Capítulo XXVI - Eu junto os pedaços e ataco de volta

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Savannah Wolff

A situação ficou intensa muito rapidamente. Pensei que uma cadeira voaria pela requintada sala dos Haas a qualquer momento.

Achei que Blake e Sebastian fariam um estrago. Mas foi Jack quem soltou a bomba: câncer de próstata.

O baque deixou Blake sem reação. E, no momento, eu só quis abraçá-lo.

Jack pode ser um sujeito repugnante, mas mesmo assim, ainda é seu pai. Ele contou-nos que andava tendo muita dificuldade em urinar. Se sentia impotente e assustado.

Victoria insistiu para que ele fosse ao urologista. Mas ele se mostrou muito cabeça dura - como sempre. Por mais que Sr. Haas não seja lá a pessoa mais decente do mundo, câncer é muito triste.

Preciso estar aqui para Blake. E vou estar.

Victoria foi forte, apesar de abatida, não se desestabilizou em nenhum momento.

Ainda que eu não entenda porque continua com ele, não sou ninguém para julgar seus motivos. Não cabe a mim avaliá-la. Só sei que é uma mulher gentil e honesta. Não merece sofrer. Não merece um homem como Jack em sua vida. Um homem repugnante a quem Blake e Vincent não se assemelham nem um pouquinho. Graças a Deus. Sebastian já é outra história. Bem diferente. Ou melhor, é um capítulo podre da mesma história.

Foi difícil engolir o jantar com uma bola estagnada na minha garganta. Blake, assim como a mãe, também não derramou uma lágrima.

Comemos praticamente em silêncio. Não tinha clima para mais nada, nem para brigar.

Fomos embora pouco mais de uma hora após a revelação. Eu e Blake demos um abraço apertado em Victoria. Um adeus seco a Delilah e Sebastian, e um aperto de mão a Jack foi suficiente, já que não somos próximos. E nem nunca seremos.

Desejo que melhore, mas não vou fingir que simpatizo com ele.

Com Blake tendo enterrado o punho na face do irmão por ser um canalha racista e traiçoeiro, e a revelação do câncer de Jack até me esqueci do drama inteiro envolvendo Sebastian namorando a ex do irmão.

Foi um jantar bem movimentado.

Voltamos para o apartamento de Blake. Tirei minha roupa, e ele foi para o banheiro.

Decidi lhe dar espaço. Mas uma vez que estava demorando demais, fui ver como ele estava.

No caminho de volta para cá também esteve quieto demais.

— Como você está?

Blake cospe a pasta de dente na pia, e respira fundo antes de responder:

— Estou bem. Não é só porque ele está doente que eu preciso esquecer que nunca foi um pai decente. Que sempre bebeu além da conta, sempre se mostrou agressivo. Demonstração de carinho para ele era 'feliz aniversário', quando lembrava. Nunca sequer me chamou de filho sem ser na frente dos outros. Ele só faz mal pra minha mãe e a todos a sua volta.

— Eu sei que ele é uma pessoa terrível, sei que ele te dá asco e que você não suporta o fato de ver sua mãe sofrendo. Mas o que eu sei e o que eu acho não interessa. Você é quem sabe o que precisa fazer.

— As pessoas não mudam, Savannah — Ele seca a boca com uma toalha. — Não é só porque ele descobriu câncer que merece ser canonizado.

— Óbvio que as pessoas não mudam. Mas você é uma boa pessoa. Isso também nunca vai mudar — Me aproximei dele, colando meus lábios em sua testa. Envolvi-o em um abraço caloroso. — Você precisa estar lá. Para a sua mãe, ao menos. Não por ele. Sabemos que ele não merece um pingo da sua consideração e nem da de ninguém. Não é todo mundo que te merece e que te enxerga. Você é bom, Blake Haas.

Crossed Lines: sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora