Capítulo XVIII - E ainda dizem que o crime não compensa

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Savannah Wolff

O ambiente está tomado por uma névoa de vapor que me entorpece e me despacha para fora de meu próprio corpo.

O que ontem era suor, agora é água. As gotículas descem pelando e abrasando a carne enquanto eu termino de me ensaboar.

Meus dedos deslizam por toda a extensão que ele percorreu com seus olhos atentos – e as mãos, a boca, a língua.

Uma suave espuma branca se forma exatamente na área a qual seus dedos previamente mapearam. E devo pontuar que deixaram uma impressão das mais dignas.

Blake foi um oponente à altura no campo de batalha. Um competidor com uma mão cheia de rainhas e áses.

Um adversário que bradou check-mate. Game over, perda total.

Knocked Out. Estou fora. Fora de mim, ao que tudo indica. 

Não deixar o inimigo avançar em seu espaço pessoal é o primeiro passo, se não o fundamental, para não se apegar a ninguém. Eu só tinha uma missão. E eu falhei miseravelmente nela.

O recebi em meu apartamento de braços abertos, sem nenhuma emboscada.

Quem conhece a base, conhece também as táticas do rival, e, por sua vez, identifica facilmente eventuais fraquezas.

E quando você já deu por si, não há prática de defesa que possa te ajudar a ficar de pé novamente.

Nem o general mais casca grossa de todos é capaz de se proteger de um bom infiltrado.

Um general do exército comanda seus soldados no campo de batalha. Com quase a mesma disciplina, eu lidero minha equipe na redação.

Mas aqui, entre quatro paredes, fui derrotada. Blake me derrubou entre os lençóis. Ao menos cai suntuosamente em meu conjunto de cetim e algodão mil fios.

Fiquei imersa em nossa própria desordem. Seus movimentos, ora lentos, ora desejadoramente grosseiros e brutos me mandaram para o céu.

Mesmo sem frufrus e juras de amor, Blake me presenteou com beijos ternos – permeados de um ardor que ficará marcado na minha pele para sempre.

Ele me ofereceu o oral mais majestoso que já recebi na vida.

Como eu poderia esquecer? Me entreguei a ele mesmo não devendo. Mesmo sabendo que tem rabo preso com a ex e que talvez isso volte para me assombrar.

Não pude evitar. Não quis evitar. Quando dei por mim, já estava em seus braços.

E quando estava em seus braços, não queria estar em nenhum outro lugar. Isso é o livre-arbítrio.

O que vem depois é consequência, e não vivo pensando nelas. Talvez perdesse o melhor da vida se o fizesse.

E talvez tivesse conservado mais da minha sanidade se não fosse tão impulsiva.

De qualquer forma, o que está feito, está feito.

Estou praticamente agindo no automático desde que acordei.

Quando saí do banheiro, não vi nenhum sinal de Blake na cama. Ainda assim, posso sentir sua presença por aqui.

Ele não sairia sem se despedir. Não depois de seus lábios ferozes terem clamado tanto por mim na noite que se passou.

Lavei o rosto com água morna e apliquei um limpador facial – água de coco, extrato de chá verde e aloe vera.

Pele macia, cheirosa. Sem erros. Finalizei meu ritual de higiene com a minha loção corporal favorita: suave e amadeirada.

Crossed Lines: sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora