Capítulo XII - Como eu imaginaria o paraíso

461 65 135
                                    

*A Ludmilla mandou avisar que é hoje!

Blake Haas

Sim, esta definitivamente é a noite. A noite em que vou botar para foder. Na verdade, estas não foram bem as exatas palavras da Diaba ao aceitar que eu a tirasse para dançar.

Segundo ela, sua inclinação repentina a balançar o esqueleto em minha companhia se chama sorte.

Aliás, ela que chame como quiser. Desde que saia de sua boca bem delineada pelo batom carmim-pacto-de-sangue, acredito no que for. Com um sorriso letal estampado no rosto, a beldade espicha uma das mãos em minha direção.

Com a outra mão, ela larga sua taça vazia na bandeja do garçom. Tão logo sua palma quente aperta suavemente a minha, giro-a em volta de seu próprio eixo, embriagado pela fragrância que emana de sua pele.

Junte belos ombros desnudos cheirando a sândalo e baunilha com um hálito aquecido pelo álcool e veja um homem enlouquecer. Ainda mais quando a mulher que o deixa assim tem nos olhos um brilho único que reluz feito diamante.

As ondulações românticas de seus fios negros à la garçonne, conferem-lhe o charme particular das melindrosas. Vale pontuar que ela está absolutamente belíssima nesse vestido com pedras encrustadas em dourado e cinza. Franjas azul-marinho caem sob seus joelhos, mas as pernas estão livres. E que pernas.

Antes que eu perca completamente as estribeiras, envolvo a deusa em meus braços – sentiu o conflito? Estou corpo a corpo com uma mulher que carrega em si duas entidades que, até então, eu nem acreditava que existiam.

Savannah balança os quadris em movimentos circulares e rítmicos ao som do rearranjo de Why Don't You Do Right feito pela majestosa orquestra de jazz contratada especialmente para a gala. Enquanto me incinera com seu contato visual, mexe a boca suculenta de acordo com a letra da canção. 

É provável que seu corpo esteja tão aquecido pela música quanto o meu por seu olhar escaldante. Cada palavra parece deslizar de seus lábios despretensiosamente.

A cada vez que suas mãos tocam meu corpo, sinto uma explosão de eletrodos lavrar cada centímetro de minha pele, que queima agora como a porra de um vulcão. Uma parte de mim encontra-se especialmente animada, mas isso não vem ao caso.

Os ombros altivos e a postura impecável de Savannah confirmam a minha suspeita: não há nada que esta mulher não possa fazer.

— Você está deslumbrante hoje, Srta. Wolff. — Mesmo a jogando de um lado para o outro, ainda tenho coordenação suficiente para soltar galanteios.

Estou sentindo-a inteira, porque meu braço direito toca toda a extensão de suas costas, a minha mão está um pouco abaixo de seus melões bem esculpidos e os meus olhos devoram o resto de seu corpo.

— Só hoje? — Ela levanta as sobrancelhas e objeta inteligentemente.

Com a melodia do piano, do contrabaixo acústico e dos vocais aveludados que fazem jus a Julie London, giro-a novamente em seu eixo.

— Hoje e sempre, não é novidade nenhuma — Respondo mais compromissado com a verdade do que qualquer outra coisa. — Só não sei por que me agarrei ao patético lampejo de esperança de que a senhora engoliria a soberba pela primeira vez na vida e diria "você também, Sr. Haas".

— Seria um desperdício de tempo e de saliva te dizer aquilo que você já sabe — Savannah faz questão de oferecer seu melhor sorriso de deboche. — Sem mencionar que inflar o seu ego gigantesco seria também um desserviço à comunidade. Não é o que fazemos aqui.

Crossed Lines: sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora