noon-chi|눈치 ∘ bts

people --myg

I flow the way water flows
At the end there might be something
Special life, ordinary life, each in its own way
What's good is good, in the end

(Agust D, People)

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Kim Taehyung se esgueirou para o meu quarto na única madrugada dos últimos meses em que decidi dormir em vez de me estressar com questões sob as quais não tenho o menor controle. Não soube o que fazer quando ele se encolheu na cama desarrumada e desatou a chorar. Desconfio que me procurou exatamente por me conhecer o suficiente para saber que somente eu, entre os seis, o deixaria em paz. Então, só coloquei uma playlist de Bach para tocar e o cobri com seu edredom favorito, que, inclusive, ele tentou vezes demais afanar de mim.

O problema é que Tae demorou muito para dormir, e apesar de meu cérebro estar quase derretendo de tanto sono, algo lá no fundo da minha consciência me convenceu de que eu deveria ficar acordado com ele. Pregamos os olhos só às quatro e acordamos às sete da madrugada. Muito saudável, igual ao restante da nossa rotina.

Já são cinco da tarde e tudo o que eu queria era a minha cama, sem o Taehyung nela, de preferência. Depois de exatos 27 dias calado, Hoseok trocou a pilha do papagaio que vive dentro dele e voltou a preencher absolutamente toda forma de silêncio com algum barulho desproporcionalmente desnecessário. Eu não ligaria se fosse qualquer outro dia que não este, quando meu cérebro parece prestes a fazer um buraco no meu crânio e sair quicando pelo chão.  

Nosso diretor de agenda está nos explicando qualquer coisa para a qual não dou a menor importância, enquanto Namjoon faz milhões de anotações em um minicaderno. A cada minuto que - não - passa fica mais difícil manter meus olhos abertos. Eu definitivamente preciso de mais férias, e que o horário do jantar chegue logo.

"Sabe, eu gosto quando deixam a gente conhecer as fãs de perto."

Jungkook solta, do nada, como se tivesse acabado de acordar de um devaneio, pronunciando as palavras com aquele bico engraçado que nos faz querer socá-lo e abraçá-lo ao mesmo tempo. Respiro fundo e me ajeito na cadeira sem entender o que está acontecendo, porque passei os últimos 40 minutos me questionando sobre todas as más escolhas que já fiz na vida, e se esta, na qual me encontro agora, é uma delas.

É no mínimo interessante a forma como Jungkook decidiu encarar tudo isso. Acha tudo muito bom e divertido. Quando fica cansado nos tira do sério com piadas extremamente sem graças e umas manhas de maknae, mas nunca reclama de nada. Olho para seu rosto coberto por uma máscara preta e tento decifrar essa alegria toda, não sei se não consigo, porque é genuíno o brilho nos seus olhos, ou porque há camadas demais escondendo suas sombras.

"Yoongi- ah! Aish, acho que ele pifou mesmo, pessoal."

Jimin balança sua mão pequena na frente dos meus olhos e eu a agarro no ar para fazê-los rirem. Os sorrisos tranquilos estampados nos seus rostos  sempre afastam de mim todo o tipo de pensamento desistente que eu venha a ter.  

 -🌹-

Não sei como cheguei aqui.

E eu não me refiro apenas ao espaço pequeno cheio de staffs barulhentos e um tapete vermelho, com uma foto enorme e embaraçosa de nós sete colada na parede às nossas costas.

Eu era entregador antes, moto-boy pros íntimos. Vim de um lugar tão promissor que os dois maiores cases de sucesso do bairro são meu melhor amigo, que está preso tem mais de anos, e eu, que virei Idol. Eu sei, não é ético xingar a própria profissão, mas não é culpa minha, é dos meus vários 'eus' que não param de causar confusão aqui.