Capítulo XIX

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– Euzébio... Você veio? ... – Indagou a mulher, ainda encarando Guto.

Guto permaneceu calado, assustado com aquilo. A delegada, por sua vez, incomodada com a situação, ordenou.

– Levem-na daqui, tranquem ela em uma das celas, logo eu cuidarei disso.

Os policiais saíram, levando a mulher, que dessa vez seguiu sem proferir uma só palavra. Nathalia, inquieta com a situação, indagou.

– Quem é essa moça? Moradora da região?

– É um louca, que diz ser bruxa. Mora na mata, em uma pequena cabana... Bom, na verdade, morava, porque pelo o que pudemos perceber, ela ateou fogo na própria casa.

– Bruxa? – Indagou Guto.

– Na verdade, está mais para curandeira... Planta ervas medicinais e as vende para os moradores da redondeza... Ao menos para as pessoas que não têm medo dela... Como vocês puderam ver, a aparência dela é um tanto... Incomum...

– Você a conhece? – Questionou o padre Sílvio, direcionando a pergunta a Guto. – Ela olhava para você enquanto pronunciava aquele nome...

– Não a conheço... Mas, o nome... É o nome de um familiar meu... – Comentou Guto.

– Não é qualquer familiar, Guto é ...
Antes que Nathalia concluísse a frase, foi interrompida por Guto, que, olhando para ela, fez um sinal de negação com a cabeça.

– Bem, deixemos de lado a bruxa, como eu lhes disse, ela é louca e não convém falar sobre ela.  – Disse a delegada Hanna. – Você me disse que queria falar comigo, certo? Qual a situação?

– Eu posso conversar com ela? – Interrompeu, mais uma vez, o padre Sílvio.

– Quer falar com a louca? – Indagou a delegada.

– Eu sou padre. Quem sabe eu possa fazer alguma coisa por ela. Prometo não demorar.

– Isso é perigoso, padre, não conhecemos ela e... – Comentou Nathalia que, mais uma vez, foi interrompida, dessa vez pela delegada.

– Não se preocupe quanto a isso. A mulher é indefesa, ainda que seja surtada. – E olhando para o padre, continuou. – Isso não é costumeiro, não tenho o habito de permitir que isso aconteça, mas por conta de sua condição, deixarei que fale com a mulher. Alan, venha até aqui. – Disse a delegada a um dos policiais que estavam ali. – Acompanhe esse homem até a cela em que a "bruxa" se encontra, deixe-os a sós, mas fique atento para o chamado dele.

O policial apenas assentiu e, em seguida, levou o padre até a cela. Guto e Nathalia permaneceram conversando com a delegada. Ao chegar onde a bruxa estava, Padre Sílvio a encontrou sentada no chão, no canto daquele pequeno cômodo, que tinha apenas uma cama, uns livros, uma pia e um vaso sanitário. A mulher parecia assustada e quando avistou o padre, assustou-se ainda mais.

– Podemos ter uma conversa? – Perguntou o padre, ao entrar na cela.

A delegada Hanna agora estava buscando os arquivos de quinze anos atrás. Não precisou de muitas explicações até resolver que queria ajudar Guto a encontrar respostas. Contudo, após uma pequena busca, não obteve sucesso.

– Sinto muito. – falou a delegada. Infelizmente não encontrei os registros que você busca.

– Como assim não encontrou? – Indagou Nathalia.

– Eles têm que estar ai, em algum lugar. – completou Guto.

– Vocês dois mantenham a calma. – Pediu a delegada Hanna. – Um ano antes de eu assumir o posto de delegada, essa delegacia sofreu um incêndio. Até hoje não sabemos a causa, mas o fogo consumiu a maior parte dos registros, poucos foram salvos e, pelo que pudemos ver, o que vocês procuram virou cinza.

– Só pode ser brincadeira... – Comentou Guto, decepcionado.

– Eu sinto muito, meu caro. – Comentou a delegada. – O que mais posso fazer para ajudá-los?

Antes que Guto pudesse responder, o padre Sílvio adentrou a sala, chamando a atenção de todos.

– E então? – A delegada foi a primeira a questionar – Conseguiram conversar? A louca deu alguma brecha?

– O que eu pude perceber, no decorrer da conversa, é que ela é uma mulher muito perturbada. Conversamos bem pouco, depois ela dormiu. Está lá, dormindo e eu sugiro que a deixem assim, ela precisa descansar.

– Dormiu? – A delegada pareceu surpresa. – Que estranho... Enfim, que bom que tudo ocorreu bem.

Padre Silvio apenas assentiu e não falou mais nada. Guto ainda estava impaciente e triste em saber que não encontraram os registros dos casos de seus irmãos. Nathalia, curiosa, resolveu instigar.

– Qual o próximo passo? – Indagou a Guto.

– A fazenda... Nós teremos que ir à fazenda. 

– Tem certeza que é isso que você quer?

– Sim, eu tenho, Nath. Devemos ir o quanto antes.

– Está bem.

Nathalia assentiu para Guto e, em seguida, para o padre. Ambos se despediram da delegada e, mais uma vez, pegaram a estrada. Guto estava calado, aflito. Não tinha como fingir estar confortável com aquela situação. Voltar à fazenda era algo que ele estava tentando evitar a qualquer custo, mas agora já não tinha como. Mais uma vez passaram em frente à propriedade do velho xerife, mas toda a casa se encontrava fechada. Seguiram a viagem e com mais alguns longos minutos estavam estacionando em frente à fazenda. Guto sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo. Lembranças do ocorrido de quinze anos atrás preencheram sua mente. Estava se sentindo zonzo, incomodado. Saiu do carro, mas sentiu que suas pernas estavam trêmulas. Caiu de joelhos no chão, assustando Nathalia que prontamente correu em sua direção.

– Guto, o que houve? Você está bem?

– Nath... Me perdoa... – Guto estava com um aspecto pálido. Seus lábios estavam brancos e suas mãos muito frias, fazia esforço para falar. – A granola... O mecânico... Me desculpa.

Foi tudo o que Guto conseguiu falar. Revirou os olhos e caiu desmaiado.


Descendência Malter (Em processo de revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora