Capítulo XXIX - Não há miséria que um pouco de uísque não possa curar

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Savannah Wolff

Que tipo de explosão química está por trás da raiva? O que precede aquele impulso nuclear que te rasga o peito porque alguém acendeu seu pavio?

Por que não há cessar fogo que pare o que está em curso?

Seu sistema nervoso simpático é o verdadeiro vilão (ou herói). É o responsável por providenciar defesa para algo que possa eventualmente te colocar em risco.

Você se sente ameaçado, e então ataca, arremessando escombros por todos os lados. Como uma maldita granada.

Quando se trata de nós mulheres, a TPM é o maior bode expiatório. Sempre acabam encontrando um jeito de culpar nossos hormônios por qualquer minúsculo traço de frustração.

Alerta: somos mais que estrogênio e progesterona. Não renego a condição de amontoado de hormônios, mas adiciono inteligência e proatividade a equação.

Por isso, após Blake ativar meu detonador com proficiência e ficar bravo por ter de lidar com os estilhaços, deixei-o falando sozinho. Ademais, se eu abrisse a boca, o mandaria para a casa do caralho.

Pensando bem agora, ele nem falou nada tão grave. Mas na hora do atrito, as coisas tomam proporções diferentes.

Casais brigam. É assim desde o início dos tempos.

Me pergunto se a pobre Eva, saída da costela de Adão, também explodia com o dito cujo de vez em quando. Bem, antes do Jardim do Éden, da maçã e do profano aposto que tudo era meio mórbido. E chatinho.

Primeiro porque, que porre devia ser não conhecer o pecado, e segundo, porque ser dama de companhia também não parece muito divertido.

Se é para acreditar em alegorias, sou mais conivente com a de Lilith, que teria sido a primeira esposa de Adão – como ele, criada do pó, por isso não aceitou ser dominada e se desentendeu com ele, provavelmente mandando o companheiro à boa e famigerada merda.

Ver o ciúme de Blake revirar meus desenrolos amorosos me fez fritar de raiva por dentro. E ele mencionar meu desarranjo intestinal foi a cereja no topo do bolo. Bem, admito que lembrando da cena antes de dormir eu quase ri de sua piadinha infame. Maldito.

Ainda que tivesse dormido irritada, cinco horas de sono foram uma quantidade satisfatória de descanso para que eu tivesse força de vontade para deixar o conforto dos edredons.

Amanheci com uma leve dor no umbigo e um namorado esparramado entre os lençóis emitindo ruídos que colocariam um carburador em vergonha. Deixei-o roncar, e fui me vestir para o trabalho.

O relógio parecia zombar do meu atraso. Justo hoje que finalmente saberemos quem foi nomeado(a) diretor(a) criativo(a) da RFP.

Oh, e a noite jantarei com Charles Valenzuela. Que foi (pretérito perfeito do indicativo que equivale a JÁ ERA!) meu primeiro amor. Não é atoa que o amor da minha vida (do presente e do futuro) ficou bravo, eu também ficaria. Preciso lhe dar um desconto.

Blake provavelmente está em um sonho bom, já que tem uma massiva arma de destruição disfarçada de sorriso entre os lábios.

Me aproximo da cama, sentindo sua respiração.

— Do jeito que está sorrindo, é melhor estar sonhando comigo, mi amor. — O que era para ser um pensamento, escapa de minha boca.

— É um alívio saber que a sua voz está de volta nos conformes, deusa. Achei que nunca mais iria ouvi-la. — O moreno desfila seu sarcasmo juntamente com um bocejo seguido de uma espreguiçada em que ele tirou dois quilos de remela nos olhos.

Crossed Lines: sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora