Contos do gato do azar

O gato do azar e o banqueiro.

Eu trabalho no banco, como bancário. Minha função é escutar os vários e complicados problemas das pessoas, dos clientes, e de algum modo quase milagroso, resolver seus problemas.

E quase milagrosamente, consigo resolver a maior parte desses problemas, desde " meu canário comeu meu cartão..." , até "paguei todas as prestações, mas me disseram que o dinheiro foi para o lugar errado...", consegui consertar a merda que fizeram nesse último caso...

Más, tive que providenciar um enterro para o canário, que morreu por comer o cartão do banco...

...esse canário e seu apetite exótico custou algum dinheiro do meu bolso.

Más, também! Está na lei de direitos humanos e defesa dos animais, que todos os seres da face da terra saibam e sejam precavidos, não se envolvam com bancos! E ainda,os seres mais puros não devem ter contato algum com materiais bancários, sujeito a morte por estresse ou intoxicação mental, apenas por tocar no dito objeto. É pior que antraz...

É preciso uma licença especial para os funcionários de banco poderem ter animais de estimação, e de todas as variedades de animais que existem, só podem ser obtidos os do porte de pittbull, urubús e piranhas para cima. E se for anfíbio, é exigido que seja uma espécie venenosa, de preferência que seja mais venenosa do que os juros mais altos que o banco cobra de seus clientes, desse jeito o animal não vai sucumbir a peçonha que é liberada de seus donos.

Existem até promoções para os animais mais venenosos e perigosos. As najas assustadiças, por exemplo, é quase de graça... apenas 800 reais. Lógico que apenas para os banqueiros é quase de graça, 800 reais para nós não passa de uma gorjetinha...

Existem bancários que encomendam najas mansas contrabandeadas, isso é um grave delito, se for pego, não se preocupe, a naja não será confiscada, más "eles" , a organização temida dos bancários que tem animais, o zoonoses, a levam por mais ou menos um mês para treinamento antibancário e fortalecimento da intensidade do veneno, para própria sua sobrevivência. Elas voltam com trauma de funcionários dos bancos, irritadiças e sua peçonha expele algum tipo de veneno que abre buracos em pisos de madeiras, elas nunca mais aceitam carinho de seus donos.

Não é por causa da radiação nuclear que nossas casas são todas feitas de chumbo, é para podermos ter animais de estimações. Embora todas elas sejam totalmente invulneráveis a radiação...   um bônus a mais. Curiosamente, o veneno que derreteria as entranhas de qualquer ser vivo normal, é como vitamina para os bancários. Em conseqüência, os cabelos dos bancários, em sua maioria, é muito sedoso e lustroso. Todos os outros animais que não são venenosos devem ter aplicado periodicamente um poderoso antídoto, do contrário morrerá em um ou dois meses. Antídoto que causaria coma em qualquer outro ser vivo mais frágil...

Para ter a licença é preciso passar em um teste de psiquiatria, teste de drogas, em que será 100% reprovado, claro. Teste de ódio recebido pelos animais, em que só se passa com nota 6, numa escala até sete, no máximo de ódio.

Eu não tinha nenhum desses animais, até porque meu nível de intoxicação é de tal modo intenso, que até as najas "reforçadas", não duram sequer uma semana comigo. Embora sempre quisesse ter alguma companhia. Alguém escutou meu desejo, não quero saber quem foi que escutou e o atendeu, até porque o diabo está me devendo uma quantia absurda por causa do contrato que ele fez comigo! Ele está em saldo devedor que soma a quantia de mais de quatro países em crise média, ele anda me evitando, fingindo que não me vê quando o vejo pela rua. Ele abaixa a aba de seu chapéu negro, tenta disfarçar sua cauda e orelhas pontudas, apressando o passo...

   Certa noite, de sexta-feira treze, escutei uma lenda entre os bancários, uma lenda que corria de boca em boca, ás vezes com temor e outras vezes com cobiça.