Coffee ice cream

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Surpreendi-me com o gesto, pois nenhuma das minhas irmãs poderia ser considerada romântica ou extremamente gentil para fazer algo assim. Eu teria que agradecê-las quando tivesse chance. Peguei a rosa com cuidado, como se ela fosse se despedaçar ao mínimo toque. Não sei bem por que eu chorava. Por dentro, estava feliz com a delicadeza. Abandonei as crendices naquele altar, mas se não fosse por isso, acharia que era um sinal. Eu estava no lugar certo.

Enquanto passava os dedos levemente pelas pétalas, repensei minha vida. Era fácil dizer "estou sofrendo", assim como demonstrar, fosse chorando pelos cantos ou quebrando objetos. Mas por que eu realmente me sentia tão desolada, era a pergunta que teimava em surgir na minha mente.

Sim, eu sempre quis me casar. Sempre acreditei naquelas baboseiras de contos de fadas e de felizes para sempre. Será que esse sonho tinha me cegado a ponto de eu não me importar com quem estaria me casando, desde que alcançasse meu objetivo? Será que o propósito era apenas colocar um vestido branco e dar alguns passos em um tapete vermelho? Será que por algum momento eu tinha pensado com clareza sobre o que vinha depois, no "felizes para sempre"?

Ryan nunca fora um príncipe encantado se eu parasse para prestar bastante atenção nas minhas lembranças. Nunca abriu a porta do carro, muito menos puxou a cadeira para que eu me sentasse, nunca me deu nenhum presente fora das datas comemorativas e, sem instruções do que eu realmente queria, nem uma única rosa, ou um bilhete, como os que escreveu para Katy. Mas mesmo assim aceitei me casar com ele, achei que seria feliz. Por quê? Já se passaram duas semanas que esse inferno começou e eu ainda não tenho nenhuma resposta para minhas dúvidas. Eu tenho certeza de que o amava, mas também sei que boa parte desse amor morreu naquela igreja. Por que eu não conseguia simplesmente aceitar os fatos? Ele não ligaria, não voltaria. Ele não viajaria centenas de quilômetros para me dizer que errou. E, infelizmente, minha vida não era um filme de mulherzinha. Eu não estaria numa Ferrari com um supergato atrás do volante se ele voltasse. Quando eu finalmente iria entender que na vida real a mocinha come o pão que o diabo amassou e nem sempre tem um final feliz?

Olhando para trás, ficava claro que eu deveria ter percebido a roubada em que estava me metendo. Nem do meu cachorro aquele cretino gostava. Como poderia casar com alguém que não gostasse do meu cachorro? Sempre limpando os pelos de Catcher do terno.

Ryan tinha me decepcionado em muitas situações, mas sempre achei que era uma fase, uma situação e nada mais. Eu não enxergava suas ações como um todo. Não reparava. Fui burra, fui sonhadora, fui inocente. Como não percebi que meu noivo e minha melhor amiga tinham um caso? Quantos olhares entre eles eu não vi por estar distraída demais sentada em toda minha autoconfiança? Quantas carícias eles não trocaram debaixo da mesa, sem pensar em mim, quando eu saía do ambiente ou quando eu demorava para chegar em casa? Quantas vezes ela desejou estar no meu lugar e não precisar se esconder? Quantas vezes ele desejou que a mulher deitada ao seu lado fosse ela e não eu? São tantos detalhes, tantos furos na minha história perfeita e mano assim não consigo me lembrar de ter notado que meu castelinho de areia estava sendo engolido pelo mar.

Imersa em meus pensamentos, acabei destruindo a rosa. Eu não queria destruí-la e chorei ainda mais por ver tamanha beleza se esvair entre meus dedos. Prometi a mim mesma que seria a última vez. Mais nada, nem ninguém teria o poder de me abalar, de me destruir, de fazer com que eu duvidasse de mim mesma a ponto de não saber mais quem era eu. Eu não ia procurar mais pelo cavalo branco. Matei meu sonho de entrar em um vestido de noiva e dizer o tão sonhado "sim". Eu não acreditava mais que alguém fosse me olhar daquela maneira que eu tanto sonhei quando as portas da igreja se abrissem, nem daria chance de isso acontecer. Não valia a pena o esforço.

Ocupei minha tarde de sexta-feira fuçando no apartamento. Descobri que havia cinco quartos, então eu provavelmente não fiz ninguém ganhar uma coleguinha com a minha súbita aparição. Observei cada porta e não foi difícil encontrar os quartos das minhas irmãs. A porta com o banner de bebidas era da Ari, com certeza. E a com a plaquinha de não perturbe era da Alondra, pois ela a tinha desde adolescente, e não fiquei surpresa ao descobrir que as duas portas estavam trancadas. Hum, monstrinhas espertas. Não tive coragem de invadir a privacidade dos outros quartos, embora não me faltasse vontade. No fim do corredor havia um banheiro com banheira. Humm...

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora