Colors and Sounds; Único

1.8K 170 44
                                    


Era comum que, pelo menos na minha roda de amigos, quando qualquer um estivesse apaixonado ou interessado por alguém, tomar uma iniciativa, porém para mim, isso nunca foi fácil. Jimin e Taehyung riam muito disso e sempre tentavam me colocar pra cima dizendo que eu era um padrão — alto, bonito e forte — não tinha para que temer. No entanto, quando me imaginava chegando perto de alguém, e principalmente dele, essa convicção dos meus amigos parecia uma piada. Pois aquele homem, que sempre fazia suas caminhadas ao pôr do sol com o seu poodle marrom, era bom demais para ser verdade. E em minha concepção, a beleza dele era incomparável.

Ele era único!

Sei que sempre estamos em processo de aprendizagem, que dia após dia, novas técnicas e conceitos surgem e mudam a concepção de Belo e arte, mas mesmo que não saiba de tudo, não me considero um leigo, e ele… Ah, ele. Não há palavras pra descrevê-lo, não há estilo para categorizá-lo. Ele é tudo que, periodicamente, já foi citado como arte e, ao mesmo tempo, não era nada que já foi visto, pois era algo a mais. Inalcançável.  Perfeição!

E quando o vi pela primeira vez estava frustrado. Eu entrei em artes por amor. Aprendia todos os conceitos e técnicas com tanta paixão e todas as noites em claro, que passava aperfeiçoando minhas técnicas, eram abastecidas por meu velho sonho, de  ser um grande pintor, que agia como o meu combustível. Porém, depois de me formar, eu descobrir que por trás de todas as telas em branco e tintas vibrantes de aquarelas, tinha um mundo sujo, onde poder e influência era mais determinante para a ascensão de um artista  que as suas técnicas e criatividade em expressar o belo através de sua arte. Era um mundo tão corrosivo, que fugi. Minha alma e concepções eram preços caros demais para se pagar por um sonho. Todavia, não queria desistir de vez de viver da minha arte, era apaixonado, então migrei para outro setor da mesma.

Eu era muito bom com desenhos, já tinha feito uma ou duas comics para uma editora, que também publicava online, em meu período de mestrado. Então voltei, sem qualquer tipo de vergonha, pois desenhar e contar estórias, também era gratificante. E, no fim, eram os meus desenhos que me sustentava e isso era o verdadeiro pilar do meu sonho; viver da minha arte.

Porém, como disse, eu estava frustrado. Quando voltei para minha antiga editora, a vaga de desenhista que tinha era para comics Yaoi. E não me levem a mal, não é preconceito — eu sou gay — ou falso moralismo que me frustrava — afinal, a nudez e a anatomia humana também são uma expressão de arte e confesso que tinha certa facilidade em tal quesito. O que realmente vem me frustrando é a construção dos meus personagens.

Li várias comics, manhwas, manhuas e mangás Yaois em busca de inspiração para o meu desenho, afinal, era um novo universo, pois antes minhas comics eram sobre heróis e o padrão para os personagens, desta categoria, eram totalmente diferentes da categoria Yaoi. Na hora de fazer o meu seme, usei a velha concepção de meu amigos que me chamavam de padrão seme, porém, sempre que pensava em um uke, todos os meus rascunhos não pareciam bons o suficiente. Faltava algo. E meu prazo de entrega, ao menos dos esboços dos personagens principais, ou seja, o casal, já estava acabando e eu não conseguia evoluir.

Tudo era medíocre demais.

Então, no dia que o vi já era fim de tarde. Tinha  fugido das paredes claustrofóbicas do meu apartamento. Tinha passado quase vinte e quatro horas sentado em frente daquela mesa digitalizadora. A luz do sol apenas aparecia em pequenos feixes laranjas no horizonte. Era uma paisagem bonita, principalmente porque era primavera e as flores de cerejeiras caíam, pintando aquela "tela" com mais cores bonitas. E como um amante do Belo, senti um pequeno prazer ao ver algo tão bonito. Sentei por alguns segundos naquela praça e logo minha ansiedade, causada pela frustração, me tomou mais uma vez. Puxei a carteira de cigarro e logo uma fumaça turva se fez quando soprei o veneno da nicotina dos meus pulmões. Era um mau hábito, que sempre dizia que ia parar, mas quando os prazos apertavam, eu o alimentava por nervosismo, ansiedade e medo de falhar.

A Lack of Color - Yoonkook Onde histórias criam vida. Descubra agora