Acordei e estava um alvoroço e o maior falatório,
Essa tal de “sexta preta” e nem é finados, nem velório.
Desconfiado me perguntei o que eu precisava comprar,
Se tinha algum vazio a ser preenchido,
Algo que ficou no caminho, ou que eu tenha esquecido.
Interessante, está aí um dia que olharam menos pro celular,
Corriam as pessoas, com sorriso largo e olhos vidrados.
Embarquei nessa onda, também queria sorrir,
Nadar nessa corrente, sentir o frenesi.
Fui de loja em loja, eu já sabia, não me fiz de rogado,
Vi todas as vitrines e não encontrei a minha tal promoção,
Queria um Amor por metade do preço que se paga, que nos dias ruins me desse um desconto,
Aceitasse minhas manias, respeitasse os meus valores, minha poesia, minha pouca ambição,
Recebesse em carinho, nem sequer calculasse o meu saldo bancário.
A vendedora disse que o último parecido já tinham levado no ano passado,
Mas tinha ainda alguns corações avariados que me fariam de otário,
E que corresse porque era uma pechincha e outro comprador já tinha reservado.
Saí de mãos vazias, observando um senhor abraçado com uma TV,
Outra senhora andando orgulhosa com um liquidificador,
Então fiquei confuso e pensativo, jurava que tinham “coisificado” o amor,
Voltei pra casa com meu único vazio, sabendo que está em falta na praça, mas com uma firme constatação:
- Pode até parecer, mas é mera aparência, conveniência, alguma espécie de fuga, falando tanto em coisa é outra coisa aí de dar dó, no final das contas pagas é melhor estar só, o Amor não se compra, nem nas liquidações, tampouco em lojas de grife, nem no mercado de pulgas ou em um simples brechó.
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Transtorno Poético
PuisiPoesia patológica, verso subversivo, sob o crivo do enredo. O poeta tenta apreciar a vista, ele não é atração, tampouco artista, sofre disso.