Pela janela

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Olhei pela janela mais uma vez. Eram  inúmeras tentativas de que algo mudasse ao meu redor, todas em vão. A chuva transcendia um frio incomum e meu corpo já não suportava mais, busquei amparo no calor impotente de minhas mãos, lancei meu olhar em direção contrária à chuva, hesitei. Senti gotas d'água trilharem meu rosto e entrelaçarem meus dedos. A chuva nunca foi tão fria e tão cruel. Desejei que aquelas nuvens cinzas fossem bolhas de sabão e que o céu voltasse a ser azul. Não consegui retomar a intensidade das cores, deixei que meu interior desbotasse e que a chuva lá fora dissipasse todos os pigmentos. Com um de meus dedos, tracei vestígios de um coração ao vidro lustroso da janela, talvez fosse a única coisa em que restava brilho ali. Abdiquei de motivos para mudar de cômodo e fechei portas que se abriram para mim. Lutei mais vez contra o frio, e senti a aflição de estar inábil. Perdi meus estímulos e deixei-me cair ao chão nocivo e impetuoso. Senti gosto de fel e mal podia permanecer de olhos abertos. À medida que a chuva caía, me rendi aos pedidos que meu corpo ouvia constantemente. Agora só haviam barulhos, ruídos quase inaudíveis e um aroma que eu jamais conseguiria definir. Foi então que algo se apossou do emaranhado de meus cabelos e fez dali o seu lar. Abri meus olhos com uma mistura de deslumbre, medo e um universo inteiro de dúvidas. Como era possível? Ainda restara algum vigor? Do trajeto de meus cabelos até minhas mãos ainda gélidas e impotentes, uma borboleta. Seria a primavera?

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⏰ Última atualização: Mar 17, 2020 ⏰

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