção de amor.

Not a Love Song - MYGOnde histórias criam vida. Descubra agora