Crossed Lines: sem limites

Capítulo XXVIII - Não quero que faça amor comigo

ஜ Savannah Wolff

O mundo é complexo. Mas, em síntese, tudo se resume a um bom e velho jogo de conveniências.

Se te ajudei a preparar o bolo na base do quid pro quo, naturalmente é porque espero um pedaço. Uma mão lava a outra.

Num rompante, Desmond Ruffalo apareceu entre mim e Blake, tirando-me de meus devaneios. Admito que fiquei um tanto reticente quanto a sua proposta. Não sabia o que fazer.

Todavia, posso afirmar com certeza que muitos almejam o sucesso, mas poucos têm o toque de Midas. E tudo que as mãos de Ruffalo tocam vira ouro. Que bom que o dito cujo usa seus poderes para fins maiores do que ele mesmo.

Os fundos arrecadados com o leilão organizado pelo estilista serão revertidos para o triunfo do departamento de vestuário do Instituto de Moda.

O patrocínio do leilão veio dos setores mais abastados da Big Apple. A realeza da moda custeia o convite de celebridades (que se tornam cartões de visitas de suas marcas) para uma noite agradável regada a champanhe e boa música.

O dinheiro arrecadado no leilão é utilizado para manter o funcionamento do Instituto. Todos saem ganhando.

O meu papel secular não é de recatada e do lar – embora não tenha nada de errado em ser dona de casa. Eu apenas tenho uma revista para comandar e meus melhores interesses são definidos com base na minha posição. É o suficiente para que eu não me deixe levar pela colônia de borboletas que virou parte do meu suco gástrico. Mas, porra, é difícil hein.

Amar. Estar em um relacionamento. É levar os sentimentos do outro em consideração. Porém algumas oportunidades você apenas não pode deixar passar.

Blake tem muitas qualidades - milimetricamente bem distribuídas entre 1,75 de altura e a sutileza é uma delas. Mas, no momento, ele está visivelmente insatisfeito com a ideia de me ver indo jantar com outra pessoa, mesmo que seja por uma causa nobre. Na posição dele, eu estaria do mesmo jeito, ou até pior. Não sejamos hipócritas.

— Vou deixar vocês dois sozinhos, parecem que precisam conversar. Savannah, espero te ver nos bastidores — Desmond descansa sua mão quente em meu ombro. — Confio em você para pensar com muito carinho na minha proposta.

— A minha contraproposta está de pé. Aceito o jantar, contanto que você aceite dar uma exclusiva para a Entertainment. Não converse com mais nenhum outro veículo da mídia sobre o evento de hoje e temos um acordo.

— No dos outros é refresco, não é mesmo, Ruffalo? — Blake sorri com escárnio. — Por que não pediu para que a sua ex-esposa te fizesse esse nobre favor?

— Se apenas jantar com algum endinheirado fosse fazê-la parar de me sobrevoar como um urubu, meu caro, faria de tudo para que aceitasse — Desmond ri. — Savannah, não vou te dizer para se lembrar de todos os jovens menos afortunados aspirantes a fashionistas que dependem do Instituto para realizarem seus sonhos, porque sei que essa é apenas uma das partes da equação. Mas se me fizer esse favor, a exclusiva é sua. Mantenha isso em mente. Agora, se me dão licença.

Quando Desmond virou as costas, eu e Blake ficamos a sós.

— Jantar recreativo com quem der mais? Interessante. — O tom seco de Blake não passou desapercebido.

— Além desse jantar impulsionar os fundos do Departamento, a entrevista do Desmond será positiva para a imagem da revista. Tudo isso em troca de duas horas de conversa fiada e um Petit Gateau, amor — Acaricio sua mão. — Eu sei que é difícil, mas encare isso como um jantar de trabalho.