Capítulo XXX - O próximo na linha

280 36 487
                                    

Blake Haas

Quando se está numa missão contra o relógio, tudo fica mais propenso a dar errado.

Nos moldes da lei de Murphy, a lâmina de barbear nova te abre um talho de fora a fora, absolutamente todas suas meias então sujas, metade dos seus pertences se encontram em localidade desconhecida, e a quina da mesa nunca pareceu mais atrativa aos olhos do seu mindinho.

Certas coisas foram feitas para dar errado, não? É a lei sadista do universo.

Ué, mas você não disse que não acredita em destino, obra do cosmos e o raio, você se pergunta. Sim, procede, eu te respondo. Não sou o maior fã de teorias da conspiração sobre a atuação do imprevisível, mas admito que se acreditasse nelas, seria naquilo que confabula para o desastre.

Nesta manhã meu despertador não tocou, cheguei atrasado na reunião e acabei derramando café no meu paletó favorito, mesmo assim, por algum motivo desconhecido, eu tinha pressentimentos bons sobre esse dia em especial.

Porque fiz as pazes com Savannah, talvez.

Ela ficou apenas algumas horas emburrada, o que para mim pareceu uma eternidade. Não me restam dúvidas: qualquer briga requer sexo de reconciliação em modo monstruoso. Mal posso esperar.

Saí da casa de Savannah vestindo outro paletó com um braço, segurando a minha maleta com a mão que tinha livre e uma torrada entre os dentes.

Depois de engoli-la rapidamente, peguei meu celular para checar as novidades do dia e algumas centenas de chamadas perdidas de minha mãe e diretora de relações públicas da CHC Media.

Respondi e-mails, enviei mensagens e chequei a bolsa de valores no caminho para o encontro de um Nicholas furioso. Meu diretor de conteúdo e sócio me esperava ao lado de três investidores em potencial.

Para livrar-me de represálias pela chegada tardia, poderia ter usado uma série de pretextos patrocinados pelo meu intelecto incrivelmente bem-dotado: desarranjo intestinal, chuva torrencial de canivetes, tráfego interrompido por um surto pré-apocalíptico. Mas apenas me desculpei pelo atraso e começamos a discutir o que realmente importava.

No correr da tarde, arregaçamos as mangas para fazer da CHC Media o recém-nascido mais bem cuidado da Big Apple.

É certo que um bebê vai exigir seu esforço, drenar todo seu suor e beber cada gota de seu sangue. Isso tudo enquanto é amamentado pelos seios da sua mulher. De quebra ainda levará seus melhores anos. Sugará tudo que você tiver e mais um pouco.

Mas suponhamos que ver o bebê robusto, desenvolvido e com um horizonte promissor seja pagamento suficiente. A CHC tem pouca idade, mas também tem pais muito engajados e comprometidos com o seu sucesso.

Em meus dias de solteiro, numa escala de zero a dez, sendo 0 extremamente improvável e 10 extremamente provável, as chances de eu passar uma sexta-feira à noite sozinho eram quase nulas. Agora, no entanto, o mais próximo que me encontro da diversão é estar enfurnado na agencia, com nada além de meus lampejos de genialidade e Nicholas Hawthorne.

— Fechamos mais um negócio! Estamos no caminho para gerar milhões de dólares em receita, meu caro — Nick fecha sua pasta e apanha seu paletó. — Os funcionários já foram, e essa é a minha deixa.

— Você quer dizer os outros cinco funcionários. — Corrigi-o.

— Sim, mas teremos mais — Sua confiança é deveras contagiante. — Precisaremos também de um estúdio maior em alguns anos, porque tenho certeza que nosso trabalho árduo nos impulsionará rumo ao páreo dos melhores. E depois daí, a estratosfera é o limite.

Crossed Lines: sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora