Entre Diamantes

Capítulo 12 (extra) - Nunca foi o que quis

Estava quase na hora do voo, me despedia animada dos meus pais. Desde o início sempre foram contra eu estudar em outro país. Eu seria aluna de intercâmbio, estava tão ansiosa para minha nova vida. Ficaria durante alguns meses em um hotel, nesse meio tempo já iria procurar estágio e um lugar para morar. A ansiedade fazia meu estômago ferver. Li tanto o dicionário de inglês, só precisava praticar a pronúncia. Ficar longe de um país em crise seria a melhor solução por enquanto. A França estava passando por momentos difíceis, as ofertas de emprego estavam cada vez mais escassas.

Nunca imaginei que minha nota naquela prova que fiz pela internet, me daria uma bolsa no melhor colégio da América, queria muito conhecer. Era ótima na língua local, bom pelo menos na escrita. Tentei treinar a pronuncia sozinha, mas foi algo que não deu muito certo. Por questão de segurança decorei o dicionário inteiro, mas sempre levava ele comigo.

A viagem estava um tédio, a saudade da família já apertava no peito, misturada com aquela reviravolta no estômago por causa do voo. Só via nuvens e nuvens. Peguei meu fiel companheiro, o dicionário, e comecei a ler mais algumas palavras, queria ter muita certeza do que ia falar. Um pouco cansada adormeci no banco.

Acordei com a aeromoça anunciando que chegamos. Sério que nem senti? As pessoas já havia descido, fiquei por último, ainda bem sonolenta. Mas que mulher linda, era bem alta, com um corpo de dar inveja. Os olhos claros, verdes pra ser exata, que vontade de falar com ela, mas eu morria de vergonha do meu sotaque francês, apenas virei meu rosto e segui em frente. Senti o mesmo queimando de vergonha.

(....)

Longe dos pais, nunca senti tanta liberdade, queria tanto pintar meus cabelos de rosa bem claro. Eles eram um tom de castanho claro, curtos e bem arrumados. Minha pele bem clara e meu corpo bem magro. Me considerava até sem corpo, apesar de tudo não perdia a vaidade, usava roupas bem delicadas, como vestidos, saias e outras coisas suuuper femininas. Mas claro que adorava variar.

Recém completei quinze anos. Estudar em outro país sempre foi um sonho. Por sorte meus pais sí tiveram dinheiro pra pagar minha viagem, não iria gostar deles por perto. Estava morrendo de vontade de libertar meu lado gay preso a muitos anos, desde os onze, pra ser exata. Nunca tive interesse algum em homem, apesar de meus pais sempre me jogarem pra cima de alguns garotos ricos da vizinhança, já que minha beleza simples sempre foi um agrado entre os rapazes.

-Nariguda.- dizia Jamie, um garoto francês que estudou comigo, compartilhamos o mesmo sonho e infelizmente ele passou também na prova. Aliás, ele que me incentivou a fazer a prova.

-Vai falar francês mesmo aqui? Seremos tratados como turistas.- revirei os olhos.

-Nariguda.- ele riu ainda me xingando, meu nariz era um tanto pontudo, talvez arrebitado e ele sempre me zoava por isso.

-Pare com isso.- franzi a testa.

-Estou doido pra comer donuts, disseram que é muito bom.. tem açúcar pra caralho.- aquele projeto de bigode dele era muito agonizante, nem ao menos eram pelos grossos, apenas fiapos, pareciam sujeira.

-Claro.- nem prestei atenção, eu juro, aquela coisa agoniava até minha alma.

-Imagine as meninas que poderíamos ter.- colocou a mão em meu ombro, sempre que ele fazia isso imaginava longe. A propósito, ele era meu único amigo, ou pelo menos o único que falava comigo, além de ser o único que sabia sobre minha opção sexual. Esse infeliz me viu beijando uma garota, nem sabíamos direito fazer aquilo.

-Alice Pearl Hansoa. Não parece um nome francês.- disse um cara lendo um papel, claro que ele falou em sua língua local, mas eu consegui compreender, entendia a língua muito bem.