Everything can always get worse

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Depois de constatar imediatamente que eu era um poço de burrice, tudo se tornou muito colorido e foi sumindo do meu campo de visão pouco a pouco. Isabele realmente estava parada perto da mesa? Sofia realmente voou da cadeira e colocou as mãos no meu rosto com tamanha rapidez e precisão? Tudo parecia um sonho, ou um pesadelo. Tentei entender o que Sofia falava, mas sua voz soou muito distante e então... escuridão completa! A última coisa que me lembrava de pensar era, pelo amor de Deus, não posso ir para o hospital, vão ver o meu calçolão gigante, e a droga da calcinha ainda era bege.

Acordei ao som de um bip-bip-bip muito irritante.

Eu estava lúcida o suficiente para entender que o colchão de pregos era uma maca de hospital e que eu definitivamente devia ter dormido muito tempo, porque era dia do lado de fora da janela.

- Sente-se melhor? - A voz veio da minha direita. Meu rosto ainda estava inchado, porque demorei a conseguir virar o pescoço para a dona da voz.

- Como se tivesse sido atropelada por um caminhão - respondi e ela riu. - Três vezes.

- Imaginei. O inchaço já começou a diminuir e não deve demorar muito para que você possa voltar para a casa. - Disse levantando-se. - Talvez mais algumas horas. Tenho que atender um paciente que deu entrada na emergência enquanto você dormia, mas volto assim que possível, tudo bem?

- Você é médica?

Não, gênia, meu inconsciente me respondeu. O jaleco é parte de uma fantasia que você está alucinando devido ao excesso de uma droga psicodélica chamada palmitocodeína.

- Sou. Eu estava de folga, mas já que estava aqui não precisaram chamar outra cardiologista para atender o paciente.

- Desculpe fazer você perder o dia de folga - disse arrependida.

- Você me fez perder a noite também. Não parou de chegar gente na emergência - respondeu abrindo a porta e dando um último aceno.

Eu não estava mais arrependida.

Sofia saiu do quarto, mas novamente seu perfume ficou no ambiente. Se eu a achei sexy dirigindo, nem queira saber que tipo de barbaridades passaram pela minha cabeça com ela vestida de médica. Mas me obriguei a parar de alucinar de forma consciente. Esse tipo de fantasia nunca acabava bem, e eu ainda queria um lugar para morar por mais algumas semanas. Mas a garota era uma idiota. Fora que a beleza dela rebaixava a minha. Nunca daria certo. Trouxe-me para o hospital, cuidou de mim e jogou na minha cara na primeira chance que teve, e também deve ter rido horrores com as enfermeiras às minhas custas. Virei de lado para tentar voltar a dormir.

Foi quando eu vi.

Um ramalhete de rosas brancas no criado-mudo.

Não consegui pegar no sono.

Sofia voltou meia hora depois alegando estar cansada de ficar dentro do hospital e que me daria alta só para poder ir para casa tirar um cochilo. Disse ela que eu ronco e que não a deixei pregar o olho a noite inteira (não que a poltrona do acompanhante ajudasse em alguma coisa). E lógico, quem não roncaria com o rosto duas vezes o tamanho normal?

- Você poderia ter voltado para sua casa, eu ficaria bem. - Disse mais tarde, enquanto ajustava o cinto de segurança.

- Para você me dedurar para suas irmãs e eu acabar em pedaços no freezer junto com o meu sorvete? Nem pensar.

- Me diz que você não ligou para elas. - Ah, por favor, por favor.

- Claro que não. - Ufa! - Eu estava esperando para ver se você ia sobreviver, enquanto já me adiantava procurando passagens aéreas com um preço acessível para a Colômbia, caso isso não acontecesse.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora