Capítulo Unico

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O dia amanhece, e com o sol vem também as obrigações. As pessoas acordam e seguem sua rotina, dispõem-se ao trabalho ou à escola, começam a executar suas obrigações com a família, seguem a caminho da academia, alimentam seus pets ou aproveitam a manhã para dormir mais um pouco. Mas não Louis Tomlinson. Louis não acorda - sequer dormira à noite. Louis não tem trabalho, ou escola, ou familia, nem sequer uma rotina. Louis não tinha nada além de sua própria mente.

Levantou aos primeiros raios de sol, tomou um banho gelado mesmo com a neve caindo lá fora, e preparou para si chá quente, o suficiente para duas canecas, mesmo estando sozinho; ainda não se acostumara totalmente à própria compania.

Passou sua manhã distribuindo currículos pelas empresas da cidade. No entanto, naquela época do ano - logo após o ano novo - ninguém realmente tinha vagas disponíveis em suas lojas, principalmente para alguém que sequer tinha completado o ensino médio. E por essa impaciência - "Como alguém que sequer completara a escola tinha a ousadia de vir pedir emprego?" - as pessoas olhava-o impaciente. Alguns nem mesmo dizia algo evasivo como "entraremos em contato", apenas o dispensavam logo de cara.

Mas ninguém foi tão odioso quanto o cara da padaria. Era um homem branco corpulento e alto, com um bigode exagerado e roupas de lenhador. Parecia ter saído direto de um desenho animado, tão caricato que era. Louis nem bem se apresentara, estendendo-lhe seu currículo, o homem bradou rudemente.

-Que é isso? E eu lá falei que estamos contratando? Han? Tem uma placa lá fora? Han? - Disse, apanhando o papel das mãos de Louis e o amassando. - Váde daqui! Han!

Dali, Tomlinson desistiu. Fora uma manhã exaustiva e aparentemente sem resultado algum, não conseguiu nada além de frustrações e cansaço. Mal via a hora de voltar pra casa e tirar aquelas galochas pesadas e úmidas. Por mais que a neve deixara de cair ainda ao amanhecer o frio continuava, e Louis queria mais que tudo um bom banho - quente, desta vez.

É sabido que é embaixo d'água que os pensamentos mais íntimos surgem, e debaixo daquele vapor no banheiro Louis pensou sobre como não teria meios de pagar suas contas no mês seguinte. A última parcela do seguro desemprego caía em janeiro, e sem família a quem recorrer as contas de fevereiro estavam a deus dará. Um trabalho já perdera as esperanças de conseguir até o mês seguinte. Sua única opção seria recorrer aos meios tradicionais de apropriação de bens.

Aprendera durante a infância, com um vizinho traficante, a aceitar as coisas como são: se ele não conseguiria sobreviver sem recorrer a um assalto, então que assaltasse. Não podia se dar ao luxo, afinal, de ficar sem energia durante o inverno. Com este mesmo traficante ficou sabendo algumas técnicas para abordar pessoas em diferentes situações: se quer ser furtivo e não deixá-la perceber ou se quer ser ameaçador e obriga-la a lhe passar seus bens. E Louis sabia muito bem qual iria usar naquela noite.

Voltaria à padaria e faria um assalto. Conseguiria seu dinheiro, não atrapalharia um pobre inocente e ainda se vingaria do mal amado. Três coelhos com uma só cajadada.

°°

Já era 18h, o sol começava a se pôr e a maioria das lojinhas ao redor já se fechava. Não a padaria, claro; esta permanecia aberta até a noite, por volta das 20 horas.

Louis saía de sua casa com a faca no bolso do moletom. Obviamente não pretendia usa-la, mas era reconfortante ter uma arma ao alcance da mão. E, claro, usaria-a para ameaçar aquele homem estúpido.

Louis adentrou a padaria sem cerimônias, passando rapidamente o olho pelo local se certificando que estava vazio - com aquele frio apenas um louco se disporia a andar por aí; um louco ou um assaltante. Voltou-se para o balcão já empunhando a faca e gritando.

-Me passe todo o dinheiro, seu estúpido!

No entando, não falara mais. Do outro lado do balcão, vestindo um avental verde e touca não estava um homem corpulento e sem senso. Lá estava um jovem de no máximo vinte anos, assustado e sem reação.

Do lado de cá também havia semelhante sentimento: Louis estava surpreso, amedrontado e confuso. Quem era aquele jovem? O que fazia ali? Onde estava o sem tipo? Antes de sequer pensar em outras perguntas, no entanto, o jovem do outro lado lhe beijou.

ELE. LHE. BEIJOU.

QUÊ?!

Louis não entendeu exatamente o que estava havendo. O moço a quem estava assaltando... estava o beijando? Tipo, de língua? E ele estava correspondendo? Que universo paralelo do ridículo era aquele?

O balconista se afastou assustado, sem entender sua própria reação. Louis, que tinha abandonado a faca no balcão sem perceber, olhava-o extasiado. Ok, o garoto era bonito e beijava bem. Mas o que tinha acontecido ali?

-Ai meu Deus, você está me assaltando? - Perguntou assustado.

-O q... Não! -Replicou. - Você me beijou?

-Eu entrei em pânico, você está me roubando!

-Eu não estou te roubando, estou roubando aquele velho nojento! Onde ele está? E quem é você?

-Ele trabalha no primeiro turno e eu no segundo. -Respondeu o garoto, confuso. - Por que quer assaltar ele?

-O quê? Ele não é muito educado... Por que me beijou? - Perguntou Louis, ainda sem se situar.

-Já disse, eu entrei em pânico!

-Escuta, eu vou embora agora ok? - Afastou-se - E, levando em conta que não roubei nada, se você puder não chamar a polícia... É. Tchau.

°°

Deus, aquilo foi um fiasco total. Um absurdo de ridículo. Até sua vó faria um assalto mais bem sucedido. E Louis não se arriscaria a tentar outro tão cedo. Era quase 23h e Louis encarava o teto de seu quarto, mortificado.

Que. Desastre.

Do nada, seu telefone começa a tocar.

-Tomlinson.

-Oi! É o Harry.

-Quem?

-Ah você não sabe meu nome. É o Harry, da padaria, lembra? Que você tentou assaltar há algumas horas.

-O q... Não?

-Não lembra?

-Não assaltei nada?

-Louis, está tudo bem. Não contei a ninguém. Você disse que o Bob não era muito simpático, eu acredite você não foi o primeiro a reparar. Demiti-o hoje mais cedo. Ele gostava de pensar que era o dono mas na verdade sou eu. O fato é: temos uma vaga sobrando aqui na padaria e eu vi que você está a procura de emprego. Encontrei seu currículo jogado por aqui. Eu gostaria de lhe convidar a se juntar à equipe. Basicamente a equipe era eu e Bob, quer dizer agora eu e você. Mas só se você aceitar, por enquanto a equipe sou só eu. Mas eu go-

-Espera, espera. O que? Eu quase assaltei sua loja e você quer me oferecer um emprego?

-Sim. E eu beijei um assaltante hoje mais cedo, você percebe que eu não tenho muita noção de riscos. Mas eu fiquei sabendo do que aconteceu hoje pela manhã, seus motivos. Acredito que se não fui eu o assaltado hoje, amanhã será outro. Mas se você tiver um emprego, que é o que você quer... Bem, não há motivos pra você fazer nada, não é?

-Sim, claro que sim! Você está falando sério, Harry?

-Então você aceita?

-Mas é óbvio! Jesus, você é louco!

-Eu sei - riu. - Então, te vejo amanhã às 6 da manhã, vou te explicar o trabalho. Aliás, você beija bem, Louis Tomlinson. Boa noite!

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