Pontes

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Eu a vejo queimando.
O tempo todo, todos os dias.

Construímos esta pisando em ovos,
Tomando cuidado para não ferir queira quem fosse.

Ingênuo rapaz, sempre eu fora,
Quem diria que a ponte que construí com minha alma
Servisse de passagem para terceiros acharem sua casa?
Independente se isto significasse que quebrariam com tanto prazer
Cada um dos ossos que retirei da minha fibra
E causasse a morte prematura
De quem eu poderia ter sido?

Sonhei com você ontem.
E percebi que meus pensamentos não perderam tempo
Para achar algum modo de fazer-me conectar-se-à ti
Mesmo que por um instante.

Tentaram trazer abaixo um anjo.
Eu tentei derrubá-lo também.
E, juntos, todos nós conseguimos.

A ponte caiu,
A conexão falhou,
E você caiu por completo.

Você pede por clemência e se debate pedindo ajuda,
Ciente de que nunca irá conseguir.
Portanto, ainda insiste olhar para mim,
Por entre todas as penas que foram arrancadas de suas asas
E toda a água desse profundo oceano que rachava os dois extremos,
Conectados por uma ponte.

Fizeram questão de ir até onde você estava
Apenas para te depenar por completo,
E fazê-lo cair dentre a água escura e turva do esquecimento.

Atearam fogo a ponte que nos conectava,
Entretanto, você nunca deixou de olhar para mim
Porque sabe bem onde achar conforto.

Dada fagulha de esperança,
Manteve-se forte,
Pois sabia, que no fundo,
Eu sempre fui apaixonado pelo brilho das suas asas.

E, além do mais,
Sempre nos conhecemos bem.
Não é atoa que compartilhamos do mesmo nome,
Da mesma carne,
Alma,
Mente e pele.

Dos mesmos cabelos,
Aspirações e medos,
Porque sempre fomos a mesma pessoa.

Eram tempos diferentes e, confesso,
Ainda são.

Vão cotinuar tentando calar a sua voz,
Cortar as suas asas e cobrir os seus olhos,
Pois querem, de todas as maneiras,
Te levar para as mesmas águas em que foram jogados um dia.

Destarte,
Literalmente, desta arte
Vou deixar com que você voe livre
E mostre
(Pricipalmente a mim)
O quão alto os anjos podem voar
E o quão longínquo você irá levar todas essas penas brilhantes, pois,
Finalmente, resolvi calar as vozes de fora
E escutar o mundo dentro de mim:

Nunca foi a pedofilia que cortou as minhas asas,
Muito menos quem estava ao meu lado e, mesmo assim, resolveu furar a minha pele,
Tampouco seria todas as vezes que meus pais esqueceram que eu nunca seria uma extensão de quem são,
Ou todas as vezes que terceiros disseram quem eu era,
Sem ao menos saber quem eu já fora algum dia.
Nunca foram todas as vozes que insistem em gritar para mim que sou desagradável aos seus olhos,
Que sou como homem ou mulher,
Que sou de mentira.

Não são todas aquelas mulheres que disseram não e me traumatizaram,
Nem mesmo os homens que vivem de me provar que a única coisa que fiz em todos esses anos
Foi queimar a única ponte que nunca deveria ter concordado em fazê-lo:

A ponte que me leva a quem eu sou de verdade,
Que está disposto a voar alto
Apenas para ter certeza de que, em hipótese alguma,
Seria tão alto como se fosse
Acaso tivesse escolhido continuar escutando essas mesmas pessoas,
Encaixado em buracos que mal posso ver quem sou eu,
E, finalmente, esquecer que esse momento não é absolutamente nada
Comparado a todo o universo que só eu sei que existe.

Seja qual fim essa história vai ter
Fico feliz em saber que agora
Tenho total certeza de que não sou obrigado a aceitar quem quer que seja,
Porque eu me amo.

Agora é de verdade.

[sem título]Onde histórias criam vida. Descubra agora