Jungkook estava cansado de ser aquele típico fantasma ambulante. Será que seus cabelos pretos eram tão sem graça assim? Mamãe dizia que eram macios e sedosos, brilhantes como raios de luz.
Se eram realmente tão extravagantes, por que ninguém nunca lhe direcionava o olhar?
Seu jeito de vestir era comum, o jeito de andar, a forma de conversar, ele era comum até demais. Conversava com todos os professores, era um aluno exemplar, muito cuidadoso e bastante tímido. Nunca esqueceria da vez em que seu poema foi elogiado por Carlota Hill, na época a forma da do terceiro ano. Aquele dia Jeon foi parado por ela no meio do corredor, pensou que a garota tinha se confundido de pessoa, mas quando os delicados dedos repletos de anéis folheados a ouro tocaram suas mãos, Jungkook pode sentir seu corpo desfalecer. As bochechas se esquentaram tão rápido, Jungkook não conseguia entender nenhuma palavra que saia da boca de Carlota, estava ocupado de mais com a sensação de tremedeira que suas pernas lhe transmitiam.
Depois daquele fatídico dia onde a formanda mais bela da escola tinha segurado em suas mãos e declarado amor eterno ao seu poema, Jungkook nunca mais foi o mesmo. Era como se a pequena crise de timidez tivesse se transformado numa grande bola de neve, e conforme Jeon empurrava aquele problema para longe, a bola crescia e crescia cada vez mais. Alguns "sintomas" que passou a ter com frequência durante sua caminhada à formação estudantil foram: manter a cabeça e olhares baixos, se encolher toda vez que alguém - que não fosse sua irmã - se aproximasse para uma conversa.
Devido a esse e outros acontecimentos constrangedores, Jungkook passou todo seu período de seu ensino fundamental e médio sendo o perfeito cosplay de Gasparzinho. Quem dera a piada fosse relacionada ao tom de pele claro que possuía. Na verdade, Jungkook não passava de um fantasminha que ninguém se dava o trabalho de dar alguma bola. Abaixar a cabeça e se encolher já não eram apenas sintomas, aqueles gestos faziam parte de quem Jungkook havia se tornado.
Mas já não se importava mais se as pessoas conheciam ou não seu nome, nem ligava para o fato de o tratarem como se fosse um aluno novo durante todos os inícios de ano. Infelizmente o moreno só se sentia mal quando ele não o notava.
Taehyung poderia ter feito um supletivo, assim não seria um dos únicos alunos do terceiro ano que estava na faixa dos vinte e dois. Ele não era um garotinho qualquer. O Kim era definitivamente um homem, todos o chamavam de maconheiro, traficante, drogado e afins. Era certo que o mais velho possuía uma aparência duvidosa, sempre vestia roupas escuras e largas, a pele bronzeada era marcada por tatuagens negras algumas já desgastadas, outras novinhas como se gritassem "fui feita recentemente e custei caro!".
Mas a fama de drogado deu-se ao fato do cara sempre aparecer com uma bituca de maconha entre os dedos. Todas as manhãs, os raios de sol nem mesmo chegavam a nascer, mas o cheiro de maconha já se alastrava pelo ambiente escolar, principalmente a esquina da da Rua Nashville, onde ficava encostado com seus amigos á espera do início das aulas.
-- Vamos lá Jungkook, faça isso por sua irmã, sim? - Jennie arqueou as sobrancelhas bem feitas enquanto esbanjava um sorriso infantil. Jeon se amaldiçoava todos os dias por ter uma meia irmã metida a emotiva cheia de aegyos que o deixavam completamente a mercê.
Estavam ali parados naquele corredor cheio de alunos e armários. Kim Jennie poderia ser comparada a tal Carlota de quatro anos atrás, era formanda e uma garota muito bonita, possuía um corpo lindo, daqueles que se vêem em revistas de "mulher pelada". Ambos compartilhavam a mesma mãe, mesmo que fossem apenas meio irmãos, acabavam se tratando com uma mistura de amor e ódio, muito afeto e inevitavelmente algumas brigas. Jennie eram alguns meses mais velha, tinha um espírito arteiro e muito sapeca. A personalidade da Kim era um tanto quanto forte, rebelde seria o termo correto.
-- Eu não gosto de festas!
-- Você não precisa entrar lá maninho, é só ir me buscar quando eu te ligar.
-- Não sou seu motorista particular - o moreno queria poder dar umas boas palmadas naquela garota, mas sempre que o sorriso gengival dela surgia, o rabo de Jungkook abaixava-se e ficava entre as pernas. Ele era um irmão bem trouxa, um tremendo de um bobão.
-- Vamos Jungkook, Taehyung e mais uns caras vão estar lá essa noite, eu não posso perder.
A vontade de distribuir palmadas estava voltando a tona.
-- Você sabe de que laia o Taehyung é não sabe? - o revirar de olhos que Jennie dera foi tão profundo que seus glóbulos poderiam ter escapulido para fora da face.
Poucas coisas estressavam Jungkook, mas naquele momento o cheiro doce e o barulho dos saltos daquela bota cara que sua irmã usava estavam o deixando a beira do surto. Não conseguia deixar de pensar também que ela tinha posse daquilo que mais queria no momento. Taehyung na palma da mão.
-- Taehyung não é bem um criminoso, ele só é um usuário comum, super gente boa e muito gostoso, não sei por que você tem tanta raiva dele.
Tenho raiva por que eu quero dar pra ele, mas ele não me nota. Respondeu Jungkook somente com pensamentos pois não tinha coragem de despejar aquilo em alto e bom som. Sem querer prolongar muito a discussão, e também por começar a sentir o cheiro de maconha a se intensificar, dinak de que o Kim estava por perto, apenas acenou positivamente como se falasse um "beleza você venceu!", deu as costas caminhando até sua sala.
Os pais de Jungkook eram bastante unidos, algo do tipo tradicional. Organizavam almoços nos feriados e finais de semana, chamavam a família e amigos para jogarem papo fora. Jeon odiava ter que aturar seus primos irritantes, os que tinham sua idade ficavam quietos na deles, os menores pelo contrário adoravam entrar em seu quarto e bagunçar sua estante de bonequinhos da Marvel.
Como toda família grande, seus pais pegavam muito no seu pé - e no de Jennie também - em relação a notas e bom comportamento, tanto na escola como na presença das visitas, queriam ter motivos gratificantes para contar aos familiares nos almoços programados, "Jungkook começou a fazer aulas de francês!", "Jennie vai apresentar o lago dos cisnes no balé!", "Jungkook e Jennie fecharam esse semestre com as melhores notas!"
Apesar da necessidade constante em manter a boa aparência, seus pais eram bastante liberais, não tinham problemas com festas e saideras, gêneros e namoricos. Mas como Jungkook poderia ser livre - e dar sua bela bunda pro Kim - se todo seu tempo era composto por, aulas de francês, inglês, espanhol e chinês, nos finais de semana ia para as aulas de taekondo e box, sem contar que nos tempos livres praticava canto e instrumentos musicais, a dança era um hobbie que fazia escondido dos pais, estes que não aceitariam por ser algo "inútil" para vida futura do mais novo.
Jennie entretanto era repreendida muitas vezes, principalmente pela mãe que conseguia farejar o resquícios de maconha nas blusinhas decotadas da Kim. E mesmo que fosse engraçado ver a irmã gaguejando na tentativa de explicar de onde vinha aquele cheiro, no fundo Jeon se sentia mal pois sabia que vinham do Kim. Não era burro, sabia que Jennie estava dando praquele drogado. E queria tanto, mas tanto!, ser ele no lugar da irmã.
Aquela noite os Jeon's saíram para beber com outros amigos que fizeram parte da época de colegial - aquela tal festa de reencontro entre alunos. Jungkook não pensava que um dia seus pais iriam em algo assim, quando não estavam na empresa, via-os enfurnados em casa, assistindo filmes no quarto enquanto conversavam sobre como havia sido o dia de cada um. Mesmo que aquele repentino encontro fosse estranho, sabia que os pais não iriam beber nem nada do tipo, eram "certinhos" demais. Mas Jennie naquela noite iria virar todos os copos que pudesse.
Chegava a ser irônico, seus pais reprimiam a bebida, porém davam toda a liberdade necessária para que ele e sua irmã fossem em festas e se embebedassem. E se isso acontecesse, nenhum familiar poderia saber, era proibido contar sobre as saideras. Sua irmã era tão imprevisível que a qualquer momento poderia chegar completamente bêbada durante um almoço em família, não teria ideia de como seria a reação de seus pais, mas seria interessante ver a máscara de ambos caírem.
Inacreditável, ela nasceu com a bunda escancarada pro universo ... pensou Jungkook quando sua meia irmã descia os últimos degraus com um pulinho seguido de um rodopio, mostrando o lindo conjunto que iria pra festa.
-- Você vai sair de calcinha e sutiã mesmo?
-- Mas eu to de shorts e ... Seu idiota! Nem tá tão curto assim!
-- Magina, eu só to vendo metade da sua vagina sendo esmagada por esse paninho preto brilhante - Jungkook se jogou no sofá segurando a vontade imensa de enrolar o tapete felpudo do chão no corpo esbelto da irmã.
-- Você é tão exagerado Jungkook - Jennie balançou sua chave de casa entre os dedos encaminhando-se para fora, antes de sair gritou -- Vou te ligar quando estiver na hora de ir embora, melhor atender essa porra de celular em!
E Jungkook, de braços cruzados, afundou-se contra os estofado, desejando internamente que o sofá lhe engolisse para uma outra dimensão, na qual seu cosplay de fantasminha nunca teria existido e Jeon Jungkook seria alguém legal, estiloso e atraente aos olhos das pessoas. Principalmente aos olhos dele.
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Someone. [𝒕𝒂𝒆𝒌𝒐𝒐𝒌]
Fanfiction[𝑪𝑶𝑵𝑪𝑳𝑼𝑰́𝑫𝑨] Jeon Jungkook sonhava com o dia em que aquele esquisitão de sua escola fosse lhe prender contra a parede de um beco qualquer para beija-lo violentamente. Queria viver seu drama, sanar todos os desejos reprimidos. Estava cansado...