um dia onde tudo está diferente

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preparem os lencinhos, chaennieszinhas!!!

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Jennie sempre aparecia na minha casa assim que eu chegava da escola.

Ela sempre trazia um prato de comida todo decorado que ela mesma preparava com tanto carinho, todo dia eu encontrava ela sentada na calçada gasta da rua apenas esperando que o ônibus me trouxesse. Mas, dessa vez ela não estava ali quando eu voltei e muito menos trouxe algo para comermos juntas porque ela não veio.

Jennie sempre ligava quando não podia me encontrar depois da aula por precisar resolver algo no centro da cidade. Fielmente, ela telefonava e íamos conversando dessa maneira enquanto eu ia fazia alguma lição de casa qualquer. Nossas ligações só eram encerradas quando Jennie pisava dentro da minha casa com uma alegria inigualável segurando o meu sabor de sorvete preferido nas mãos, ela sempre comprava quando esses imprevistos aconteciam.

Era uma forma de me recompensar por termos perdido o tempinho que era tão importante para nós por estudarmos em períodos diferentes. Nessa tarde ela não ligou e nem me surpreendeu ao chegar, então eu tive que continuar sentada sentindo o amargo da ausência dela ao invés da doçura que sempre acompanhava sua companhia.

A noite, Jennie sempre fazia questão de passearmos pela vizinhança. Em alguns dias andávamos abraçadas e sem rumo enquanto desabafavamos uma com a outra, em outros íamos no museu do bairro para nos divertir tentando adivinhar o significado das obras. Fazíamos isso juntas, por isso quando o céu escureceu e ela não saiu para compartilhar da nossa rotina tão especial meu coração apertou e não me importei em levantar do chão acimentado.

Nesse dia eu não andei e nem fui ao museu.

Em todas madrugadas Jennie sempre pegava um cobertor quentinho e me arrastava para baixo da árvore grande que havia no quintal de sua casa. Nós ficávamos deitadas contando estrelas e carinhos até que dormiamos naquele lugar tão seguro para nós totalmente envoltas pelo amor que sentiamos uma pela outra. Dessa vez isso não aconteceu. Essa madrugada assim como o dia inteiro foi diferente.

Ao me dar conta bati desesperada no portão da casa dela. Eu chorei tão alto que acordei o vizinho, assim como durante toda a semana ele avisou que você não estava mais ali, Jen. Com a expressão dolorosa disse que uma ambulância entrou e te levou de mim.

O senhor com a voz enbargada tocou meu ombro com a mão que agora pesava uma tonelada, mas não mais do que suas palavras:

"Ela foi encontrada com os remédios na mão, sem vida... Próxima da árvore."

Era a sétima vez que ouvia aquela notícia. Já fazia uma semana que as palavras brincavam com a minha mente e doía mais toda vez que era dito. 168 horas desde que você se foi.

Eu tento o encarar, mas tantas lágrimas embaçavam minha visão que apenas enxergo alguns borrões em meio a dor aguda crescente no meu peito. Eu gemo em negação e deixo o soluço alto sair por minha garganta como resposta.

De alguma forma esperava o momento em que eu fosse desmaiar de dor. Não!... De amor... Amor por você, Jennie! Porque você não está mais aqui para que eu despejar todo ele em você.

Eu não sei o que fazer. Começo a gritar mandando ele parar de mentir desejando que a altura dos meus gritos fosse capaz de me despertar desse pesadelo.

Não dá certo. Eu continuo ali totalmente perdida num mundo onde você não existe mais.

Sem rumo, vou até o nosso lugar seguindo uma nova rotina que se estabeleceu desde que você partiu. Com raiva por não ter percebido tudo sento na grama abraçando meus joelhos.

bolinho de batata | (oneshot) chaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora