O LOUCO DO VELÓRIO
Era o primeiro dia do ano de 2019 e as 11 horas o meu telefone toca, acordo assustado ainda sob o efeito do álcool da comemoração do Réveillon, mas antes de atender um filme passa em minha cabeça, eu e os meus amigos fomos comemorar no clube da cidade, já que no interior de Minas as opções não muitas, tudo estava normal, exceto que o João saiu um pouco depois da meia-noite, dizendo que não estava se sentindo bem…
O telefone insistiu e ainda meio sonolento atendi e do outro lado da linha a voz trêmula e aflita de Regina:
-Eduardo, eu preciso te contar uma coisa!- começa excitante como se evitasse o choro.
-Fala logo, não precisa fazer todo esse suspense! O que aconteceu?- perguntei começando a ficar aflito.
-O João nos deixou…- não conseguiu terminar a frase e começou a chorar.
-Como assim, Regina!? Ele tava bem! Como assim? Me explica por favor!- as lágrimas começaram a cair e sem me dar conta eu já estava gritando ao telefone.
-Ele desistiu, Eduardo!- gaguejou Regina, sem para de chorar…
Fiquei um tempo em silêncio, absorvendo o sentido das suas palavras, como ela conseguiam ser tão sutil? Mesmo em um momento como aquele, João havia se matado e mesmo em lágrimas, Regina apenas me diz que ele desistiu… Mas eu queria saber mais, aguardei mais uns instantes e esperei que ela se acalmasse mais um pouco e pedi:
-Me conta como aconteceu, por favor!
-Lembra que ele saiu mais cedo, na verdade mal deu meia-noite e ele queria ir embora!- respirou fundo, buscando forças para continuar. -O Hugo ficou um pouco preocupado e assim que a gente saiu do clube; passou lá na casa dele…
-Mas continua, não havia ninguém em casa?- interrompi aflito.
-A casa estava em silêncio: ele tocou a campainha várias vezes, como ninguém atendeu, ele ficou preocupado, forçou a porta percebendo que ela estava aberta, ele entrou chamando o João, ninguém respondeu, então ele foi entrando, acendendo as luzes e encontrou o seu corpo pendurado na varanda casa…- mal terminou a frase e começou a soluçar ainda mais alto.
Nessa hora, eu já estava sentado na cama, uma das mãos segurava o celular enquanto a outra apoiava a minha cabeça, me sentia perdido e a cabeça começava a doer, as lágrimas transbordavam enquanto as palavras evaporaram. Regina percebendo a minha dificuldade, respira fundo e continua:
-Como o Hugo foi o primeiro a ver, ele teve que chamar a polícia e os pais do João… Na verdade ele não chegou em casa até agora. Ele falou que nos avisa sobre a hora do velório… Eu vou desligar, porque eu ainda vou ligar pra Carla… E a gente vai se falando!
-Tá bom, Regina! Obrigado por me avisar! Vamos tentar manter a calma né? Beijos e tenta ficar bem! Te amo muito, amiga!- respondi tentando transmitir forças pra ela!
-Tamo juntos! Beijos, também te amo, amigo!- respondeu desligando o telefone.
Joguei o meu corpo exausto na cama, parecia que tudo o que eu estava vivendo não era real, como se eu fosse acordar a qualquer momento de um sonho ruim… Então me lembrei dos nossos últimos momentos juntos, onde prometemos que a nossa amizade seria eterna e que um apoiaria o outro!
Primeiro eu senti muita raiva do João, ele não deveria ter feito isso, a gente tava do lado dele! Depois me veio uma tristeza muito grande, há dois anos que ele convivia com o HIV e a vida dele não estava nada fácil, por causa do preconceito e a discriminação.
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Vidas E Futuros
Short StoryA promessa de amizade eterna une cinco amigos entrelaçando suas vidas e futuros. Uma trilogia sobre cinco vidas envolvendo conflitos, drama, amor e muita emoção!