28.

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dezoito de setembro

Acordamos cedo. Íamos nos arrumar no quarto da minha mãe. Tínhamos uma equipe completa só pra nós ajudar. A decoração já tinha sido colocada no dia anterior. A comida já estava sendo preparada.

Bia estava com semblante pensativo. Eu sabia que tinha acontecido a recaída novamente. Dessa vez quem não fez silêncio foram eles. Os dois tinham falado com minha mãe que não tinham problemas em entrarem juntos. Eu acreditava em uma volta.

— Bia, — a chamei de lado quando tive oportunidade. — O que foi?

— Tivemos outra recaída. Mas conversamos depois.

— E ai?

— Acabou mesmo. Eu estou em São Paulo, eles vão pra Curitiba. Por mais eu abra a mão de morar junto e tudo, ele não está disposto a namorar a distância.

— Bia, talvez não seja o momento. Só isso.

— Não sei. Acho que já é hora de seguir em frente. Talvez uma despedida e colocar um ponto final.

— Você disse isso a ele?

— Ainda não tive coragem.

Depois de todas arrumadas, e fotos tiradas, ainda estávamos adiantadas. Nada como uma equipe bem preparada. Faltavam apenas vinte minutos. Minha mãe me chamou de canto.

— Hoje é o último dia que estamos juntas. Amanhã eu saio em lua de mel, e você vai voar também. Vai morar com alguém que ama. Faz pouco menos de um ano, e você renasceu. Cresceu. Eu me orgulho da menina mulher que você se tornou. Eu não esperaria nada menos que isso. Sei que seu pai e sua irmã estivessem aqui, estariam orgulhosos de você também. Eu só queria te dizer que te amo. E te agradecer por tudo que você fez pra esse dia. Você é a melhor filha que uma mãe poderia ter.

Abracei a minha mãe. Ela era a melhor mãe que eu poderia pedir a Deus.

A cerimônia começou, entrou Miguel acompanhado de Carol, em seu terno branco, os quatro casais de padrinhos. Apenas dois para cada.

E minha mãe. Que estava deslumbrante. O vestido estava perfeito nela. E seu sorriso iluminava o ambiente. Eu estava assistindo de dentro da casa, de onde tinha a visão para o jardim. Até a hora de eu entrar.

Eu e o Luan levaríamos as alianças. Enquanto o Luan cantava "mesmo sem estar".

— Os vestidos estão lindos. Você e a Bia arrasaram.

— Obrigada. Já parou pra pensar que a partir de amanhã levaremos uma vida de casados?

— Já. Estou ansioso.

— E eu nervosa. Você acha que é fácil te aguentar?

— Hahaha engraçadinha.

A cerimônia andava tranquila. O juiz de paz realizava um breve discurso. Luan segurou a minha mão, piscou para mim, e me abraçou. Ficamos assim até o momento de entrarmos.

— Você chegou, e fez presença. — Minha mãe começou seus votos. — Eu nem sabia que um amor me faria tão bem. Eu sou grata por você ser tão maravilhoso. Respeitar a memória do Joarez, cuidar de mim, e fazer planos comigo. Sou grata por você mudar a minha vida. Me fazer sentir mulher novamente. Pra esse novo ciclo que se começa em nossas vidas, eu prometo trabalhar pra que o amor sempre vença, prometo lhe respeitar a cada respirar. Prometo te trazer felicidade, e ser seu ombro em momentos difíceis. Prometo ser sua companheira e parceira. Eu te amo.

Ela terminou com lágrimas nos olhos.

— Há um ano eu te vi pela primeira vez. — Miguel então começou — E pra algumas pessoas pode parecer rápido, mas só nós sabemos o quanto esperamos. Esperamos pra nos encontrar. Quando bati os olhos em você, sabia que tudo seria mais feliz a partir daquele momento. Não te prometo o mundo, mas prometo fazer de você o meu. Não te peço pra me dar tudo, pois você já é tudo que preciso e quero. Em um ano eu já te amo tanto, que não sei como caberia mais amor. Mas ainda sim cabe. Prometo te amar a cada dia. A cada piscar de olhos. A cada suspiro.

O amor dos dois irradiou aquele casamento. A leveza e tranquilidade. Eu sempre sonhei em ver a minha mãe daquele jeito.

Luan tinha me contado que recrutou Bia e Bruna pra ajudar na organização do nosso casamento. Eu não tinha uma pista de nada. Confesso que estava curiosa.

— Luan, — puxei ele pra mesa que estavam as duas, — vamos brincar.

— Endoidou. — Bia delicada como um coice de mula pra variar.

— Sério. Estamos nós quatro aqui. Eu sou uma noiva e vocês são os três que tem pista do meu casamento. Podiam me dar umas informações.

— Você que topou a surpresa, Jade. Nem eu, nem elas vamos te falar nada!

— Nem a data?

— Só digo uma coisa, — Bruna começou a falar, recebendo um olhar torto do Luan. — está mais perto do que você imagina, e mais longe do que você pensa.

E com esse enigma, ela saiu puxando a Bia que estava dando risada.

dezenove de setembro

Acordei com o corpo do Luan em cima do meu. Eu nem sabia onde estávamos. Olhei em volta e reconheci meu quarto na minha casa. Suspirei. Foi minha última noite nesse quarto. Eu ainda voltaria a essa casa, já que Miguel tinha passado todos os terrenos pro meu nome e agora era oficialmente meu. Mesmo com a casa pros filhos dele.

A verdade é que eu, Felipe e Carol criamos um vínculo de irmãos mesmo. Eu jamais deixaria de amá-los. Não importava que o terreno fosse meu, aquilo tudo ali era nosso.

Levantei com dificuldade, tirando o Luan de cima de mim. Depois das minhas higienes matinais, conferi a geladeira. Ainda tinha muita coisa. Preparei um café da manhã reforçado. Pra ver se diminuía o volume. Ninguém entraria naquela casa por pelo menos quinze dias.

Acordei o dorminhoco, que devorou boa parte da comida. Mas ainda sim, tinha sobrado coisa demais. Bufei.

— O que foi?

— Você tá vendo o quanto de comida ainda tem, Luan? Não sei o que vou fazer com isso tudo. Se eu deixar aqui, estraga até minha mãe poder vir. E eu detesto jogar comida no lixo. Tem tanta gente precisando.

— Tem uma caixa que dê pra colocar tudo isso?

— Por que?

— Temos três horas até nosso voo. Podemos deixar naquela ONG que tem a caminho do aeroporto.

— Você vai me ajudar a colocar tudo na caixa?

— Não. Eu vou colocar enquanto você termina de arrumar as suas coisas. A partir de hoje, somos casados. Não no papel, mas somos. Então, sou seu parceiro. Tô aqui pra te ajudar.

O abracei. Eu sabia que teria que valorizar. Homens como o Luan não se acha em qualquer esquina.

Sim, ele era teimoso, as vezes criança. Adorava ser mimado. Sim, ele tinha seus defeitos. Mas cada um deles o tornava mais perfeito ainda.

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