White roses always make me cry

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Pov Laura

A mudança não foi nada difícil. Eu ainda não tinha aberto a maioria das caixas que trouxe de São Paulo. As únicas coisas que saíram delas foram algumas calcinhas, uma calça de moletom, uma camiseta e as tigelas de ração de Catcher, que pulou no banco do passageiro do carro mais rápido que um foguete, com a coleira presa nos caninos. Só faltou apertar a buzina para que andasse logo. Minha mãe já estava deixando até o cachorro de saco cheio. Mas assim que percebeu que eu seria responsabilidade das minhas irmãs, seu amor diminuiu um pouquinho, e até gritou comigo para pôr o cachorro no banco de trás. Talvez me mandar para a casa das minhas irmãs fosse seu plano o tempo todo.

Deixei Garopaba rumo a Floripa sem um pingo de remorso, mas também não estava animada para me hospedar no "chiqueiro", apelido carinhoso que minha mãe usava para falar sobre o apartamento que minhas irmãs dividiam com mais duas amigas. Dei tchauzinhos nada animados, para um pai lacrimejante, uma avó chorosa, e uma mãe realmente feliz por me ver partir.

Pois é, fugi de novo, mas dessa vez era de mim mesma. Minhas irmãs tinham razão, eu não podia me destruir, já bastava que outras pessoas tentassem fazê-lo. Terem minha colaboração já passava dos limites. Eu tinha planos. Um monte deles. E pensei em todos durante a viagem.

Precisava arrumar um emprego urgente. Conferi de manhã minha conta bancária e vi que meu último salário tinha caído na conta, sem nenhum desconto, afinal, eu havia tirado férias de trinta dias pelo casamento, mas precisava tomar vergonha na cara e ligar para minha chefe logo, pelo menos para explicar a situação. Não que ela não soubesse, pois ela e o marido estavam sentados na igreja no dia em que meu pesadelo particular começou, mas era necessário e educado da minha parte explicar da minha própria boca que eu preferia comer pernas de barata frita a pisar em seu escritório novamente. Depois podia relaxar e tentar me divertir até conseguir vender o meu apartamento, que graças a Deus, já estava em uma imobiliária. Ari não perdeu tempo e resolveu tudo para mim na primeira segunda-feira desde que vim embora. Agora era só esperar e tentar não ficar louca morando com um monte de gente. Duas já eram demais; quatro, seria uma provação!

Cheguei ao endereço graças ao GPS do celular. A rua era linda e arborizada, com várias cerejeiras cor-de-rosa. Eu me senti calma e relaxada só de olhar. Seria uma ótima paisagem para se observar todos os dias ou mesmo para ser a última vista que eu teria do mundo se aceitasse o conselho da minha mãe e realmente decidisse pular da janela. O prédio de número mil era uma construção nova, pintada de branco. Um prédio de luxo, com certeza.

Não conseguia me lembrar do nome das colegas que dividiam o apartamento com minhas irmãs, muito menos qual delas era a dona. Engraçado, parando para pensar, nunca tive curiosidade de saber quem elas eram, nem uma fuçadinha no Facebook nem nada. Acho que estava muito ocupada com a minha vidinha "perfeita", para prestar atenção nisso, mas teria sido conveniente nesse momento. Afinal, eu ia morar com elas.

Deus permita que elas não tenham chulé, mau hálito ou a mania de deixar a caixa de leite vazia na geladeira, rezei antes de entrar. Eu prometo ser uma boa menina. E parando para pensar, o Senhor está em falta comigo, não está?

Estacionei na porta do prédio e desci sozinha para me informar sobre as vagas e pegar a chave. Tudo isso contra a vontade de Catcher, que começou a latir feito doido. Dei de cara com um senhor jovial de aparência simpática lendo um livro na portaria.

- Bom dia. - anunciei minha presença para o homem, que de pronto abandonou o livro e me olhou por cima dos óculos.

- Bom dia, querida, em que posso ser útil?

- Eu estou... - Como eu ia explicar? - Vindo passar uma temporada com minhas irmãs. - Boa, ninguém precisava saber que eu não tinha mais casa, autoestima, dinheiro, emprego ou uma geladeira para chamar de minha. - Elas disseram que estariam fora no fim de semana, mas que deixariam a chave do apartamento na portaria.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora