Capítulo 1

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     Era mais um dia de ronda, estavam todos aflitos como de costume, o pessoal já conseguia ouvir a música tocar, o novato estava animado e até feliz por estar ali. Esse se chamava Thiago, nascido e criado em bairro nobre do Rio de Janeiro, era um cara frio, e tinha acabado de entrar no departamento de polícia, essa era sua primeira ronda. O comandante deu ordem para começar a operação, Thiago desceu do veículo e começou a circular, não demorou muito para achar algo de errado, Thiago tinha avistado um rapaz negro furtando um celular, ele foi em sua direção com sangue nos olhos, deu a voz de prisão, e o jovem assustado começou a correr, Thiago o seguiu, mas se perdeu no meio da multidão, até que viu um vulto entrando em um beco, já sabia ele que era o criminoso, então foi atrás, enquanto corria em direção ao beco sacou a sua arma, quando chegou não deu outra, era mesmo o ladrão que tinha entrado lá, Thiago no calor do momento efetuou um disparo, mas errou, tinha nem noção aonde aquela bala foi parar, o bandido medroso se jogou no chão e começou a tremer, Thiago achou aquilo até que engraçado, se aproximou do criminoso e apontou a arma, e foi naquele momento que surgiu lembranças do assassino de sua irmã, o ladrão se parecia com ele, era negro, magro e alto, Thiago o olhou com nojo e a raiva subiu a cabeça, ele disparou mais duas vezes contra o rapaz negro, o garoto morreu na hora, no caminho de volta ele nem sequer se arrependeu do que fez, na sua forma de pensar, bandido bom era bandido morto, Thiago voltou para casa naquela madrugada, e nunca foi julgado pelo que fez.

"Tome cuidado filho", disse a mãe de Pedro antes dele sair do portão de casa, sem se importar com o que ela dizia, foi ele e seus amigos para o baile que ia ter, ele estava tão animado, esperava aquele dia a semanas, e apesar da situação difícil e da pobreza, ele queria se divertir. Pedro era um jovem negro, bonito, e conhecedor das malandragens. O Funk era como um energético musical para Pedro, ele não conseguia ficar parado. Durante a festa ele já estava meio bêbado, mas ainda consciente, aquilo tudo estava tão bom, tão divertido, aquele baile estava ótimo, e dava para perceber isso com o sorriso estampado no rosto de Pedro, estava sendo incrível aquele noite, até o momento em que Pedro viu aquele celular em cima da mesa, maldito seja aquele celular, era caro, dava para perceber, aquilo daria para pagar as contas atrasadas em sua casa, sua mãe ficaria feliz. Então Pedro que já era esperto pegou o celular e se afastou, ele só não sabia que estava sendo vigiado. Eu sinceramente não sei como, mas aquele policial surgiu do chão, de um segundo para outro ele apareceu e deu voz de prisão a Pedro. Dava para ver suas pernas tremer, Pedro morria de medo, e sem pensar direito, começou a correr, ele esbarrava na multidão do baile, e o policial logo atrás o perseguindo, Pedro conseguiu manter uma boa distância, e entrou em um dos becos daquela favela, nunca tinha corrido tanto na sua vida; pensou que tinha despistado o policial, quando do nada ele apareceu na entrada da viela, estava armado e ofegante. Sem pensar nas consequências ele efetuou um disparo na direção de Pedro, por sorte a bala passou reto, o policial não tinha nem noção onde aquele tiro foi parar, e nem se importou. Pedro assustado com o barulho se jogou no chão, estava sem defesa e tremendo de medo, enquanto o policial se aproximava, Pedro pedia a Deus por misericórdia, pois já sabia ele o que estava para acontecer, o homem o olhou com nojo, e atirou mais duas vezes, Pedro não teve nem escapatória, morreu na hora, sem direito a julgamento ou defesa própria, a última coisa que via era o olhar de repugnância do "homem da lei", ele não entendeu o por que daquele olhar, mal sabia ele que era por causa de sua cor, mas isso já não importava mais, afinal, Pedro já estava morto.

Carlos caminhava pelas vielas do Rio de Janeiro, aquela era uma madrugada até que agradável, mas apesar disso, a sua filha estava com dores pelo corpo, e sua esposa o mandou à farmácia para comprar algo, ele podia escutar de longe o som do Baile Funk que tocava em algum lugar daquele morro, quando ele entrou na farmácia, o atendente o olhou desconfiado, dava para perceber o medo no ar, Carlos pediu um Paracetamol, pagou a conta e foi embora, trilhava o mesmo caminho da ida, quando começou a escutar alguns sons vindo de suas costas, com medo, ele acelerou o passo, mas já era tarde demais, um dos sons que ele tinha escutado era o do desespero, o outro, era do racismo, e o último, era o som de um tiro, mal sabia Carlos que aquele tiro que ele escuta seria fatal, de alguma maneira aquela bala foi parar em seu peito, ele caiu no chão, e começou a agonizar, porém a maior dor que ele sentia não era a do tiro que levou, mas sim de saber que iria deixar sua filha e esposa sozinhas nesse mundo, sem ao menos se despedir, e mesmo que ele virasse aquele Paracetamol inteiro, essa dor não poderia ser amenizada. Carlos morreu sozinho naquela viela, olhando para a lua enquanto chorava, escutou mais dois tiros antes de partir, o ruído dos disparos ainda ecoava pela favela quando só pedia a Deus que cuidasse das pessoas que ele amava, e esse foi seu último pedido.

Quem está certo ou errado eu não sei, meu objetivo era escrever os três lados da mesma história, agora interprete, acredite e reflita como quiser.

Paulo César

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⏰ Last updated: Mar 18, 2020 ⏰

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